Morte de gestantes em MS é 8 vezes maior que o ‘suportável’ pela OMS, afirma ginecologista
A saúde da mulher gestante em Mato Grosso do Sul apresenta números alarmantes, em especial na questão da mortalidade materno infantil. Esse tipo de óbito é uma das 10 principais causas de morte entre mulheres de 10 a 49 anos no Brasil, segundo Ministério da Saúde. A OMS (Organização Mundial de Saúde) recomenda que o […]
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A saúde da mulher gestante em Mato Grosso do Sul apresenta números alarmantes, em especial na questão da mortalidade materno infantil. Esse tipo de óbito é uma das 10 principais causas de morte entre mulheres de 10 a 49 anos no Brasil, segundo Ministério da Saúde.
A OMS (Organização Mundial de Saúde) recomenda que o número de óbito seja de 10 mortes a cada grupo de cem mil gestantes. No Estado, esse número alcança o alto percentual 80,7 mortes por 100 mil gestantes, segundo os número da Secretaria estadual de Saúde.
Na semana em que se discutiu o assunto, o Midiamax conversou com a médica ginecologista e obstetra Maristela Vargas Peixoto, ela que é presidente da Associação de Ginecologia e Obstetrícia de Mato Grosso do Sul (SOGOMAT SUL), destaca que “a principal causa sem dúvida nenhuma é a falta de um pré natal decente em gestantes”.
Confira abaixo a entrevista na íntegra.
Midiamax: Atualmente, quais são as principais causas desse alto índice de mortalidade materno infantil?
Maristela: Sem dúvida nenhuma, a principal causa é a falta de um pré-natal eficiente e os motivos são dois: ou a gestante não busca esse procedimento, pois em nosso país não se valoriza e não existe uma cultura de prevenção. Ou às vezes a mulher procura o pré-natal e esse não é conduzido da maneira correta como tem que ser. O terceiro fator é que quando a gestação dela se torna de risco, daí sim ela vai procurar o atendimento e não há um atendimento hospitalar e com a urgência adequada. Em menor número, pesa também a questão da falta de leitos em UTIs, não só no MS como em todo Brasil.
Midiamax: Há uma deficiência no atendimento à saúde da mulher?
Maristela: Sim, há essa deficiência. Agora, em parte é por falta de procura dela, em parte pela questão do atendimento. Mas sem dúvida nenhuma essa falta de cultura da prevenção pesa. Dela ir ao pré-natal, cumprir o número de consultas necessárias e iniciar esse acompanhamento já a partir da suspeita de gravidez. Não precisa nem estar confirmada, iniciar o acompanhamento mais precocemente possível.
Midiamax: O que é um pré-natal eficiente?
Maristela: O pré-natal eficiente é aquele que a mulher começa já no início da gestação, realizar a primeira consulta antes de 12 semanas, os exames de sorologia que são aqueles que detectam doenças que podem comprometer a gestação. Ela precisa também estar atenta a questões de peso, de pressão, exames de ultra-sonografia e fazer visitas mensais ao médico e após 36 semanas, realizar consultas quinzenais ou mesmo semanais dependendo de cada caso. Este é o pré-natal adequado, com no mínimo seis consultas.
Midiamax: Quais são as mulheres que estão no grupo de risco de mortalidade materno infantil?
Maristela: São as mulheres nos extremos da fertilidade, ou seja, aquelas adolescentes com menos de 20 anos ou com mais de 35 anos. As adolescentes até porque elas escondem a gravidez, ficam com vergonha e demoram a iniciar o pré-natal. E depois dos 35 pelo risco inerente da idade. Também há outros fatores que predispõem como a hipertensão, gestante tabagista, a obesidade, se tem antecedentes de diabetes. Mas o grupo maior é nesses extremos.
Midiamax: A gravidez na adolescência é um dos problemas enfrentados hoje?
Maristela: Com certeza, a prevenção de gravidez na adolescência ajudaria a diminuir os índices de mortalidade materno infantil. Morrem muitas adolescentes.
Midiamax: Algumas cidades não têm o médico especialista ginecologista. Como fica essa questão dos cuidados com a saúde?
Maristela: No Brasil inteiro é deficitário. O pré-natal específico não precisa ser feito somente pelo ginecologista. Daquela gestante que não apresenta riscos, que não tem problemas mais graves que são as gestações de baixo risco, ela pode ser acompanhada pelo médico de saúde da família. Mas a partir do momento em que se detecta algum risco para aquela gravidez, daí sim ela deve ser encaminhada para um especialista, para que seja conduzida a gestação de uma maneira mais adequada.
Midiamax: Além desses fatores há algum tipo de outra questão que pode estar associada a este alto índice aqui em Mato Grosso do Sul?
Maristela: A questão que a gente sempre pensa: é a capacitação dos profissionais em todos os níveis. Tem que ser visto com muito cuidado, tanto pelas secretarias quanto pela sociedade científica. É uma parceria que temos aqui inédita, pois aqui conseguimos levar profissionais qualificados no interior para dar capacitação aqueles que trabalham com a saúde de família. Isso é pouco? Pode ser que sim, mas estamos buscando melhorar, inclusive com a realização de seminários como esse, que se discute as causas. Não na intenção de descobrir uma culpa, mas na intenção de saber quais são as deficiências em um determinado local e como isso pode ser corrigido e não ser repetido em outros locais. Existe os comitês de mortalidade materno infantil interligado a nível municipal estadual e federal.
Midiamax: Como a comunidade participa?
Maristela: Quando a gente fala de profissionais de saúde, não é só médico. Falamos também de enfermeiros, técnicos, assistentes sociais , psicólogos. Mortalidade materna é uma questão de saúde pública. E tudo que é de saúde pública envolve a comunidade no geral, inclui os profissionais de saúde e o Estado. É um problema de todos.
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