Jovens soropositivos vivem tabu sobre sexo
A partir dos anos 90, as crianças infectadas com o vírus da Aids passaram a ter mais chances de sobrevivência com medicamentos mais potentes e tratamento contínuo. Foi nesse cenário que o pesquisador Luiz Montenegro encontrou campo para sua dissertação de mestrado defendida na Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz): ele analisou aspectos da adesão […]
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A partir dos anos 90, as crianças infectadas com o vírus da Aids passaram a ter mais chances de sobrevivência com medicamentos mais potentes e tratamento contínuo. Foi nesse cenário que o pesquisador Luiz Montenegro encontrou campo para sua dissertação de mestrado defendida na Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz): ele analisou aspectos da adesão à terapia antirretroviral de alta potência (Haart, na sigla em inglês), também chamada coquetel antiAids, e do comportamento sexual de adolescentes que nasceram infectados pelo HIV devido à transmissão vertical – de mãe para filho durante a gestação, o parto ou a amamentação.
Para o estudo, foram realizadas entrevistas com 18 adolescentes soropositivos, entre 15 e 20 anos, e duas infectologistas responsáveis pelo atendimento a esses pacientes. Segundo o pesquisador, no Brasil, entre os menores de 13 anos portadores do HIV, 84,5% se infectaram pela via vertical de transmissão. Calcula-se em 11,6 mil o número de casos acumulados nessa faixa etária no período de 1995 a 2008.
A iniciação da vida sexual é outro momento difícil para os adolescentes com HIV. Eles relataram incerteza quanto ao momento certo de contar sobre sua infecção ao parceiro; medo de rejeição; receio de contaminar o outro; e dificuldades ligadas à negociação do uso de preservativo. Dos 18 adolescentes entrevistados, 8 se autodeclararam sexualmente ativos. Desses, a maioria afirmou usar frequentemente o preservativo, mas sem informar o parceiro sobre sua condição de portador do HIV.
– Os profissionais de saúde que trabalham com esses jovens devem estar preparados para lidar com assuntos relacionados não só ao tratamento médico, mas também às angústias, aspirações e incertezas características dessa fase da vida – diz Montenegro.
Adolescentes vivendo com Aids se deparam com limitações que podem impedi-los de experimentar esse período da vida como seus colegas, visto que ter HIV significa também estar sob cuidados permanentes, típicos de uma doença crônica. Os cuidados envolvem várias doses de medicamentos diariamente, consultas médicas e exames rotineiros e até a possibilidade de hospitalização. Um grande desafio é estimular esses adolescentes a aderirem ao tratamento antirretroviral e não o abandonarem ao longo do tempo.
As entrevistas feitas por Montenegro revelaram os principais aspectos que diminuem a adesão ao tratamento: o grande número de comprimidos e doses administrados diariamente; a interferência no estilo de vida e nos hábitos alimentares, devido à necessidade de tomar medicamentos em jejum ou nas refeições; os efeitos colaterais, como enjôos e náuseas; e uma comunicação deficiente entre médico e paciente.
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