Existem dois grupos distintos compartilhando o território ocupado. De um lado, os sem-teto expulsos das casas no residencial . Do outro, oportunistas que tentam a chance de sair do aluguel e obter um imóvel que pode valorizar nos próximos anos devido à construção de um shopping na região do bairo Nova Lima.

A primeira reintegração de posse de conjunto de casas populares em Campo Grande depois do pleito eleitoral de 3 de outubro aconteceu na sexta-feira, 15, no residencial Iguatemi. De lá para cá, muita coisa aconteceu com os moradores despejados que acabaram construindo barracos em uma área ao lado do bairro Tarsila do Amaral, também na mesma região.

Ontem (17) as famílias que tiveram que desocupar casas do residencial Iguatemi, por decisão judicial e com aparato da tropa de elite da PM, a Cigcoe, aproveitaram a folga do trabalho (quem o tem) para se organizar e escolher suas lideranças. Outras saíram catando tábuas, lonas e placas para erguer barracos, na esperança de conseguir um pedaço dele para construir definitivamente. Ninguém no local soube informar se a área é particular ou pública.

Aproximadamente 600 pessoas, entre homens e mulheres adultos, idosos e crianças estão no terreno que tem aproximadamente 40 hectares, ao lado do residencial Tarsila do Amaral. No local é possível verificar que existem dois grupos bastante distintos compartilhando o território.

De um lado os que tiveram que desocupar as casas no residencial Iguatemi e estão na condição de sem-teto. Do outro, oportunistas que viram a chance de sair do aluguel ou construir um emprendimento imobiliário que venha valorizar nos próximos anos devido à construção de um shopping na região do bairo Nova Lima.

Situação de risco

O grupo de sem-teto está no local numa condição degradante, inclusive tendo que dormir com as crianças no local, por falta de opção para onde ir. Uma das líderes é Andréia Cristina Ferreira que tem quatro filhos, com idades entre quatro e 16 anos, e está morando embaixo de um baraco de lona preta. Ela cadastrou pessoas que estão na mesma condição que a sua e também arrecadou moedas em um pote improvisado, para o caso de necessidade da compra de algum remédio, principalmente antitérmicos e analgésicos. “Nesta mudança de temperatura é bem fácil uma criança ter febre. Então gente já ta se preparando pra isto”, diz.

Jhonas de Oliveira é outra liderança que também improvisa barraco no terreno. Ele foi um dos despejados do residencial Iguatemi, onde também entrou em uma casa que não era sua. “A gente sabia que lá não era nosso, mas foi uma maneira de chamar a atenção tanto da nossa necessidade quanto ao fato de que tem muita casa lá fechada dese que foi entregue pros donos. Não queremos tomar nada de ninguém. Só queremos um teto pra colocar nossa família e ter dignidade”, frisa.

Ainda segundo Jhonas, o residencial Iguatemi foi entregue há aproximadamente 45 dias e que ele tem informações de que já tem gente vendendo imóveis com valores entre R$ 5 mil e R$ 8 mil. O fato é confirmado por Andréia Ferreira. “É só chegar lá com o dinheiro e fazer um contrato de gaveta em cartório”, diz ela.

Investimento de risco

Além de sem-tetos, o terreno está sendo disputado por oportunistas e sem-casa (pessoas que pagam aluguel). O local tem nítida divisão, onde os que não têm para onde ir ocupam a região ao lado do conjunto Tarsila do Amaral e os outros ficam no lado oposto, no final da Avenida Zulmira Borba – estrada que dá acesso ao antigo frigorífico Matel.

No lado “pobre” as famílias estão montando barracos improvisados com pedaços de placas, plásticos, lonas, madeiras recolhidas em lixões das redondezas. No lado “rico”, os oportunistas começaram a montar estrutura pouco depois, porém vão de carros caros como Cross Fox, Polo, Fiesta e caminhonetes Blazer e Ranger.

“Suaves prestações”

Com a problemática do déficit habitacional em Campo Grande, especialmente das pessoas que ocupam o terreno ao lado do Tarsila do Amaral, já tem gente fazendo planos econômicos. Laucí Inácio Pires, presbítero de uma igreja evangélica, está na Capital há 14 dias e pretende construir uma casa de materiais para construção bem próxima ao terreno disputado por sem-teto e sem casas. A ideia é vender parcelado “em suaves prestações”.

O presbítero estava no terreno invadido dando apoio para dois sobrinhos e um irmão que delimitaram espaço de 10×20 metros. Todos pagam aluguel em bairros próximos.

Audiência

Andréia Ferreira cadastrou neste domingo 62 famílias em um caderno que será apresentado nesta segunda-feira, 18, durante uma audiência na Assembleia Legislativa. O encontro com liderança políticas foi prometido pelo deputado estadual Coronel Ivan.