Fortunato Fortuna dá o sangue e dá uma lição de solidariedade

Ele já nasceu afortunado. Os seus pais foram generosos na sala do tabelião onde cravou o nome Fortunato numa criança que hoje no alto de seus sessenta e cinco anos ganhou a fama por ser o mais antigo, maior e mais generoso sócio do Hemocentro Regional de Dourados. Fortunato Rodrigues de Menezes conta que nos […]

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Ele já nasceu afortunado. Os seus pais foram generosos na sala do tabelião onde cravou o nome Fortunato numa criança que hoje no alto de seus sessenta e cinco anos ganhou a fama por ser o mais antigo, maior e mais generoso sócio do Hemocentro Regional de Dourados.

Fortunato Rodrigues de Menezes conta que nos idos de 1986 estava no saguão do Hospital Santa Rita fazendo hora para visitar um amigo que estava internado.

De repente surgiu um homem desconhecido que lhe fez um pedido: – Será que o senhor poderia doar sangue para a minha filha que precisa fazer uma cirurgia?

Assim começou a saga deste descendente de nordestinos que depois de muitos anos lavrando a terra no distrito de Vila São Pedro onde mora desde 1959 agora espera a aposentadoria.

Como funcionário da Prefeitura trabalha de vigia na Escola Agrotécnica André Capelli onde ganha o suficiente para viver uma vida simples.

Já se passaram quase vinte e cinco anos e Fortunato, o Fortuna como é chamado pelos amigos continua doando sangue. Ele sequer se lembra do nome do homem que fez o pedido da sua primeira doação.

Naquela época Fortuna conta que Dourados ainda não contava com o Hemocentro. O Banco de Sangue funcionava no Hospital Evangélico onde quatro vezes por ano Fortunato fazia suas doações.
Em 1991 foi criado o Hemocentro e para lá se foi o Fortuna, um homem pobre que traz no rosto as marcas do trabalho no campo e nos olhos a solidariedade.

No Hemocentro Fortuna continua a sua missão de salvar vidas.  Os anos passaram rapidamente. Os cabelos ficaram brancos e o bigodinho fino perdeu deixou de ser negro.

A insistência de Fortuna em nunca deixar de doar sangue fez dele o “doador símbolo” de Dourados. Hoje a Sala de Coleta tem nome e sobrenome. É uma homenagem ao maior doador de sangue da história de Dourados.

Quem chegar ao Hemocentro depois de toda a triagem dá de cara com uma plaqueta que ostenta o nome de Fortuna na Sala de Coleta. Fortunato é um homem feliz e sabe disso.

Ele é de poucas palavras, mas quando abra a boca diz muito. Fortunato queria continuar doado sangue infinitamente, mas está proibido. Quando completa 65 anos cessa a carreira do doador.

A Vila São Pedro localizada às margens da BR 163 é a casa de Fortunato há cinco décadas. Nunca saiu de lá e nunca sairá. Para ir ao Hemocentro que fica distante pouco mais de quinze quilômetros de casa Fortunato pedala-pedala sua bicicleta.

Sempre foi assim. Dia de doação lá vinha com a testa suada o Fortunato. Saía de São Pedro antes do sol despontar e meia hora depois estava no Hemocentro. Um café da manhã reforçado e suas veias abriam-se para salvar uma nova vida.

Fortuna não doa mais sangue. O sangue corre nas suas veias, a bicicleta continua lépida assim como seu dono que pelo menos uma vez por ano é convidado para estar no Hemocentro.

Todo 25 de novembro, dia do doador voluntário de sangue Fortunato está entre os demais doadores numa festa de confraternização anual que reúne centenas de pessoas que como ele aposta neste gesto soberano de solidariedade.

O gesto de Fortuna foi copiado pelo filho Genivaldo que também é doador. Muitos amigos também aparecem no Hemocentro por recomendação de Fortuna que continua com a mesma bicicleta no vaivém de São Pedro a Dourados para distribuir sorrisos e a lição de que o desprendimento é a maior das virtudes que um ser humano pode ter.

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