A conferência em Montreal (Canadá) sobre o Haiti, que acontecerá nesta segunda-feira (25), “estabelecerá uma visão clara e comum na comunidade internacional” para a recuperação e reconstrução a longo prazo do Haiti, disse hoje, durante uma entrevista coletiva, o ministro canadense de Relações Exteriores, Lawrence Cannon.

Cannon disse que, embora uma das propostas a serem consideradas seja a eliminação da dívida do Haiti, como pediram algumas organizações não governamentais, é “prematuro” dizer se essa será uma das conclusões da conferência. “Queremos fazer isso [reconstruir o Haiti] bem”, afirmou Cannon, acrescentando que a reunião em Montreal não é uma conferência de doadores, e que esta será realizada nos próximos meses.

A reunião vai acontecer 13 dias depois do terremoto de magnitude 7 que atingiu o Haiti, com epicentro a 15 quilômetros da capital, Porto Príncipe. Funcionários de organizações de ajuda internacional tentam acelerar os trabalhos de entrega de alimentos, água e medicamentos. Os sobreviventes, acomodados em cerca de 300 acampamentos improvisados por toda a capital, reclamam que não estão recebendo ajuda suficiente, apesar da ampla campanha de auxílio internacional.

Tropas internacionais da ONU (Organização das Nações Unidas) lideradas pelo Brasil distribuíram comida e água em uma das maiores favelas do Haiti neste domingo. Na favela Cité Soleil, membros do Exército norte-americano formaram um corredor ao lado de casas, enquanto centenas de haitianos fizeram fila para receber pacotes de comida, água e biscoitos. A favela tem sido um foco de violência, mas não houve registros de problemas durante a entrega dos alimentos.

“A ajuda que temos disponível está sendo distribuída”, disse o tenente-general Ken Keen, comandante da operação militar norte-americana no Haiti. “Mas a necessidade é tremenda (…) Todo dia é um dia melhor do que ontem. Amanhã será um dia melhor do que hoje.”

Autoridades e organizações

O governo canadense disse que estarão presentes na conferência o primeiro-ministro haitiano, Jean-Max Bellerive, ministros do Grupo de Amigos do Haiti (Brasil, Argentina, Canadá, Chile, Costa Rica, França, México, Peru, Estados Unidos e Uruguai) e representantes do Japão, Espanha, República Dominicana e UE (União Europeia).

Também irão a Montreal órgãos como ONU (Organização das Nações Unidas), Banco Mundial, FMI (Fundo Monetário Internacional), Banco Caribenho de Desenvolvimento, OEA (Organização dos Estados Americanos), Caricom (Comunidade do Caribe) e BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento).

Embora a ONU tenha anunciado ontem que o governo do Haiti havia suspendido as operações de busca e salvamento, equipes de resgate internacionais conseguiram retirar no sábado um homem preso sob os escombros em Porto Príncipe. O governo haitiano, por sua vez, negou o fim das buscas. “O presidente não mandou encerrar as buscas. Elas continuam”, disse à Folha Volcy Assad, porta-voz de René Préval.

Alimentos

Além dos desafios logísticos, há ainda preocupações sobre a segurança e as operações de distribuição de comida.

O Programa Mundial de Alimentos foi forçado a suspender algumas das atividades de distribuição, após ataques a dois de seus comboios de ajuda na sexta-feira, disse Thiry Benoit, diretor adjunto da agência da ONU para o Haiti.

Uma maternidade no subúrbio de Petionville fez um pedido urgente por comida, no sábado, dizendo que estava lotada de mulheres grávidas e sem alimentos disponíveis. O grupo Food for the Poor afirmou ter enviado um carregamento de arroz, feijão e outros produtos para o local.

Autoridades do Programa Mundial de Alimentos estimam que alguma forma de auxílio já chegou a mais de dois terços dos acampamentos de desabrigados.

Dinheiro

Em meio à devastação, há indícios de que o Haiti está voltando à vida normal. As pessoas esperavam diante de bancos, reabertos no sábado, ansiosas para obter dinheiro para a compra de comida e bens essenciais.

Frutas e legumes voltaram a aparecer em abundância em bancas de rua, mas as pessoas dizem ter pouco dinheiro para comprá-los e que preços estão mais elevados do que antes do terremoto