Em editoriais, Folha e Estadão se posicionam sobre sucessão

Em editoriais em suas edições deste domingo (26), os jornais Folha de S.Paulo e o Estado de S.Paulo se posicionaram a respeito da sucessão presidencial no País. A Folha e o Estadão reagiram às críticas à imprensa feitas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O Estadão declarou apoio ao candidato do PSDB à presidência […]

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Em editoriais em suas edições deste domingo (26), os jornais Folha de S.Paulo e o Estado de S.Paulo se posicionaram a respeito da sucessão presidencial no País. A Folha e o Estadão reagiram às críticas à imprensa feitas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O Estadão declarou apoio ao candidato do PSDB à presidência da República, José Serra. A Folha criticou o presidente Lula e a “candidata oficial”, Dilma Rousseff, do PT, e disse procurar manter uma orientação de “independência, pluralidade e apartidarismo editoriais”.

Os dois jornais manifestaram oficialmente sua posição três dias depois de o presidente Lula afirmar, em entrevista exclusiva ao Terra, que a comunicação no País “é dominada por nove ou dez famílias” e que a imprensa “tem candidato e partido”. Lula afirmou que os meios de comunicação deveriam manifestar claramente sua posição, em vez de defenderem “uma neutralidade disfarçada”.

Estadão
Intitulado “O Mal a Evitar”, o editorial do Estado de S. Paulo diz que “com todo o peso da responsabilidade (…), o Estado apoia a candidatura de José Serra à presidência da República”. O jornal ressalta o “currículo exemplar de homem público e pelo que ele (Serra) pode representar para a recondução do País ao desenvolvimento econômico e social pautado por valores éticos”. O jornal diz que Serra “é o que tem melhor possibilidade de evitar um grande mal para o País”.

Com o apoio, o jornal rechaça a acusação do presidente Lula de que a imprensa “se comporta como um partido político”. “Há uma enorme diferença entre se comportar como um partido político e tomar partido numa disputa eleitoral em que estão em jogo valores essenciais ao aprimoramento se não à própria sobrevivência da democracia neste País”, afirma o editorial, que cita Lula como “chefe de uma facção que tanto mais sectária se torna quanto mais se apaixona pelo poder”.

No editorial, o Estadão ainda diz que “Lula e seu entorno” escolhem os piores meios “para atingir seu fim precípuo: manter-se no poder” e cita as recentes denúncias de tráfico de influência na Casa Civil – o que culminou na demissão de ministra-chefe Erenice Guerra – e o “solapamento das instituições sobre as quais repousa a democracia – a começar pelo Congresso”. Ao final do texto, o Estadão avalia que a idéia de que Lula “é o cara” hipnotiza os brasileiros e serve como “mau exemplo que permite a qualquer um se perguntar: ‘Se ele pode ignorar as instituições a atropelar as leis, por que não eu?’ Este é o mal a evitar”.

Além de dizer que Dilma é uma “invenção” de Lula, o jornal pede uma reflexão aos eleitores. “O que estará em jogo, no dia 3 de outubro, não é apenas a continuidade de um projeto de crescimento econômico com a distribuição de dividendos sociais (…) o que o eleitor decidirá de mais importante é se deixará a máquina do Estado nas mãos de quem trata o governo e o seu partido político como se fossem uma coisa só”.

O jornal pondera os lados positivos do governo Lula, “como no desenvolvimento econômico quanto na ampliação de programas sociais”, mas considera que, ao mesmo tempo, houve a “desconstrução historicamente frágil no Brasil, mas indispensável para a consolidação, em qualquer parte, de qualquer processo de desenvolvimento de que o homem seja sujeito e não mero objeto”.

Folha
A Folha não deu apoio a qualquer candidato e, em texto em sua primeira página intitulado “Todo poder tem limite”, ressaltou que procura manter uma orientação de “independência, pluralidade e apartidarismo editoriais”, o que redunda, segundo o jornal, “em questionamentos incisivos durante períodos de polarização eleitoral”. O jornal critica duramente o presidente e a candidata Dilma Rousseff. Para a Folha, Lula e Dilma “têm-se limitado até aqui a vituperar a imprensa, exercendo seu próprio direito à livre expressão, embora em termos incompatíveis com a serenidade requerida no exercício do cargo que pretendem intercambiar”.

Ao final do editorial, o jornal afirma que “tentativas de controle da imprensa” serão repudiadas: “Fiquem ambos advertidos, porém, de que tais bravatas somente redobram a confiança na utilidade pública do jornalismo livre. Fiquem advertidos de que tentativas de controle da imprensa serão repudiadas – e qualquer governo terá de violar cláusulas pétreas da Constituição na aventura temerária de implantá-lo”.

A Folha diz que “vai longe o tempo” em que maiorias não seriam respeitadas no Brasil. “As eleições são livres e diretas, as apurações, confiáveis – e ninguém questiona que o vencedor toma posse e governa. Se existe risco á vista, é do enfraquecimento do sistema de freios e contrapesos que protege as liberdades públicas e o direito ao dissenso quando se formam ondas eleitorais avassaladoras, ainda que passageiras”. E prossegue: “Nesses períodos, é a imprensa independente quem emite o primeiro alarme, não sendo outro o motivo do nervosismo presidencial em relação a jornais e revistas nesta altura da campanha eleitoral”.

O jornal ressalta ainda ter sido a imprensa quem revelou ao País que uma agência da Receita Federal em Mauá, no ABC paulista, teria sido “convertida em órgão de espionagem clandestina contra adversários”. Foi também a imprensa “quem mostrou que o principal gabinete do governo, a assessoria imediata de Lula e de sua candidata Dilma Rousseff, estava minado por espantosa infiltração de interesses particulares”. E acrescenta: “É de calcular o grau de desleixo com o dinheiro e os direitos do contribuinte ao longo da vasta extensão do Estado federal”.

Apesar das duras críticas, a Folha reconhece que “os altos índices de aprovação popular do presidente não são fortuitos”. Para o jornal, os altos índices de popularidade de Lula refletem “o ambiente internacional favorável aos países em desenvolvimento, apesar da crise que atinge o mundo desenvolvido” e “os acertos do atual chefe do Estado”.

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