A jovem de 20 anos que largou o filho recém-nascido no quintal de um vizinho em Belém quer o bebê de volta. É o que afirma o seu advogado, Paulo Barradas. “Ela está arrependida e tem a ideia fixa de lutar pela guarda da criança. Se ela não conseguir, a mãe dela já disse que vai pleitear.”

Segundo o advogado, não houve tentativa de homicídio. A defesa da jovem também nega a versão de que a criança teria sido arremessada por cima do muro de cerca de 2 metros. “Ela nunca pretendeu matar a criança. Ela subiu num canteiro, debruçou sobre o muro e colocou o bebê no quintal do vizinho para que o menino tivesse alguém para criá-lo”, relata Barradas.

“Ela usou um saco plástico para o bebê não ficar vulnerável ao frio e deixou uma abertura de ar. Foi um raciocínio simplório, mas a tentativa era salvar a criança e garantir algum futuro.”

Em depoimento à polícia da noite de terça-feira, a jovem, que saiu do interior do Maranhão para trabalhar como babá na casa da tia, confirmou o relato feito ao Conselho Tutelar. Ela disse que escondeu a gravidez porque ficou com medo da reação da família. “Ela achou que a tia podia expulsá-la de casa e que a mãe a rejeitaria se ela voltasse”, afirma o advogado.

Segundo a defesa, a mãe chegou ontem de Apicum-Açu para dar apoio à filha, e a tia já garantiu que a jovem poderá continuar morando com ela e trabalhando como babá. “Depois de ver a reação de carinho dos parentes é que ela decidiu lutar pela guarda”, diz.

O advogado informou que irá entrar com um pedido liminar para que a mãe possa amamentar a criança enquanto aguarda a decisão da Justiça sobre a guarda. O bebê está internado na Unidade de Cuidados Intermediários (UCI) da Santa Casa e deve ficar em observação tomando antibióticos por mais 11 dias.

A jovem pode responder por abandono de incapaz, lesão corporal e, eventualmente, até por tentativa de homicídio. O inquérito policial tem 30 dias para ser concluído, mas, segundo o delegado Mário Bermejo, dentro de cerca de 10 dias deve estar finalizado. Ele ainda não disse se irá indiciar ou não a jovem.

Para a defesa, na pior das hipóteses, o caso seria de abandono de incapaz. “Ela encontrava-se em momento de depressão pós-parto, o que deve pesar na decisão da Justiça”, afirma Barradas. “Se quisesse matar, poderia ter usado a tesoura que cortou o cordão umbilical ou colocado a criança em outro local”, justifica.

O caso

O bebê do sexo masculino foi encontrado às 8h30 do dia 25 por um vizinho que ouviu o choro do recém-nascido e acionou o Serviço Móvel de Urgência e Emergência (Samu). A criança passou cerca de 12 horas dentro de uma sacola plástica e chegou ao hospital apresentando escoriações e hematomas no rosto e na perna.

Até a definição da Justiça sobre a guarda da criança, o bebê ficará sob a responsabilidade do Conselho Tutelar.