Antes, polícia havia registrado caso como se Rodrigo Roque tinha agredido o governador num ato político

Um mês após ser agredido e detido por discordar da opinião do governador André Puccinelli (PMDB), candidato à reeleição, o montador de acessórios de carro Rodrigo Campos Roque, de 23 anos, conseguiu, enfim, registrar o boletim de ocorrência como vítima. Agora, Puccinelli pode figurar também como autor e ser processado pelo STJ (Superior Tribunal de Justiça), já que tem regalia por ser governador.

A suposta agressão aconteceu dia 21 de julho, na rua Arapoti, no Jardim Aero Rancho, em Campo Grande. Era fim da tarde e Roque conta que havia saído do serviço e decidiu parar na feira livre que acontece nas quartas-feiras, naquele local. Estava em companhia de alguns amigos. O governador se aproximou e começou a argumentar, pedindo votos.

Segundo narrou Roque, o governador disse: “Vocês veem os jornais, só falam bem de mim, que estou na frente nesta eleição”. O jovem discordou e disse: “Os jornais não falam só bem do senhor, alguns jornais falam que o senhor rouba também”.

Ao ouvir isso governador teria desferido um tapa no rosto do rapaz, que em seguida foi detido e levado ao Cepol (Centro de Polícia Especializada), onde permaneceu até as 2 horas da madrugada do dia seguinte. Lá, a história se inverteu.
O policial Antonio Barbosa da Silva, que prendeu e levou Roque, narrou um fato diferente, assegurando que o governador é que teria sido vítima de agressão.
O delegado de plantão, Paulo Henrique Sá, negou-se a registrar ocorrência contra o governador. Só Roque figurava no boletim como agressor.

Roque tentou outras vezes registrar o Boletim de Ocorrência, mas não conseguiu. Foi preciso protocolar um requerimento junto à 5ª Delegacia de Polícia Civil, no dia 22 de julho, e aguardar até 18 de agosto para só então ter o direito de prestar queixa. Roque reafirmou o que já tinha dito à imprensa e também em extenso depoimento a uma entidade de defesa dos direitos humanos: não agrediu, antes foi agredido; não deu tapa no rosto do governador, e sim o governador que o acertou; não chutou a perna do governador, mas sim esbarrou nela ao se desequilibrar pela agressão sofrida.

STJ

Com o laudo de corpo de delito que apontou lesões nos pulsos por conta das algemas durante a prisão e o boletim de ocorrência protocolado na 5ª delegacia de Polícia da Capital, o caso deverá ser levado para o Juizado Especial Criminal e depois para o Superior Tribunal de Justiça (STJ), já que o governador possui foro privilegiado devido ao cargo que ocupa.

Segundo o delegado José Luis Satolani, ainda faltam ser ouvidas as testemunhas de defesa e de acusação e o próprio governador André Puccinelli, para que o inquérito seja finalizado e se ofereça denúncia. Não há prazo para que isso aconteça. O delegado deixou claro que o processo seguirá o trâmite normal, e que há muitos outros casos na frente.