Despejados do Residencial Iguatemi vivem agora em mata próxima das casas que desocuparam

Ao menos 200 pessoas, entre elas crianças e idosos, vivem hoje de maneira primitiva numa mata perto do residencial Iguatemi, em Campo Grande, de onde 33 famílias foram despejadas ontem

Ouvir Notícia Pausar Notícia
Compartilhar

Ao menos 200 pessoas, entre elas crianças e idosos, vivem hoje de maneira primitiva numa mata perto do residencial Iguatemi, em Campo Grande, de onde 33 famílias foram despejadas ontem

Sem casa para morar, dinheiro e emprego, as 33 famílias despejadas ontem do residencial Iguatemi, conjunto habitacional construído aos arredores do bairro Nova Lima, em Campo Grande, montam desde ontem barracos de lonas numa mata perto dali, encostada num outro residencial recém-erguido, o Tarcila do Amaral. O número de desabrigados já soma 200 pessoas, entre elas crianças e idosos.

As famílias despejadas ontem haviam invadido as casas 40 dias atrás. Elas entraram nas unidades ainda não habitadas pelos sorteados. O residencial possui 123 casas que foram construídas por meio de recursos estaduais e federais.

Durante o despejo, a Agehab (Agência Estadual de Habitação Popular) disponibilizou dois caminhões para transportar os móveis dos desapropriados. Ocorre que as famílias não tinham para onde mandar seus pertencentes e resolveram ir para a mata, que já havia virado moradia de famílias de sem-teto.

Na manhã desta sexta-feira três famílias construíam um barraco que deve ser habitado por 15 pessoas.

Anderson Aguero, 30, a mulher e os três filhos dividem o espaço com Mário Nelson da Silva, 30, a mulher e os quatro filhos também pequenos. No barraco, vai morar ainda Hosalino Salcedo, 29, que é casado e pai de dois filhos.

Mário Nelson disse que fez inscrição na Agehab há sete anos e, segundo ele, desde então tem renovado seu cadastro. Ele acha que ainda não recebeu a casa por “não ter renda fixa”.

A assessoria jurídica do órgão informou ontem que a maioria dos sem-teto faz a inscrição e não retorna mais para renovar os documentos.

Enquanto os homens erguem os barracos, as mulheres saem e pedem de casa em casa comida aos filhos, disseram os sem-teto.

Tanizia do Nascimento, 22, despejada ontem do residencial Iguatemi, dormiu a noite passada ao lado do marido num único móvel que possui: um sofá velho.

Os dois filhos pequenos do casal, um de três anos de idade e o outro de dez meses foram levados para a casa de amigos. Ela disse que no domingo recebeu a visita de um oficial de justiça dizendo que a ordem de despejo seria cumprida num prazo de dez dias. “Ontem [quinta-feira] cedo a polícia já estava aqui”, reclamou.

Casa queimada

Já a dona de casa Maria Luiza Rodrigues Martins, 30, mãe de seis filhos, era uma das mais desoladas nesta manhã de sexta-feira. Ele havia invadido uma das casas do residencial Iguatemi e lá guardado seus móveis.

Maria Luiza informou que tinha se separou do marido, o índio terena Jadenilson Martins Júnior, 30, já há algum tempo. Ocorre que nessa semana, o ex de Maria apareceu na casa, quis reatar a relação e, após ser rejeitado, pôs fogo na casa. Ela perdeu tudo que tinha e agora se juntou aos outros sem-teto. O marido dela fugiu.

A Agehab informou que o déficit habitacional afeta ao menos 80 mil famílias em Campo Grande, algo em torno de 10% da população da cidade.

Últimas Notícias

Conteúdos relacionados