Com o slogan “pior que tá não fica”, o palhaço Tiririca é a aposta do PR para as eleições parlamentares deste ano no Estado de São Paulo. Apesar da polêmica – e dos risos – que seus bordões vêm despertando no horário eleitoral, a presença do na campanha obedece a uma lógica simples: conquistar o maior número de votos possíveis para que eleger a si mesmo e a outros candidatos por meio do quociente eleitoral.

O cientista Rubens Figueiredo, da USP (Universidade de São Paulo), explica como funciona:
“O Estado de São Paulo tem 70 deputados federais. Vamos supor que São Paulo tenha 700 mil votos. Dividindo 700 mil por 70, o quoeficiente seria de 10 mil. O partido vai ter 30 candidatos: soma a votação de todos mais os votos na legenda. Vamos supor que deu 22 mil. Agora divida 22 mil por 10 mil – vai dar 2,2. O partido vai eleger dois deputados”, detalha.

Num dos casos mais curiosos, a vaga de Clodovil Hernandes (PTC-SP) na Câmara Federal foi ocupada por Paes de Lira (PTC), coronel da reserva da Polícia Militar, assumidamente conservador e contrário à união homossexual (“a Constituição é clara ao dizer que casamento é entre homem e mulher”, afirmou).

Homossexual assumido, o estilista Clodovil, que faleceu no início de 2009, foi eleito com quase 500 mil votos nas eleições de 2006, abrindo as portas para que Lira chegasse a sua suplência após ter recebido cerca de 7 mil votos. “Você tem essa possibilidade de a locomotiva se eleger arrastando o restante”, afirma o cientista político David Fleischer, da UnB (Universidade de Brasília).
“O Tiririca [humorista, candidato a deputado federal em São Paulo] é do PR, que era o PL do Valdemar Costa Neto”, diz Figueiredo. Dependendo da votação do humorista, Costa Neto, que renunciou em 2006 para escapar de cassação por envolvimento no escândalo do “mensalão”, pode ser eleito a tiracolo.

Em outro caso emblemático, o cardiologista Éneas Carneiro elegeu-se deputado federal pelo Prona de São Paulo em 2002. Recorrendo ao bordão “Meu nome é Enéas”, obteve votos suficientes para eleger outros cinco candidatos, todos com votações inexpressivas.

O especialista da UnB explica que a “sobra” dos votos só vai para um único partido se ele não estiver coligado com nenhuma outra agremiação – caso do Prona em 2002. “O pessoal fala no PR do Tiririca, mas os votos nele também vão beneficiar o PT”, afirma o especialista. Os dois partidos estão coligados no Estado de São Paulo. “Por isso as pessoas se frustram nas eleições: votam em um candidato e acabam contribuindo para eleger alguém que não conhecem”, diz.

Vantagens da fama

Na maioria das vezes, há um elemento determinante para que a candidatura das personalidades seja aceita por um partido: a notoriedade.
“No governo militar, Arena e MDB fizeram o maior assédio para o Pelé ser candidato em São Paulo, mas ele recusou”, relembra Fleischer. “Na Roma antiga, era proibido ser ator e politico. É muito fácil transferir seu prestigio de um ramo para o outro”, conta Luciano Dias, do IBEP (Instituto Brasileiro de Ciências Políticas).

O fenômeno, garantem os analistas, não se restringe as nossas fronteiras.
“Não é tipicamente brasileiro. A participação de celebridades é comum. Ronald Reagan [ex-presidente dos Estados Unidos] era ator, Arnold Schwarzzeneger, ator, é governador da Califórnia, Carlos Reutemann [ex-piloto argentino] foi presidente de província na Argentina, Cicciolina [ex-atriz pornô] se elegeu na Itália”, afirma Figueiredo. “É um fenômeno da sociedade moderna”, avalia.