Novata, Dilma obedece aos veteranos do PT
Sorocaba, 2 de março. Na inauguração de uma fábrica de tratores, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva passa o capacete das mãos de um soldador para as da ministra Dilma Rousseff (Casa Civil). Ela imóvel, Lula recomenda: “Coloque o capacete”. “O capacete”, insiste Lula. Leia também: Câmera da Nasa captura ‘bola de fogo’ no […]
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Sorocaba, 2 de março. Na inauguração de uma fábrica de tratores, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva passa o capacete das mãos de um soldador para as da ministra Dilma Rousseff (Casa Civil). Ela imóvel, Lula recomenda:
“Coloque o capacete”.
“O capacete”, insiste Lula.
A ministra cumpre e as câmeras fotográficas disparam. Minutos depois, o presidente sugere que Dilma monte numa colheitadeira “para fotos”.
Testemunhada por políticos e dirigentes da empresa, a cena é só uma amostra da disciplina que a ministra exibe em pré-campanha pela Presidência.
Dona de temperamento forte, a pré-candidata do PT tem revelado, em campanha, extraordinária obediência aos companheiros mais rodados -como Antonio Palocci, general oculto da campanha.
Sem experiência eleitoral, segue todos os ensinamentos. No dia 5 de março, na Bahia, o presidente parou a comitiva presidencial diante de um umbuzeiro. Chamou Dilma.
“Vou fazer sua iniciação na caatinga”, brincou Lula. Ao pé da árvore, conversaram com moradores locais. Mais fotos.
Uma semana depois, Lula solicitava a presença da ministra ao seu lado durante visita a uma fábrica do Paraná. “Em alguns momentos, fiquei ao lado dela porque nem sempre dá para acompanhar o ritmo de Lula. Ela ficava para trás”, conta o senador e pré-candidato a governador Osmar Dias (PDT).
A devoção de Dilma não se restringe ao presidente Lula. Na semana passada, em São Paulo, a ministra cumpriu, religiosamente, as orientações da ex-prefeita Marta Suplicy (PT).
Após a entrega de troféus no aniversário do Jockey Club consultou Marta Suplicy: “Acabou a solenidade? Posso ir embora?”, perguntou. “Não”, orientou a ex-prefeita petista, “Estamos esperando o padre”. “Ah, o padre”, disse Dilma.
Elas se referiam ao padre Marcelo Rossi, ao lado de quem Dilma foi levada ao público, composto em boa parte por fiéis do santuário do Terço Bizantino. Diante de um bolo, a ministra ouviu, de pé, à celebração do padre, com a apresentação de suas músicas e a oração da Ave Maria.
Minutos antes, Dilma foi questionada sobre como preferiria ser conduzida do salão às arquibancadas do Jockey.
“Faço o que vocês preferirem”, respondeu ela.
Além de ter abolido expressões como “filhinha” para se referir às repórteres, Dilma é comedida com as palavras.
Na quarta-feira passada, em Minas, exercitou o autocontrole durante reunião na ABCZ (Associação Brasileira de Criadores de Zebu).
Interpelada pelo produtor Rubens de Carvalho, diretor da área internacional da ABCZ, sobre o Programa Nacional de Direitos Humanos do governo, recusou-se a manifestar sua opinião pessoal.
“A minha posição é a do governo”, afirmou, sugerindo que ouvissem o secretário especial de Direitos Humanos, Paulo Vanucchi.
Insistindo que Dilma fizesse uma avaliação da regra que determina negociação entre fazendeiros com trabalhadores rurais durante ocupações de terra, Rubico -como é conhecido- afirmou que gostaria de conhecer as ideias da candidata.
“Não posso te responder. Só posso te responder depois de 3 de abril”, disse Dilma.
“Ouviram ela dizer que eu não iria me decepcionar. Eu não ouvi isso”, lembra Rubico.
Tanta dedicação não aplacou um problema: sua dificuldade de memorização. Dilma já trocou Governador Valadares por Juiz de Fora e chamou o prefeito de Uberaba, Anderson Adauto, de Ângelo. Olavo vira Otávio. Toledo vira Botelho.
No sábado, diante da reincidência de Dilma, Marta sussurrou-lhe o nome correto do presidente do Jockey. “É Márcio Toledo. Não Botelho.”
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