Em 9 dias de conflito, RJ teve menos mortes do que em SP em 2006

Nove dias de conflito no Rio de Janeiro, completados nesta segunda-feira (29), registraram menos mortes do que em São Paulo, em um mesmo número de dias em 2006, segundo dados oficiais. A comparação indica também mais armas apreendidas no Rio e um número semelhante de prisões e de veículos queimados nos dois estados. Nos dois […]

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Nove dias de conflito no Rio de Janeiro, completados nesta segunda-feira (29), registraram menos mortes do que em São Paulo, em um mesmo número de dias em 2006, segundo dados oficiais. A comparação indica também mais armas apreendidas no Rio e um número semelhante de prisões e de veículos queimados nos dois estados.

Nos dois casos, as ações de criminosos se seguiram a uma reação das forças de segurança. No Rio, o primeiro registro de carros queimados é no domingo, dia 21.

Em São Paulo, os ataques organizados por uma facção criminosa começaram em 12 de maio de 2006.

Segundo balanço divulgado pela Polícia Militar do Rio de Janeiro na segunda (29) à noite, houve 37 mortos, 205 armas apreendidas, 123 prisões e 100 veículos queimados (houve também 2 carros queimados no domingo, 21, totalizando 102), de segunda (22) até as 19h30 de segunda (29). Não houve registro de morte ligada ao conflito no dia 21. A PM tem atualizado esses dados neste link.

A Secretaria da Segurança de São Paulo registra, de 12 a 20 de maio de 2006, 87 mortes, 149 armas apreendidas, 125 prisões e 82 ônibus incendiados. Veja no quadro ao lado mais detalhes.

Os números de mortes foram atualizados pela secretaria na semana passada, a pedido do G1, com dados consolidados. Os demais dados de São Paulo constam de balanços divulgados em 2006.

O número de mortes em São Paulo pode ser maior. Um conta divulgada no ano passado por uma organização não-governamental indica que houve mais de 500 mortes.

O que dizem hoje o governador de SP e o ministro da Justiça da época
Governador de São Paulo em 2006, o atual secretário de Negócios Jurídicos da Prefeitura de São Paulo, Claudio Lembo, afirma que acompanha “com atenção, mas à distância” os eventos no Rio de Janeiro. Para ele, “são situações complexas e diferentes”, embora em São Paulo a crise tenha sido um pouco pior. “Aqui (em SP) foram quatro ou cinco dias de conflito, no máximo. Aconteceu no sábado e na segunda-feira tínhamos terminado tudo. O que foi difícil foi nos presídios. Aí demorou um pouco mais, porque eles (presos) quebraram tudo e teve de recompor todos eles. Acho que em São Paulo foi um pouco pior”, afirma.

Lembo, que na época culpou a “elite branca” pela crise da segurança pública em São Paulo, disse ao G1 que os dois eventos, no Rio e em São Paulo, têm, em comum, a “criminalidade e a miséria, que deu nessa tragédia toda”. Para ele, é necessário que haja “uma revisão da política social do Brasil. Que haja uma melhor distribuição da riqueza.”

Para o advogado Márcio Thomaz Bastos, ministro da Justiça em maio de 2006, “a diferença é que nesta última (no Rio) quem tomou a iniciativa foi o poder público e naquela (2006) houve mais uma atitude reativa contra o crime organizado dentro dos presídios.” O ex-ministro afirma que é difícil fazer a comparação, mas acredita que em termos de impacto o conflito no Rio de Janeiro é maior do que o registrado em São Paulo.

O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil em São Paulo, Luiz Flávio Borges D’Urso, observa que enquanto em São Paulo houve uma tentativa do crime organizado de enfrentar e desmoralizar o poder público, prontamente respondida, na opinião dele, no Rio de Janeiro as forças policiais recuperam um espaço que estava dominado pelo tráfico enfrentando condições geográficas desfavoráveis e o poderio bélico dos criminosos.

“O Rio tem uma topografia que favorece os guetos, espaços onde o Estado não conseguia chegar”, afirmou. “São Paulo nunca teve um território dominado pelo tráfico e no Rio o poderio bélico dos criminosos é maior”, afirmou D’Urso.

DIA A DIA DOS CONFLITOS

São Paulo, maio de 2006

Rio de Janeiro, novembro de 2010

Sexta (12)
Integrantes do crime organizado são levados para depor na sede do Departamento de Investigações sobre o Crime Organizado (Deic). Um deles é depois levado para a penitenciária de segurança máxima de Presidente Bernardes. Às 16h30, em Avaré, começa o primeiro motim em penitenciárias do estado. A ordem para que se realizem motins em todo o estado parte dos próprios presos que, por meio de telefones celulares, articulam as ações nos presídios e também os ataques contra agentes da segurança pública. Ainda na sexta-feira, São Paulo começa a sofrer a primeira onda de ataques a policiais, guardas municipais e agentes penitenciários. A ação contra a força de segurança do estado deixa, entre a noite de sexta e a madrugada de sábado, 21 mortos e 15 feridos.

Domingo (21)
Primeiro ataque registrado. Seis homens armados de fuzis incendeiam dois carros na Linha Vermelha, no início da tarde. Os criminosos ainda disparam várias vezes contra um carro da Aeronáutica. Ninguém se fere. O ataque ocorreu na via expressa, no acesso a Duque de Caxias. À noite, outros dois ataques foram registrados em Laranjeiras e na Pavuna.

 

Sábado (13)
A onda de ataques é intensificada, e em 69 atentados, 27 policiais e 1 civil são mortos. Os ataques ultrapassam os limites da Grande São Paulo e atingem postos da polícia no litoral e no interior do estado. Mesmo fora de serviço, integrantes das forças de segurança do estado são assassinados. O governador de São Paulo, Claudio Lembo, declara que o governo sabia desde a noite de quarta-feira que pessoas ligadas ao crime organizado planejavam promover ataques à polícia. Lembo anunciou também o cancelamento de todas as folgas e férias de policiais e agentes penitenciários. A segurança em postos de guarda e nas delegacias foi reforçada.

Segunda (22)
Uma cabine da Polícia Militar é atacada na noite de segunda-feira (22), na Avenida Dom Hélder Câmara, na altura de Del Castilho, no subúrbio da cidade. Dois carros foram roubados e outros dois incendiados durante um arrastão na Rodovia Presidente Dutra, na altura da Pavuna. No decorrer do dia, o governo do Rio de Janeiro aumentou o patrulhamento da PM e atribuiu os arrastões a um grupo “pequeno” de facção criminosa.

Domingo (14)
Com a segurança das delegacias reforçada, o comando do crime organizado muda os alvos dos ataques. Surgem os primeiros relatos de agências bancárias atingidas por tiros e bombas caseiras. Criminosos atiram três granadas contra o Fórum Regional de Santana, na zona norte da capital. A partir do início da tarde de domingo, dezenas de ônibus são incendiados – ao menos 50 carros são destruídos. No total, mais de 25 mil detentos de 73 unidades prisionais – de um total de 107 em todo o estado, entre presídios e Centros de Detenção Provisória (CDPs) – se rebelaram durante o fim de semana. No final da tarde de domingo, presos de 57 penitenciárias e CDPs permanecem rebelados. O número de mortos por conta dos ataques chega a 72, entre policiais, civis e agressores. A polícia passa a reagir com mais força aos ataques, e o número de suspeitos de participação nos ataques mortos chega a 23.

Terça (23)
As operações da Polícia Militar em cerca de 20 favelas, utilizam um efetivo de pelo menos 13 batalhões. À tarde, dois policiais do Grupamento de Polícia Ferroviária (GPFer) são atacados por criminosos, na estação de trem de Senador Camará, na Zona Oeste da cidade. Ninguém fica ferido. Também durante a tarde, dois carros do 16º BPM (Olaria) são atacados por criminosos na Penha, no subúrbio do Rio. A PM confirmou que oito homens foram presos, e outros dois, mortos, durante as operações.

Segunda (15)
No mesmo dia que a organização criminosa determina o fim das rebeliões e a suspensão dos atentados, a cidade de São Paulo vive horas de caos. O transporte público deixa de funcionar e o comércio fecha as portas. Às 18h, a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) registra 212 km de vias paradas, contra média de 58 km. O pânico atinge também outras cidades do litoral e do interior do estado. Em Santos, comerciantes recebem avisos falsos de que haveria ataques a quem não fechasse as portas durante a tarde, e a maioria das lojas encerra o expediente mais cedo.

Quarta (24)
Durante o dia, segundo a Polícia Militar, 15 suspeitos são mortos, 31 presos e 2 policiais ficaram feridos; várias armas e drogas são apreendidas. Até o fim da noite, o total de veículos incendiados no estado chegou a 28 desde a noite de terça, sendo 17 carros, 8 ônibus, duas vans e um caminhão. Em entrevista ao Jornal Nacional, o governador Sérgio Cabral diz que pediu apoio à Marinha. O governador ressaltou que a Marinha não teria atuação direta no combate às ações violentas no Rio, mas sim logístico.

Terça (16)
Chega ao final a onda de ataques a alvos policiais e civis em São Paulo. Mesmo após o anúncio do “cessar-fogo” feito por facções criminosas, na segunda-feira, a polícia registra mais cinco mortos em confrontos com suspeitos.

 

Quinta (25)
Avião da Polícia Federal com presos pousa no início da madrugada em Cascavel (PR). No final da manhã, tem início uma megaoperação do Bope na região das favelas na Penha, com seis veículos blindados da Marinha e dois caminhões. Durante a tarde, 350 policiais tomaram o controle da Vila Cruzeiro, provocando a fuga em massa de suspeitos da comunidade. 31 veículos foram atacados (13 carros, duas vans, 11 ônibus, duas motos, dois caminhões e um micro-ônibus) e 25 pessoas morreram.

uarta (17)
Policiais de Campinas prendem quatro acusados de participar de um atentado a um posto policial na cidade.

 

Sexta (26)
Durante a noite, a Polícia Civil prende Márcia Gama Nepomuceno, mulher do traficante Marcinho VP, que teria ordenado os ataques orquestrados. Cerca de 800 soldados do Exército são mandados ao conjunto de favelas do Alemão e à Vila Cruzeiro. Na Vila Cruzeiro, três são mortos em confronto. Nas favelas do Alemão, ao menos cinco pessoas ficaram feridas até a noite, entre elas um fotógrafo da Reuters. Oito presos são transferidos para presídios federais. Em visita à Guiana, o presidente Lula garante total apoio do governo às autoridades do Rio. Pelo Twitter, a presidente eleita Dilma Rousseff posta mensagem de apoio ao governador Sérgio Cabral. Segundo a PM, desde domingo foram registrados 96 veículos incendiados, 48 armas, 8 granadas apreendidase 196 pessoas detidas.

Quinta (18)
O Instituto de Criminalística de Osasco, na Grande São Paulo, é alvo de mais um atentado. Dois homens são mortos pela Rota.

 

Sábado (27)
Houve intensa troca de tiros em diversos momentos do dia e da noite no Conjunto de Favelas do Alemão, na Penha, Zona Norte. Até a noite, a Polícia Militar tinha confirmado 35 mortos na operação. Durante a tarde, veículos blindados avançaram à entrada do Alemão e mais de 30 suspeitos foram detidos. Apontado pela polícia como segurança do maior chefe do tráfico do Alemão, Edson Souza Barreto, conhecido como Piloto, foi preso. Diego Raimundo Silva Santos, o Mister M, se entregou à polícia. O dez homens detidos por envolvimento nos ataques desta semana chegaram ao presídio federal de segurança máxima de Catanduvas. Pouco antes das 17h, um helicóptero da Polícia Civil foi alvo de tiros de traficantes. O prazo para que os criminosos se entregassem terminou no fim do dia. Em nota, o governador Sérgio Cabral reafirmou seu compromisso de não recuar e pacificar todas as comunidades do Rio.

Sexta (19)
O secretário Saulo de Castro Abreu Filho informa a suspensão dos serviços de telefonia móvel nas proximidades dos presídios de Avaré, Presidente Venceslau, Iaras, Araraquara, São Vicente e Franco da Rocha. A assessoria de imprensa da Secretaria de Segurança informa que o número de ataques à polícia caiu drasticamente.

Domingo (28)
Começa às 8h a ocupação do Alemão pela Rua Joaquim de Queiroz, a partir da Estrada de Itararé. Cerca de 2.600 homens participam da operação, com helicópteros e veículos blindados. A entrada das equipes foi marcada por uma grande troca de tiros. Às 8h25, agentes chegam à região conhecida como Areal, no centro do Conjunto do Alemão. O comandante-geral da Polícia Militar, Mário Sérgio Duarte, anuncia vitória às 9h20. Nas incursões, os policiais apreendem grande quantidade de drogas e armas. A Estrada do Itararé é parcialmente liberada para o tráfego de veículos. O coronel Lima Castro, Relações Públicas da PM, afirma que a varredura no Alemão pode durar dias. Cerca de 200 criminosos ainda podem estar no local.

Sábado (20)
Três jovens são detidos após tentarem jogar um ‘coquetel molotov’ num bar localizado na avenida Clodomiro Amazonas, no Itaim Bibi. A cidade vive o primeiro fim de semana tranqüilo após o início dos conflitos.

Segunda (29)
Depois de dois dias cercados por tropas policiais e das Forças Armadas, moradores do Conjunto de Favelas do Alemão, na Penha, Zona Norte do Rio, viveram uma madrugada de silêncio e aparente tranquilidade na segunda-feira (29). Considerados presos de alto risco, os chefes do tráfico de algumas favelas foram levados diretamente para o conjunto de penitenciário de Bangu, na Zona Oeste. Graças a denúncias dos moradores, a polícia encontrou 30 granadas, 15 pistolas, fuzis, armas e munição. A Secretaria Estadual de Educação do Rio informou que pelo menos 1.050 alunos ficaram sem aula.

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