Eles fazem mais bagunça na sala de aula, elas capricham no caderno. A diferença entre os gêneros chama a atenção pelo comportamento, e o resultado é que os meninos têm 20% mais chances de abandonar a escola durante o ensino médio do que as meninas.

O dado resulta de um estudo feito pelo Instituto Unibanco. No ensino fundamental, quando ainda são crianças, o sexo não importa muito, conta a pesquisadora em educação pela PUC-Rio (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro), Wanda Engel.

– Mas isso [diferença entre meninos e meninas] muda no ensino médio. Ser homem aumenta a taxa de risco de abandono em 20%.

Wanda, que também é superintendente-executiva do instituto, destaca que as mulheres são afetadas nos estudos – principalmente quando têm filhos muito cedo. Segundo os números da pesquisa, a gravidez aumenta o risco de abandono escolar em 352% entre as meninas.

– Isso já era sabido, mas foi confirmado: o nível de estudos dos pais influencia na vida escolar dos jovens. Mães mais velhas aumentam a permanência dos filhos na escola. Isso nos faz pensar na gravidez adolescente. Essas garotas influenciam a vida escolar delas e dos filhos [ao engravidar].

Problemas e soluções

Um grupo de especialistas no assunto se reuniu no início de dezembro para discutir caminhos de aumentar a presença dos jovens no ensino médio e reduzir a evasão escolar.

Reynaldo Fernandes, ex-presidente do Inep (órgão do Ministério da Educação responsável pelo Enem), conta que, apesar das dificuldades que muitos encontram para estudar, os jovens deixam o colégio “principalmente por puro desinteresse”.

O governo divulgou um levantamento no primeiro semestre deste ano indicando que quase 25% dos alunos do ensino médio faltam às aulas sem ter motivo.

Fernandes diz que existem “picos de evasão escolar” dos 14 aos 18 anos no Brasil. A proporção de presença na escola aos 13 anos é de 97% dos alunos. De acordo com o ex-presidente do Inep, esse número vai caindo com o passar do tempo: 83% dos alunos vão às escolas aos 15 anos; 74% aos 16; e 57% aos 17 – justamente a faixa etária do ensino médio.

– Pode ser que os custos para frequentar a escola sejam muito altos. Pode ser por causa do bullying (violência na escola) ou de outros problemas. Mas o simples e puro desinteresse pela escola é o principal fator de abandono.

Atrair os jovens para a escola requer torná-la mais atrativa, afirmam os especialistas. Uma das alternativas expostas por Fernandes e endossada pelo sociólogo Simon Schwartzman é a revisão do currículo do ensino médio.

O ex-presidente do Inep diz que muitos jovens deixam de ir à aula, alegando que a escola tem pouco a ver com o que vivem. A alternativa seria aproximar a teoria da realidade diária dos estudantes.

Para o sociólogo Schwartzman, não é possível ter educação de qualidade dando “um pouquinho de tudo”.

– O aluno precisa escolher qual área lhe atrai. Em todo o mundo é assim. Essa história de ter 14 matérias [no ano letivo, como é hoje] não funciona.

Os pesquisadores do Instituto Unibanco concluíram também que estudantes com problemas de defasagem na idade ou na série escolar têm mais chances de abandonar a sala de aula. O R7 já havia divulgado que apenas 4,7 em cada dez jovens concluem o ensino médio na idade correta.