Criadores e técnicos da Iagro denunciam atraso da vacinação contra aftosa em MS

Agentes reclamam de falta de condições e governo alega que houve atrasos nos repasses federais, mas Ministério garante que já enviou recursos; 5000 mil doses de vacina podem ter estragado por armazenamento incorreto.

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Agentes reclamam de falta de condições e governo alega que houve atrasos nos repasses federais, mas Ministério garante que já enviou recursos; 5000 mil doses de vacina podem ter estragado por armazenamento incorreto.

A sanidade animal na ZAV (Zona de Alta Vigilância) que fica na faixa de fronteira dos municípios sul-mato-grossenses com o Paraguai e a Bolívia pode estar comprometida. O receio é dos produtores e agentes sanitários que denunciam a falta de pessoal e de vacina “agulha oficial” nesses locais.

A vacina de “agulha oficial” é aquela aplicada na zona onde os fiscais acompanham todo o processo de vacinação.

Na ZAV (Zona de Alta Vigilância), que abrange cinco mil propriedades rurais localizadas num raio de 15 quilômetros a partir das fronteiras do Brasil com o Paraguai e a Bolívia, a campanha obrigatoriamente deve seguir até que o serviço veterinário oficial relate a vacinação dos 800 mil bovinos da região.

Segundo o MAPA (Ministério da Agricultura e Pecuária), em Mato Grosso do Sul a zona abrange fazendas nos municípios de Corumbá, Ladário, Porto Murtinho, Caracol, Bela Vista, Antônio João, Ponta Porã, Aral Moreira, Coronel Sapucaia, Paranhos, Sete Quedas, Japorã e Mundo Novo, onde as ações de vigilância veterinária são reforçadas.

Nesses locais são cerca de 800 mil cabeças de gado, e segundo informações oficiais do MAPA as vacinas já foram enviadas. A vacinação que deveria ter terminado no último dia 15, segundo o cronograma do MAPA, ainda não deslanchou.

Outra reclamação dos agentes é a falta de pagamentos das diárias dos agentes e fiscais que devem fiscalizar o trabalho na ZAV. Segundo os profissionais, a alegação oficial é de que não há dinheiro para o pagamento das diárias, porém outra vez o MAPA informou que já foi enviado ao Governo do Estado o montante de R$ 1.250.000,00 para serem investidos em ações de defesa agropecuária, inclusive com o custeio de diárias e de todo o processo de vacinação.

De acordo com o MAPA, a vacina é enviada e fica a cargo do governo estadual a disponibilização dos funcionários para a vacinação. Também fica a cargo do governo estadual a armazenagem adequada das vacinas, que deve ser feita em baixa temperatura.

Esse “cuidado” esbarra em outra questão. Há a informação de que cinco mil unidades de vacina contra a febre aftosa “estragaram” por falta de armazenagem adequada na Iagro (Agência Estadual de Defesa Sanitária Animal e Vegetal).

A informação não foi confirmada oficialmente, porém, segundo relatos de fiscais e agentes sanitários que pedem para não se identificarem temendo represálias, a situação é perigosa para a manutenção da sanidade animal no Estado. A reportagem conversou com agentes de cidades fronteiriças na região sudoeste, e os relatos são de descaso por parte do Governo Estadual em relação a ZAV.

“Não tem equipe, não dinheiro, está um rolo. Os produtores estão loucos para vacinar e não têm como”, garante o agente de um dos postos.

“Tem vacina, chegou e não tem ninguém para fazer. Os produtores se sentem amarrados, pois não podem movimentar a ficha (ficha de vacinação)”, explica outro agente. Segundo eles, o produtor rural não pode fazer a vacinação, pois se trata de “agulha oficial”, ou seja, na ZAV, a vacinação deve ser feita pelos agentes sanitários.

Para os agentes entrevistados, a falta de manutenção do processo de vacinação contra a aftosa pode comprometer a sanidade animal em MS e deixa os produtores em situação muito difícil.

“Claro que isso vai comprometer. E o pessoal da Iagro sabe que isso pode comprometer. A gente liga lá, pergunta, questiona e eles dizem que não há nada definido. Que o Governo Federal não mandou a verba, ou que é para esperar”, conta o servidor.

Os produtores até buscam informações, porém, segundo os funcionários, a orientação seria de “enrolar” o produtor rural. “Eles chegam aqui e perguntam: chegou a vacina? Sempre pedimos para voltar amanhã. Então entramos em contato e falam que não tem ainda previsão. Daí, o produtor quer mandar gado para o planalto (região fora da ZAV) e fica de mãos atadas, não pode movimentar o gado dele, isso significa perder muito dinheiro”, explica o agente.

Entre os agentes, alguns esperam a determinação para trabalharem. “Vamos buscar informações sobre quando ir e sempre falam para esperar. Até sexta-feira está na espera, então porque não manda logo?”, questiona outro profissional.

Segundo ele, a informação é que o governador André Puccinelli não está pagando as diárias, inclusive daqueles que já estão trabalhando. “Quem trabalha não está recebendo as diárias, e eles dizem que é porque o MAPA não aportou as despesas por conta de política”, informa.

Segundo os agentes, para “mostrar serviço” o governo monta pequenas equipes de vacinação na ZAV, mas só para “aparecer na foto”. “Só tem um pouco de vacina e equipes incompletas. Até o momento a vacinação na ZAV não foi liberada para todo mundo. Eles falam que está tudo normal, mas não está não. Têm agentes aguardando o aval para trabalhar há duas, três semanas”, denunciam os profissionais.

O governo, por sua vez, se limita a informar que quem deve comprar a vacina é o produtor rural. No caso da ZAV, as informações deveriam ser obtidas junto à Seprotur (Secretaria de desenvolvimento agrário, da Produção, da Indústria, do Comércio e do Turismo). A reportagem tentou entrar em contato com a assessoria do órgão, mas até o momento de publicação desse texto não obteve resposta.

Na assessoria de imprensa do MAPA, a informação oficial é de que durante 45 dias, 400 veterinários e auxiliares do serviço oficial devem percorrer a Zona de Alta Vigilância (ZAV) para imunizar os animais. Segundo notícias publicadas no site oficial do Ministério, nesta etapa, o MAPA adotou inovações no processo de vacinação na ZAV.

Segundo o MAPA, o Serviço Veterinário Oficial do estado avalia as propriedades e identifica as que possuem estrutura para vacinar os animais independentemente.

“Caberá aos fiscais estaduais a supervisão do trabalho dos responsáveis técnicos e da equipe contratada pelo proprietário da fazenda”, explica Plínio Lopes, coordenador do Programa Nacional de Erradicação e Prevenção da Febre Aftosa (Pnefa) do Ministério da Agricultura na notícia publicada em outubro.

Situação que segundo os agentes e produtores rurais não está acontecendo.

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