PF suspeita de fraude cambial na Sadia

Uma investigação da Polícia Federal pode adicionar elementos novos na história da derrocada da Sadia. A PF apura a suspeita de que a companhia usou operações bancárias vinculadas a exportação para praticar fraudes cambiais -entre elas, a retirada de dólares do país de maneira disfarçada.Documentos que integram o inquérito apontam que a Sadia recorreu a […]

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Uma investigação da Polícia Federal pode adicionar elementos novos na história da derrocada da Sadia. A PF apura a suspeita de que a companhia usou operações bancárias vinculadas a exportação para praticar fraudes cambiais -entre elas, a retirada de dólares do país de maneira disfarçada.
Documentos que integram o inquérito apontam que a Sadia recorreu a uma operação bancária chamada ACC (Adiantamento de Contrato de Câmbio), que antecipa recursos para quem exporta, sem comprovar que realizou todas as exportações que lastreavam esses contratos. A investigação corre sob segredo de Justiça, mas a Folha obteve cópias de partes dessa documentação.

A suspeita é que a empresa tenha usado os ACCs para tirar ou trazer dólares ao país, conforme a necessidade. A Sadia sustenta no inquérito que as operações foram regulares.
O ACC é muito usado por exportadores porque os juros cobrados podem chegar à metade das taxas habituais, já que tem como garantia o contrato de venda do produto exportado.
Os ACCs investigados são anteriores à crise global que abateu a Sadia em 2008, mas podem fornecer uma explicação adicional para a bancarrota.

Em maio de 2009, a empresa, enfraquecida, fundiu-se com a rival Perdigão para criar a BR Foods, gigante com 120 mil funcionários e R$ 22 bilhões de faturamento anual. A primeira providência da BR Foods foi levantar recursos na Bolsa para cobrir os rombos da Sadia. Só em ACCs havia buraco de R$ 1,65 bilhão. Havia também outras dívidas ligadas a crédito à exportação, de R$ 1,37 bilhão.
Segundo três especialistas em operações financeiras ouvidos pela Folha, a dívida de R$ 3 bilhões pode ter relações com eventuais fraudes cambiais. No caso dos ACCs, se a exportação que a empresa usou para receber o adiantamento tivesse sido feita, não haveria dívida.

Na crise financeira após a quebra do banco Lehman Brothers, em 2008, a Sadia anunciou perdas de R$ 2,48 bilhões, a maior nos 64 anos da companhia à época. A empresa dizia que as perdas eram resultado de apostas erradas em contratos cambiais de alto risco (derivativos). A investigação sobre as antecipações das exportações aponta que pode haver outro componente no rombo.
Marcelo Ribeiro da Silva, ex-executivo da corretora Concórdia, que pertencia à Sadia, contou à polícia que estranhava o volume de ACCs e que não “pode afirmar com certeza que as mercadorias referentes a aqueles contratos tenham sido embarcadas ou não”.

O depoimento do executivo foi dado à Polícia Civil, numa investigação que corria em paralelo à da PF. No último mês, a Justiça determinou que a apuração da Polícia Civil seja juntada à da PF.
Outro executivo da corretora disse à Folha que, à época da crise de 2008, a Sadia chegou a emitir US$ 60 milhões em ACC em um dia, enquanto a exportação diária oscilava entre US$ 5 milhões e US$ 10 milhões.

A BR Foods, empresa criada com a fusão da Perdigão com a Sadia em 2009, informou por meio de nota que não iria comentar a investigação da Polícia Federal.
Nos depoimentos que prestaram à PF, os executivos da Sadia têm repetido que todas as operações com ACCs (Antecipação de Contrato de Câmbio) foram legais.
Procurado pela Folha, o executivo Marcelo Ribeiro da Silva, que foi sócio da corretora Lira, não quis se pronunciar.

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