No dia em que foi punida por doping pela primeira vez na carreira, Daiane dos Santos estava feliz. A ginasta comentou nesta sexta-feira, em entrevista coletiva em São Paulo, a suspensão de cinco meses imposta pela Federação Internacional de Ginástica (FIG). Satisfeita com a pena mais branda do que o esperado, que permite por exemplo a disputa do Mundial em outubro, Daiane permaneceu serena durante toda a entrevista.

 A atleta admitiu que foi negligente ao tomar um diurético durante um tratamento estético, mas se disse feliz com a decisão: – Eu fui negligente, sei que cometi um descuido e nunca neguei isso. Fiquei muito feliz com os cinco meses. Vou poder me preparar bem, cuidar do meu joelho, ficar ainda mais forte e dar resultados – afirmou, ao lado do advogado Cristiano Caús.

Campeã mundial no solo em 2003, a ginasta foi pega no antidoping pelo uso de furosemida em 2 de julho do ano passado. A pena poderia chegar até dois anos de suspensão, mas foi reduzida para cinco meses e passou a valer desde a última quarta-feira. Apesar de não demonstrar emoção durante a entrevista, Daiane estava aliviada. A ginasta elogiou o tratamento que recebeu da comissão da FIG e agradeceu a ajuda do Pinheiros. – O resultado para mim foi superpositivo.

 A comissão me tratou muito bem, eles foram muito queridos e simpáticos. Queria agradecer a todas as pessoas que ajudaram a esclarecer e fizeram promessas, e ao Pinheiros, que esteve ao meu lado a todo momento. Tenho o direito de pagar pelos erros e ter uma nova chance. Não desejo isso para ninguém – disse. Wada ainda pode pedir pena mais dura Satisfeita com a pena de cinco meses, Daiane não pretende recorrer da decisão. A Agência Mundial Antidoping (Wada), no entanto, poderá levar o caso à Corte Arbirtal do Esporte (CAS), caso fique insatisfeita. – Eu não penso em recorrer, a decisão foi justa, afinal eu cometi um erro.

A gente tinha duas situações. A absolvição, que seria excelente, e a redução da infração. Não estou pensando na possibilidade de a Wada recorrer, mas acho que se ele quiserem, nós também teremos o direito. Assim como a pena pode aumentar, também pode diminuir. Não dá para pensar apenas no lado ruim. Concentrada agora nos treinos, Daiane já pensa nos Jogos de 2012, em Londres, mas tem o Mundial deste ano como objetivo imediato. Durante os cinco meses de suspensão, haverá etapas da Copa do Mundo. Logo após o fim da suspensão, acontece o Pan-Americano do México. O Mundial está marcado para o período entre 17 e 24 de outubro, na Holanda. – O

 Mundial é a principal competição para mim neste ano. Mas, antes disso, tenho que voltar à seleção brasileira. Preciso mostrar a eles que estou apta a retornar e defender o Brasil. Isso aqui foi uma vitória para mim, pelo jeito como tudo foi desenrolado, pela forma como a FIG me tratou. Disseram que fui muito sincera, muito verdadeira. Vou treinar muito agora para mostrar uma ginástica boa, provar que eu posso defender o meu país – explicou a atleta, que está treinando desde o início do mês, fazendo um trabalho de preparo muscular e compensando a perna direita após a lesão.

A ginasta, que usou um diurético durante um tratamento estético, espera que o caso sirva de exemplo para outros atletas, mas admite que não dá para descuidar da aparência. – Espero que o que aconteceu comigo sirva de exemplo para outros atletas. Acho que isso vai trazer coisas boas para mim. Quanta à estética, não dá para não cuidar. Além de ser atleta, sou mulher também – disse. Entenda o caso Em meados de dezembro, a ginasta fez questão de ir até Lausanne, na Suíça, para dar suas explicações sobre o caso.

O painel formado pelo tunisiano Rached Gharbi, pela portuguesa Margarida Dias Ferreira e pelo suíço Paul Engelmanno considerou seu depoimento transparente e construtivo. O que só fez a aumentar a esperança de Daiane com relação a um possível arquivamento ou à redução da punição. Desde o dia 30 de outubro, quando a FIG revelou o resultado do exame antidoping feito fora de competição, no mês de julho, a ginasta acreditava que pudesse convencer a entidade de que não teve a intenção de fazer uso do diurético para ter ganho de desempenho, já que estava se recuperando de uma cirurgia no joelho e fora da seleção brasileira desde outubro de 2008. Em entrevista coletiva concedida em novembro, ela confessou ter tomado a furosemida para auxiliar num tratamento estético feito com uma biomédica, que visava reduzir gordura localizada.

Daiane também admitiu ter sido desatenta, mas que não esperava estar elegível para os testes já que estava voltando a treinar aos poucos e não podia competir. Através de seu porta-voz, Philippe Silacci, a FIG explicou que a brasileira fazia parte da lista de atletas sujeitos a controle antidoping e que, por isso, deveria estar disponível e preparada para exames. Antes da declaração da entidade, o Pinheiros, clube que Daiane defende, chegou a alegar que cabia à CBG ter notificado a FIG de que a ginasta estava em recuperação clínica, o que poderia ter evitado a abertura do processo de investigação.

 Nos últimos meses, apoiada pela família e companheiros de seleção, Daiane se dedicou ao tratamento de fisioterapia e retomava, aos poucos, o treinamento, disposta a seguir com seu plano de encerrar a carreira somente após a disputa dos Jogos Olímpicos de Londres-2012