A decisão do governador André Puccinelli (PMDB) de apoiar José Serra (PSDB), candidato à presidência da República, causou estranheza entre os integrantes do Diretório Municipal do PT de Corumbá, por conta da luta de São Paulo em cobrar o ICMS do gás natural importado da Bolívia, em detrimento ao Mato Grosso do Sul, e em especial a Corumbá, por onde entra o produto. Todos acreditavam que devido à intenção de Serra em tirar o ICMS do gás do Estado, André declararia seu apoio à petista Dilma Rousseff.

“O Serra tenta tirar o ICMS do gás do Mato Grosso do Sul desde 2005. Em 2009, ele entrou com uma ação na Justiça para cobrar R$ 600 milhões da Petrobras, relativos ao não recolhimento do imposto do gás natural importado da Bolívia, e que é responsável por aproximadamente 15% da receita do nosso Estado. Isso causaria maior perda ainda para Corumbá. Todos nós sabemos que a nossa principal receita vem do gás que entra por aqui, tanto é que o escritório da Petrobras, no Estado, possui sua sede em Corumbá”, afirmou Wilton Gomes Panovitch, presidente do Diretório municipal petista.

Ele lembra que, a partir do momento em que Serra passou a cobrar a Petrobras na Justiça, o então governador paulista reiniciou uma briga com Mato Grosso do Sul, governado já na época por André Puccinelli. “Apesar dele (Puccinelli) ser adversário declarado do PT no Mato Grosso do Sul, acreditávamos que ficaria neutro, mesmo porque, Michel Temer, do PMDB, é o vice na chapa da Dilma Rousseff. Mas, nada disso. Decidiu apoiar o Serra, dando mais uma demonstração de que não gosta de Corumbá, já que o maior prejudicado, caso o Estado perca o ICMS do gás para São Paulo, sem dúvida, será o nosso município”, acentuou.

Panovitch lembra que a “briga” pelo ICMS do gás é antiga. Santa Catarina e o Rio Grande do Sul já questionaram a cobrança e o Supremo Tribunal Federal já deu parecer entendendo que o imposto deve ser pago na origem, por onde entra o produto, no caso, Mato Grosso do Sul, por Corumbá.

Outro petista que questiona o posicionamento de Pucinelli é Arturo Ardaya. Para citar o caso, ele lembra agosto do ano passado, quando Serra decidiu levar a Petrobras na Justiça. “Todo mundo noticiou o fato na ocasião, afirmando que caso São Paulo insistisse na demanda e conseguisse abocanhar parte do ICMS do gás, estaria em risco a parceria até então bem encaminhada entre José Serra – candidato a presidente da República – e André Puccinelli, da ala peemedebista que nunca se entrosou perfeitamente com o PT”, observou.

“O assunto foi bastante divulgado e até a Folha de São Paulo, jornal de grande circulação no País, divulgou que, em virtude disso, seria complicado André apoiar exatamente o nome que pretendia tirar recursos do Estado (Mato Grosso do Sul) e pode, diretamente, enfraquecer sua administração e criar obstáculos a sua reeleição. Hoje, ele já está reeleito, mas antes disso, tentou de todas as maneiras vincular o presidente Lula na sua campanha para governador”, comentou.