Enquanto lei exige piso especial para cegos, calçadas da capital ainda têm armadilhas

Na Rua Rio Grande do Sul, proprietário coloca grandes vasos com plantas na calçada que dificultam a passagem até de quem tem 100% da visão. Na contramão da dificuldade, pedagoga Eva Ortiz tem ânimo para comemorar o pouco que já foi feito, mas revela que já teve vários problemas

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Na Rua Rio Grande do Sul, proprietário coloca grandes vasos com plantas na calçada que dificultam a passagem até de quem tem 100% da visão. Na contramão da dificuldade, pedagoga Eva Ortiz tem ânimo para comemorar o pouco que já foi feito, mas revela que já teve vários problemas

A lei complementar 117 de 20 de junho de 2008, assinada pelo prefeito Nelsinho Trad em seu primeiro ano de administração, determina a construção de piso tátil nas calçadas de Campo Grande mas está praticamente ignorada pelos moradores e comerciantes. Aos poucos, as construções novas já incluem o dispositivo, mudando o visual.

O piso tátil serve de guia para orientar os deficientes visuais totais e parciais. Ele possui texturas que, sentidas pelos pedestres com necessidades especiais de visão, servem para guiar ou alertar cegos.

Eva Aparecida Ortiz Barbosa, 38 anos, tem zero de visão desde que nasceu. Ela passou por reabilitações, fez curso superior e atualmente trabalha como pedagoga no Instituto sul-mato-grossense para Cegos Florivaldo Vargas, em Campo Grande.

Segundo Eva, apesar de ainda não estar em cumprimento, a lei é uma conquista para quem tem limitações visuais. “Se a falta do piso fosse o principal problema até que nosso dilema não seria tão grande. Acontece que as calçadas estão com má conservação, apresentam muito desnível e as pessoas plantam árvores bem no meio da passagem. Se fossemos andar como o regulamento determina, iríamos trombar em árvores”, diz.

A pedagoga revela que já teve vários problemas no que diz respeito a acessibilidade, em especial nas calçadas da Capital. Segundo relato, ela afirma que já trombou em carros estacionados na calçada, inclusive em cima de piso tátil; em tapumes de construções avançados sobre a passagem, calçadas quebradas, que representam um risco de queda; entre outros problemas.

Hortência Aparecida Ferreira é vice-presidente do Conselho Municipal da Pessoa com Deficiência, em Campo Grande. Ela ressalta que a Lei da Calçada, que ganhou a lei complementar sobre piso tátil é importante, porém, para ela, as pessoas estão se adequando “pela força da lei e aleatoriamente sem se preocupar com os 50 cm obrigatórios à esquerda e outros 50 cm à direita”, protesta.

Fiscalização

A Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano (Semadur) é a responsável pela fiscalização do cumprimento da lei. O diretor de controle urbanístico e de postura da secretaria, Waldiney Costa da Silva afirma que a prefeitura iniciou um processo de fiscalização. “O primeiro passo é que a partir deste ano todos os processos de construção estão exigindo a colocação de piso tátil na calçada. Além disso, quem já tem um imóvel e deseja obter habite-se também precisa incluir este projeto”, diz.

Outra medida adotada pela prefeitura para ir mudando as calçadas é que todas as reformas, tanto internas quanto externas também são um divisor para que a calçada ganhe o piso tátil. Quem não procurar a prefeitura espontaneamente vai receber a visita de um fiscal da Semadur que vai notificar o proprietário e dar um prazo para regularizar. Em caso de desobediência, o proprietário será multado e pode ter a obra embargada.

Passeio

Cada vez mais buscando inclusão, os deficientes visuais planejam com o Ismac um passeio para o mês de novembro. Trata-se de uma viagem no Trem do Pantanal, entre Campo Grande e Aquidauana. Embora tenham a restrição da visão, a assistente social do instituto, Hortência Ferreira lembra que outros sentidos também podem ser utilizados num passeio com o este.

“Teremos pessoas especializadas e também estagiários do Ismac acompanhando nesta viagem”, diz. O entrave, por enquanto, é conseguir gratuidade para os assistidos ou pelo menos um desconto na passagem, que custa R$ 36, uma vez que a carteira que garante gratuidade não cobre passeios turísticos.

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