O governo de Moçambique considera a visita da presidente eleita, Dilma Rousseff, ao país um indício de que a África vai seguir como uma das prioridades da política externa do Brasil. “Que melhor sinal de continuidade no relacionamento poderíamos ter se não este?” – indagou o ministro dos Negócios Estrangeiros e Cooperação, Oldemiro Baloi.

A presidente eleita acompanhará o presidente Luiz Inácio Lula da Silva na última visita dele à Africa, na semana que vem (dias 9 e 10). Ambos ficarão por dois dias em Maputo, capital de Moçambique, antes de seguir para o encontro dos líderes do G20 (as 20 maiores economias do mundo) em Seul, na Coreia do Sul. “Será um privilégio muito grande que ela, logo depois da eleição e mesmo antes de sua posse, venha a Moçambique”, disse Balói, na saída da reunião semanal do Conselho de Ministros moçambicano.

De acordo com ele, o esforço do governo Lula em fortalecer os laços comerciais, de amizade e cooperação com a África foi reconhecido em todo o continente. “Com o presidente Lula, a política externa do Brasil teve enfoque muito grande na África, algo sem precedentes”, afirmou. “Nos diferentes fóruns em que tenho participado – da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC, a sigla em inglês)), ou da União Africana, por exemplo – isso tem sido notado.”

A agenda oficial da visita a Maputo ainda está sendo finalizada, mas um dos compromissos é a visita ao local onde será instalada uma fábrica de remédios contra a aids. A primeira máquina a funcionar, uma emblistadeira (que molda e embala comprimidos), chegou a Moçambique na semana passada e está sendo montada.

Lula e Dilma devem conhecer o local onde a fábrica vai funcionar: um galpão ao lado de uma fábrica de glicose e soro fisiológico do governo moçambicano, que está sendo adaptado para receber o laboratório.

Instalada a primeira máquina, os técnicos moçambicanos passam por um treinamento. Até março, os outros equipamentos já comprados pela Fundação Oswaldo Cruz (que fará a gestão técnica da planta) irão chegar. Seis meses depois, a fábrica começa a embalar remédios e em mais seis, passa a produzir antirretrovirais. Além de remédios antiaids, está programada a produção de medicamentos contra a tuberculose e a malária.

O presidente Lula divulgou a intenção de auxiliar no projeto durante sua primeira visita ao país, em 2003. O Congresso brasileiro só autorizou o gasto (R$ 13,6 milhões) em dezembro do ano passado. Neste ano, Moçambique fez a concorrência para as obras de adequação do espaço. Esse é apenas um dos cerca de 150 projetos de cooperação que o Brasil mantém com países africanos.

O presidente também dará uma aula magna na Universidade Pedagógica de Moçambique, a primeira instituição de fora do país a integrar a Universidade Aberta do Brasil, que forma e qualifica educadores por meio do ensino a distância.

São apenas dois dos mais de 150 projetos de cooperação que o Brasil mantém ou apoia na África. Além da Fiocruz, instituições como a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), a Empresa de Tecnologia e Informações da Previdência Social (Dataprev), o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) estão envolvidas nas iniciativas.

Muitas empresas brasileiras também fortaleceram suas operações na África nos últimos anos. Na semana passada, a Petrobras anunciou a descoberta de petróleo em Angola. Há cerca de 20 dias, a mineradora Vale lançou a pedra fundamental de uma mina de cobre na Zâmbia.

As construtoras Camargo Correa, Odebrecht, Constran e Andrade Gutierrez, além da montadora Marcopolo, da Empresa Brasileira de Aeronáutica (Embraer) e do grupo Votorantim, são alguns dos conglomerados brasileiros que trabalham no continente. Outros, como a fabricante de papel e celulose Suzano, estudam a possibilidade de instalar unidades. Além das operações locais, as exportações brasileiras para a África triplicaram entre 2002 e 2008.

“É bom termos parceiras fortes entre os emergentes”, ressalta o ministro dos Negócios Estrangeiros moçambicano, lembrando que além do Brasil, a Índia, China e África do Sul têm estreitado o relacionamento com o continente. “Temos identidade em vários temas internacionais. E ainda há muito trabalho a fazer e sinergias a aproveitar e criar”, completou Balói.