Fissura em rocha provocou deslizamento no Rio

Duas fissuras na rocha, no alto do morro do Bumba, serviram de “gatilho” para o grande deslizamento de terra que soterrou centenas de pessoas. A conclusão é de estudo de geógrafos da PUC-Rio, feito a pedido do DRM (Departamento de Recursos Minerais do Rio). Os pesquisadores trabalharam no local durante todo o dia de sexta-feira […]

Ouvir Notícia Pausar Notícia
Compartilhar

Duas fissuras na rocha, no alto do morro do Bumba, serviram de “gatilho” para o grande deslizamento de terra que soterrou centenas de pessoas. A conclusão é de estudo de geógrafos da PUC-Rio, feito a pedido do DRM (Departamento de Recursos Minerais do Rio).

Os pesquisadores trabalharam no local durante todo o dia de sexta-feira e, ao contrário do que se imaginava inicialmente, a causa do deslizamento não foi uma explosão de gás metano, acumulado no local onde funcionava um antigo lixão.

Segundo os geógrafos, o excesso de lixo e a presença do gás agravaram a tragédia, mas não foram o estopim. O número de mortos, porém, seria menor se não fossem esses dois fatores.

“O movimento detonador se deu a partir da encosta, na cabeceira do morro”, disse Marcelo Motta, geógrafo da PUC que participou dos trabalhos.

De acordo com ele, “duas cicatrizes” analisadas mostram que o deslizamento começou no alto e “empurrou” a massa de lixo que estava embaixo.

Na avaliação de Motta, porém, tamanho desastre poderia ser evitado, se as casas não tivessem sido erguidas sobre o lixão: “Seria uma catástrofe de outras proporções.”

Segundo o geógrafo, as chuvas dos últimos dias acionaram “vários gatilhos” semelhantes ao que deu início ao deslizamento no morro do Bumba em outros pontos do maciço de Niterói e São Gonçalo. Por isso, técnicos vão vistoriar a região em busca áreas com risco de deslizamento. Até a noite de ontem, 33 corpos foram resgatados do morro do Bumba. Em todo o Estado do Rio, foram contabilizados 223 mortos.

O policiamento no entorno do morro do Bumba foi reforçado pelo Bope após informações sobre saques em casas interditadas. Ninguém foi preso.

O subprocurador de Direitos Humanos do Ministério Público Estadual, Leonardo Chaves, inspecionou a operação de resgate das vítimas do morro do Bumba e disse que veio para saber qual destino será dado aos desabrigados.

O aposentado José de Oliveira, 87, um dos sobreviventes, diz ser o morador mais antigo da comunidade. “Moro aqui antes disso virar um lixão”, afirmou. Ele disse que cerca de 20 parentes estão sob os escombros. Sua filha, a autônoma Gilsinete Oliveira, 45, conta que a “sorte ajudou na sobrevivência do pai”, que já teve dois AVCs e se locomove com dificuldades.

Prefeito e a UFF

O prefeito de Niterói, Jorge Roberto Silveira (PDT), disse ontem, em coletiva de imprensa, que nos laudos produzidos pela UFF (Universidade Federal Fluminense) sobre a encosta do município não constava a informação de que o morro do Bumba apresentava risco de desmoronamento. Silveira afirmou não saber que tal área era “uma bomba-relógio”. Segundo ele, os pontos apontados como área de risco sofrem ou sofrerão intervenções do PAC e de um projeto municipal.

 Em 2004, o Instituto de Geociência da UFF fez um estudo, a pedido do Ministério das Cidades, e constatou que a área tinha alto risco de acidentes e exigia monitoramento.

Forças Armadas

Amanhã serão montados dois hospitais de campanha das Forças Armadas para atender sobreviventes em São Gonçalo.

O Exército vai liberar também duas áreas militares no Rio e em Niterói para receber os desabrigados. Homens do Exército, Marinha e Aeronáutica podem auxiliar no resgate das vítimas dos deslizamentos, conforme pedido do governador Sérgio Cabral (PMDB).

Conteúdos relacionados