‘É necessário investir em divulgação externa da música regional’, diz especialista; confira o vídeo com artistas locais
Midiamax em entrevista exclusiva com o coordenador do curso de Música da UFMS, Evandro Higa, revela a riqueza da música local e suas influências, em especial a paraguaia; vídeo apresenta entrevista com artistas como Beth e Betinha, Almir Sater e Thiago e Donizeti
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Midiamax em entrevista exclusiva com o coordenador do curso de Música da UFMS, Evandro Higa, revela a riqueza da música local e suas influências, em especial a paraguaia; vídeo apresenta entrevista com artistas como Beth e Betinha, Almir Sater e Thiago e Donizeti
“(…)Como a senhora compõe suas músicas? A música pra mim vem rápido. Sento no chão e vejo boiadeiro assobiar, gravo aquilo e depois tiro no violão. De repente, já fiz a música.
Essas músicas sempre refletem sua região? Isso. O sistema lá do Mato Grosso do Sul é o mesmo do Paraguai. Nós nascemos e nos criamos ouvindo essa música de fronteira. Aprendi misturando coisas de paraguaiada com o que eu ouvia lá no Mato Grosso do Sul. Nosso ritmo preferido é a polca paraguaia. Eu tenho sangue de paraguaio, índio e mineiro. Eu puxei mais o lado paraguaio. Cantei muito em guarani também’. (Site Som Pantaneiro – Helena Meireles, instrumentista, nascida no Pantanal de MS – morreu aos 81 anos em 2005)
“(…)A polca paraguaia e a guarânia se constituem em gêneros musicais representativos da identidade cultural do Paraguai, enquanto o chamamé, a despeito de ter se originado da polca paraguaia, é identificado como produto cultural do norte da Argentina. Os três gêneros integram o universo identitário da região centro-sul de Mato Grosso do Sul e sua capital Campo Grande. Seus componentes estruturais tem influência marcante sobre a produção musical da região, contribuindo para a manutenção de um sistema de representações culturais configurado no mito da “ alma guarani” . (Polca, guarânia e chamamé – A persistência da música Paraguaia em Campo Grande – Evandro Rodrigues Higa/Mestre em musicologia/Universidade de São Paulo)
Uma conversa com o coordenador e professor do curso de Música da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), Evandro Higa, traduz um pouco do que significa a música de Mato Grosso do Sul, terra de Helena Meirelles, que perdeu nos últimos dois anos outros nomes importantes como Délio [in memorian – da dupla Délio e Delinha], Mário Zan [compositor de Chalana] e o radialista Ramão Achucarro [radialista e um dos divulgadores da música regional].
Para compor a entrevista com o especialista, confira o vídeodocumentário ‘Do Sertão Mesmo, só Saudade: transformações de uma tradição musical’, tema do projeto de graduação de acadêmicos de Jornalismo da Estácio de Sá [Fabiano Arruda e Laura Holsback]. [Assista o documentário em 3 partes logo abaixo]
Nele, artistas como Amambai e Amambaí, Délinha, Beth e Betinha, Dino Rocha, Marlon Maciel, Tostão e Guarani, Almir Sater.
Um espaço especial também foi deixado aos artistas da nova geração como Thiago e Donizetti, Alex e Ivan que também participaram do vídeo exibido pelo Midiamax.
O trabalho de graduação foi analisado por Higa, que está em São Paulo, mas em entrevista exclusiva (via e-mail) ao jornal Midiamax falou de forma simples e objetiva sobre a riqueza cultural do Estado e a falta da valorização histórica e investimentos na arte.
“Sinto falta de maior divulgação midiática da nossa produção, não só a nível local e regional, mas também nacional. Corumbá e Bonito, por exemplo, tem festivais culturais interessantíssimos que ficam praticamente restritos ao âmbito local e regional. É necessário investir em divulgação externa”.
Eis a entrevista:
Midiamax – Professor, como o senhor analisa o sucesso e o ‘boom‘ comercial dos músicos de MS?
Evandro Higa – Bom, sua pergunta tem duas palavras importantes: sucesso e comercial. Temos que levar em conta que, apesar da projeção nacional que músicos locais têm alcançado [e isso é muito bom] nosso Estado tem uma diversidade musical muito interessante cujos músicos lutam para se posicionar no cenário artístico. Seria melhor ainda se não ficássemos marcados de forma exclusiva como um celeiro para o segmento chamado “sertanejo universitário”, mas que se abrisse o leque de tendências e vertentes musicais mesmo dentro do próprio sertanejo, já que temos uma grande tradição histórica nessa área.
Midiamax – Na contramão, observamos o esquecimento das músicas que contam a história do dia a dia sertanejo. Como resgatar o melhor da música de raiz?
Higa – É impossível, em um contexto de modernidade, voltar atrás e “resgatar” valores anteriores a essa modernidade. Vivemos em um mundo globalizado, conectado, onde as informações circulam a uma velocidade incrível. Não há como escapar dessa realidade e voltar a um passado idealizado. O que se tem que buscar são mecanismos e políticas culturais que saibam lidar com essa contradição. É uma questão bastante complexa.
Midiamax – Quais as principais influências da música regional de raiz e as diferenças observadas na fronteira, na Capital, perto da divisa com SP, GO e PR?
Higa – Pela posição geográfica [não apenas espacial, mas principalmente humana] e pelas condições históricas que vinculam grande parte de nossa fronteira ao Paraguai, não há dúvidas de que a polca paraguaia e a guarânia são gêneros que ocuparam (e ocupam) papel de destaque na configuração de nosso cenário musical regional. O rasqueado de Mato Grosso do Sul é um gênero musical híbrido, produto da confluência de padrões musicais oriundos da polca paraguaia e da música caipira brasileira. Eis o nosso tesouro.
Midiamax – Professor, quais os estilos de músicas de MS?
Higa – Veja bem, a palavra “estilo” pode remeter a condições estéticas subjetivas dos músicos ou configurar um corpo mais ou menos coeso e uniforme formado por essas subjetividades. Ainda é um campo que não foi explorado como objeto de pesquisa. Seria muito inconseqüente afirmar qualquer coisa aqui sem bases teóricas e empíricas devidamente estudadas.
Midiamax – E os instrumentos? Quais são os novos instrumentos inseridos na música raiz?
Higa – A tecnologia dos instrumentos musicais tem se tornado cada vez mais sofisticada e isso com certeza influi em mudanças estéticas. Mas gostaria de acreditar que sempre vai haver alguém interessado em tocar violas de cocho ou violas caipiras, mas claro que serão inevitáveis transformações e resignificações de seu papel cultural.
Midiamax – A gente sabe que não é fácil definir o que é música de raiz, mas no meio de ritmos gaúchos, nordestinos, indígenas, paraguaios, espanhois, entre outros. Qual seria a diferença de música regional de MS para o sertanejo de São Paulo e Minas Gerais?
Higa – Com certeza, a herança da música paraguaia. É o nosso diferencial.
Midiamax – Recentemente, um projeto da Petrobras patrocinou o Ava Marandu, um super espetáculo que colocou em um mesmo palco Dino Rocha, Tostão e Guarani, Miska, jovens guarani com o som do hip hop…foi muito emocionante e rica a experiência cultural. Ações como essa deveriam ser feitas em todas as regiões de MS?
Eu não pude ver esse espetáculo, mas me parece muito interessante. Gostaria de saber mais sobre esse projeto.
Midiamax – O que falta para difundir melhor a nossa cultura para o nosso povo de MS?
Higa – Sinto falta de maior divulgação midiática da nossa produção, não só a nível local e regional, mas também nacional. Corumbá e Bonito, por exemplo, tem festivais culturais interessantíssimos que ficam praticamente restritos ao âmbito local e regional. É necessário investir em divulgação externa.
Midiamax – Se fosse para o senhor resumir a cultura musical de MS, de que forma resumiria?
Diversidade e tradição fronteiriça paraguaia.
Videodocumentário parte 1
Videodocumentário parte 2
Videodocumentário parte 3
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