A tendência de elevação de consumo da proteína animal e o cenário de valorização da carne bovina em âmbito global indicam um prognóstico positivo para o pecuarista. Ainda que a recomposição do rebanho ao ponto de atender o crescimento da demanda demore três ou quatro anos, de acordo com o ciclo de abate do gado, a tendência de mercado firme e sem oscilações sugere um período no qual o produtor poderá compensar os baixos resultados acumulados nos últimos anos.

A avaliação é da assessora técnica de pecuária da Federação da Agricultura e Pecuária de MS (Famasul), Adriana Mascarenhas, a partir da valorização da arroba do boi que, segundo o indicador Esalq/BM&FBovespa, atingiu R$102,90 na quinta-feira (21) para negociações à vista e R$ 103,53, à prazo. Maior preço nominal desde a criação do indicador, o valor da arroba é impulsionado por um conjunto de fatores que fizeram o gado se tornar escasso, tais como a forte estiagem dos últimos meses. “O abate de matrizes há cerca de quatro anos, quando o produtor estava descapitalizado, também contribuiu para o quadro atual de baixa oferta de animais”, complementou Adriana.

Paralelamente, o consumo interno se mantém em ascensão e a demanda externa demonstra que vai continuar crescendo. Dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, demonstram que o volume de carne in natura exportado no acumulado deste ano é 10% superior ao do mesmo período do ano passado. O resultado dessa matemática não poderia ser diferente, gerando a elevação no preço do produto.

A Argentina, que junto como Brasil é um dos maiores exportadores mundiais de proteína animal, viu a carne dobrar de preço nos últimos meses.  “No Brasil, nós saímos do pior para o melhor preço da arroba dos últimos 50 anos”, enfatiza o presidente do Fórum Permanente da Pecuária de Corte da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Antenor Nogueira.

Obedecendo a ciclos históricos com picos distintos de oferta e de preço, a pecuária nacional – não só a bovina, mas a suína e de aves também – vive a perspectiva de recuperação, ainda que a alta nos preços também interfiram no ritmo de reposição do rebanho.  “Não só o valor da arroba, mas os custos de produção e a reposição de bezerros também estão altos”, alega Nogueira. Para o dirigente, se o mercado continuar aquecido, a reposição do rebanho talvez exija um fôlego que o pecuarista não tem.

No âmbito do mercado internacional, o prognóstico de crescimento de demanda já se reverteu na disputa pela oferta da carne, voltando os olhos do mercado para os países do Mercosul, região produtora que reúne maiores condições de expansão e de competitividade. Esse movimento tem a contribuição de mercados emergentes como a China. Notícias veiculadas essa semana dão conta que o país aumentou a compra de carne 22 vezes em agosto em relação ao importando no mesmo mês do ano passado. “Já imaginou se cada chinês aumentar mais um bife na sua alimentação?”, indaga Adriana.