Prisioneiro chinês é premiado com Nobel da Paz
O dissidente chinês Liu Xiaobo, que está preso, foi agraciado com o Prêmio Nobel da Paz 2010 por sua “longa luta não violenta pelos direitos humanos na China”, informou nesta sexta-feira (8) em Oslo o Comitê Nobel, que irritou as autoridades chinesas com sua decisão.O governo chinês declarou que a escolha de Liu “viola” a […]
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O dissidente chinês Liu Xiaobo, que está preso, foi agraciado com o Prêmio Nobel da Paz 2010 por sua “longa luta não violenta pelos direitos humanos na China”, informou nesta sexta-feira (8) em Oslo o Comitê Nobel, que irritou as autoridades chinesas com sua decisão.
O governo chinês declarou que a escolha de Liu “viola” a integridade do Prêmio Nobel da Paz.
“O Prêmio Nobel da Paz deveria ser concedido àqueles que trabalham para promover a harmonia étnica, a amizade internacional, o desarmamento e os encontros de paz. Estes eram os desejos de (Alfred) Nobel”, declarou em um comunicado o ministro das Relações Exteriores chinês.
“Liu Xiaobo foi condenado por violar a lei chinesa e sentenciado à prisão pelos órgãos legais chineses”, destacou. “Suas ações vão contra o propósito do Prêmio Nobel da Paz. Entregando o prêmio a esta pessoa, o comitê Nobel violou e ultrajou o prêmio”.
Liu, de 54 anos, foi detido pela primeira vez após os célebres protestos do movimento estudantil na praça da Paz Celestial, em Pequim, em junho de 1989, violentamente reprimidos pelo governo.
Entre 1996 e 1999, foi enviado a um campo de “reeducação pelo trabalho” por defender a reforma política e a libertação dos estudantes que participaram dos protestos de 1989 que permaneciam presos.
Liu foi preso novamente em 2008 por ter sido um dos 10.000 signatários da Carta 08, petição formulada para exigir reformas políticas no regime comunista chinês.
Em dezembro de 2009, o dissidente foi condenado a 11 anos de prisão por “subversão”, em um julgamento que gerou uma onda de protestos por todo o mundo.
“Estou tão feliz, estou tão feliz, não sei o que falar”, disse à AFP por telefone Liu Xia, mulher do dissidente, que ficou sabendo da premiação através de amigos.
“Quero agradecer a todos por apoiar Liu Xiaobo. Quero agradecer ao Comitê Nobel, a Vaclav Havel, ao Dalai Lama e a todos aqueles que defendem Liu Xiaobo”, afirmou, referindo-se ao ex-presidente tcheco e ao líder tibetano, que apoiaram a candidatura do dissidente ao Nobel.
“Peço firmemente que o governo chinês o liberte”, acrescentou Xia, informando que a polícia disse que a levaria no sábado para a província de Liaoning, onde seu marido está preso, para contá-lo sobre o prêmio.
Ao anunciar o prêmio, o presidente do Comitê Nobel, Thorbjoern Jagland, afirmou que a China, segunda maior economia mundial, deveria assumir “mais responsabilidades” devido a seu cada vez mais importante papel no cenário internacional.
Segundo Jagland, a escolha do dissidente foi motivada “por sua longa e não-violenta luta pelos direitos humanos e fundamentais na China”. “Faz muito tempo que o Comitê Nobel da Noruega considera haver um estreito vínculo entre os direitos humanos e a paz”, acrescentou.
Pouco após a divulgação do prêmio, o ministro francês das Relações Exteriores Bernard Kouchner publicou um comunicado pedindo a libertação de Liu Xiaobo.
“A França, assim como a União Europeia, expressa sua preocupação desde que foi detido, e já pediu sua libertação reiteradas vezes. A França reforça este apelo”, indicou Kouchner, afirmando que Liu Xiaobo “encarna a defesa dos direitos humanos em todo o mundo”.
A Anistia Internacional (AI), por sua vez, fez um apelo ao governo chinês para que liberte todos os presos políticos. Para Catherine Barber, subdiretora da AI para o Pacífico Asiático, Liu Xiaobo é um “vencedor digno” do Prêmio Nobel.
No entanto, este “só poderá fazer diferença se provocar mais pressão internacional sobre a China para libertar Liu, junto com outros vários presos de consciência que apodrecem nas prisões chinesas por exercer seu direito à liberdade de expressão”, estimou.
Em uma de suas últimas entrevistas, Liu disse ter esperança de assistir à progressiva democratização da China. “Vamos avançar muito lentamente, mas não será fácil conter as demandas de liberdade, tanto das pessoas comuns quanto de membros do Partido (comunista)”, estimou.
O Prêmio Nobel da Paz é tradicionalmente entregue em Oslo no dia 10 de dezembro.
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