O risco de falta de energia ou racionamento nos próximos anos é baixo, porém especialistas alertam que ele existe. O secretário de Energia Elétrica do Ministério de Minas e Energia, Ildo Grüdtner, explicou que o investimento no sistema seria extremamente alto para excluir essa ameaça.

“O sistema é planejado admitindo determinado risco, que é de menos de 5%. Para adotar ameaça zero, teríamos de colocar uma quantidade enorme de usinas, o que acarretaria um custo maior para os consumidores”, afirmou Grüdtner ao G1.

As usinas hidrelétricas são responsáveis por mais de 90% de toda a energia produzida do Brasil. O professor do curso de Engenharia Elétrica da Universidade de Brasília (UnB) Mauro Moura acredita que pode haver racionamento em caso de seca prolongada, como ocorreu em 2000 e 2001. “Hoje o sistema está mais preparado, há mais linhas de transmissão e reservas de geração termelétrica que não existiam antes, mas é uma ilusão dizer que o risco é zero. Se chover menos, o problema é garantido”, disse Moura.

O professor Roberto Brandão, pesquisador do Grupo de Estudos do Setor Elétrico do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), alerta para os altos custos da eletricidade em períodos de estiagem. “Neste ano, com o tempo seco, o abastecimento das regiões Norte e Nordeste está mais prejudicado que o das regiões Sudeste e Sul. Não há ameaça de racionamento, mas a energia fica cara porque há aumento da produção das termelétricas.”

Já a professora do departamento de Economia da Universidade Federal Fluminense (UFF) Claude Cohen garante que o risco de falta de energia não está relacionado com a seca. Para ela, a falta de chuvas não foi responsável pelo racionamento em 2001.

“O sistema brasileiro está projetado para suportar cinco anos de seca seguidos. O responsável percebe que o reservatório está baixando e tem cinco anos para adotar uma medida para ter oferta de energia. Há tempo, inclusive, para construir outra usina. O problema é não tomar decisões a tempo. O Operador Nacional do Sistema [ONS] pensa nisso antes e manda uma solicitação para o governo perguntando o que fazer, inclusive se é possível colocar usinas que não sejam hidrelétricas para funcionar”, afirmou.

O secretário confirma que o planejamento da operação nas hidrelétricas é feito para cinco anos, mas ele explica que, para garantir a recuperação dos reservatórios, os níveis de água devem ser mantidos sempre acima de uma margem de segurança ao longo de dois anos. “A curva de aversão a risco é feita para dois anos. É o volume mínimo em que os reservatórios chegam e em que todas as térmicas passam a funcionar, independentemente do mérito econômico”, disse.

Colapso
O objetivo principal do horário de verão é a redução do consumo de energia entre 19h e 21h, quando há um aumento acentuado no consumo. “Há uma coincidência da entrada da iluminação pública com as pessoas chegando às casas, ligando os eletrodomésticos. No horário de verão, isso não ocorre ao mesmo tempo. Trabalhamos com o sistema mais aliviado, o que dispensa investimentos só para atender essa ponta, já que ela fica menor, e também a geração de termelétricas, que é feita por segurança”, afirmou Grütner.

De acordo com o Ministério de Minas e Energia, a expectativa de redução no horário de pico é de 5% no Sul e 4,6% no Sudeste e no Centro-Oeste. No período, a economia real de energia chega a 0,5%. Apesar de irrisória, o professor da UnB acredita que a redução do consumo em momentos de pico é importante para evitar um colapso. “A ideia é reduzir o carregamento do sistema elétrico durante um determinado momento do dia. Se a população alterar o horário de consumo de energia, nós podemos ter um sistema menos robusto. O horário de verão contribui para que não haja um desequilíbrio entre geração de energia e excesso de demanda. Não tem a ver com racionamento, mas com colapso do sistema”, afirmou.

Investimentos
Para o professor da UnB, o país deveria diversificar as formas de geração de energia para diminuir a produção de hidrelétricas e termelétricas. “O ideal é depender o mínimo da geração complicada, tanto do ponto de vista da poluição quanto das restrições por causa do aquecimento do planeta, como ocorre com as termelétricas e hidrelétricas. Os governos têm feito esforços para ter uma matriz de energia menos poluente, mas o Brasil ainda está muito atrás e precisaria se esforçar para mudar isso”, disse Moura.

A professora da UFF acha que é necessário investir principalmente para atender consumidores de baixa renda. “A economia de energia também é uma questão de acesso a equipamentos mais eficientes, que costumam ser mais caros. Uma pessoa de baixa renda não faz uma opção por um eletrodoméstico em função da eficiência energética, mas pelo preço”, afirmou.

No entanto, o secretário aponta o alto custo como empecilho para o aumento do uso das energias alternativas. “Tem se observado uma redução nos custos da energia das usinas eólicas, que eram bem maiores que os custos de hidrelétricas. Claro, se ele tiver um valor adequado, passará a ter mais participação. Já a energia solar é bastante cara e, por enquanto, está sendo usada em áreas isoladas, onde é inviável levar energia elétrica. Mas acho que vai demorar um pouco para a energia solar ter um custo competitivo”, disse.