O estado de emergência no Haiti deve durar ainda alguns anos afirmou nesta quinta-feira o secretário-geral da OEA (Organização dos Estados Americanos), José Miguel Insulza, fazendo um apelo aos países da região para que continuem ajudando o país, devastado por um terremoto de magnitude 7 no último dia 12, enquanto o enviado especial adjunto das Nações Unidas disse que três quartos da capital haitiana terão que ser reconstruídos.

“O tema da emergência estará conosco por vários meses, e até anos”, alertou Insulza, que acaba de voltar de uma visita a Porto Príncipe, onde afirmou ter constatado uma situação “terrível” e “muito forte”, após o terremoto.

“É importante continuar o que estamos fazendo, continuar contribuindo com o que pudermos”, disse Insulza durante uma reunião do Conselho Permanente da organização em Washington. “É preciso manter o esforço, o que significa alimentar por vários meses um milhão de pessoas”.

A dimensão da catástrofe haitiana foi destacada pelo enviado especial adjunto das Nações Unidas ao Haiti, Paul Farmer, que disse nesta quinta-feira que Porto Príncipe, a capital do país, terá que ser 75% reconstruída.

Ocupante do cargo logo abaixo do atual enviado da ONU ao Haiti, o ex-presidente americano Bill Clinton, Farmer esteve hoje no Comitê de Relações Exteriores do Senado dos Estados Unidos para apresentar aos legisladores um panorama sobre a devastação e a reconstrução do país caribenho.

O senador democrata John Kerry, presidente do comitê, disse ter ficado “atônito” com o índice de reconstrução citado por Farmer.

“Esta é uma tarefa tão grande que precisamos de uma equipe de máxima categoria internacional para trabalhar com o povo haitiano”, disse o enviado especial adjunto.

Em seu discurso, no qual ressaltou a importância dos investimentos “significativos” e do desenvolvimento do Haiti, Farmer falou sobre as dificuldades das tarefas de socorro nas quais intervêm Governos e ONGs de todo o mundo.

O enviado especial adjunto acrescentou que os problemas mais agudos atualmente são a falta de segurança diante do perigo de novos tremores e a ameaça de doenças como o cólera nos improvisados acampamentos de desabrigados.

“O governo do Haiti propôs sabiamente evitar esses enormes acampamentos que são difíceis de controlar. Devemos acelerar nossos esforços para conseguir tendas de campanha e banheiros”, disse Farmer.

O enviado especial adjunto também ressaltou o fato de que o Haiti é o país mais pobre da América e que os problemas que se multiplicaram agora já existiam antes do terremoto.

“Antes de 12 de janeiro, o país já enfrentava desafios de saúde e educação em longo prazo, um desemprego de mais de 70% e uma maioria da população que vive com menos de US$ 2 ao dia”, disse.

Segundo Farmer, o terremoto é uma oportunidade para aprofundar a relação internacional de solidariedade com o Haiti, mas, ao mesmo tempo, alertou que as promessas de ajuda podem ser facilmente esquecidas.

Como exemplo, citou os furacões que deixaram um rastro de destruição em grande parte do Haiti em 2008. Depois desse desastre, o país recebeu a promessa de US$ 402 milhões de dólares em ajuda direta a um programa de recuperação.

Segundo Farmer, desse total, apenas US$ 61 milhões foram desembolsados.

No total, “85% das promessas feitas há um ano não se completaram. Muitos de nós nos perguntamos se o passado é um prólogo”, opinou.

Farmer também disse que o esforço de reconstrução do Haiti deve incluir uma avaliação integral das necessidades, a qual deve contar com o apoio dos Estados Unidos e de outros países.