A poucas horas da definição do tamanho da oferta gigante de ações da Petrobras, opiniões de pessoas envolvidas na operação indicam que ela será bem-sucedida. A demanda pelos novos papéis não é um estrondo, mas suficiente para garantir o sucesso da operação.

Acaba nesta quarta-feira o período para investidores pedirem para entrar na operação, e o conselho de administração da Petrobras vai aprovar na quinta-feira o preço de estreia dos novos papéis, que vão entrar em negociação na Bovespa a partir da próxima segunda-feira.

Com base no valor de fechamento dos papéis ordinários e preferenciais da Petrobras no pregão de terça-feira, a oferta teria potencial de atingir um valor de R$ 133 bilhões, ou US$ 77,4 bilhões ao câmbio atual.

Seria de longe a maior operação do tipo já realizada no mundo, deixando longe a emissão da empresa de telecomunicações japonesa NTT, que arrecadou US$ 36,8 bilhões em 1987 e até então considerada a maior oferta de ações do mundo.

Com os recursos, a Petrobras poderá tocar seu enorme plano de investimentos de US$ 224 bilhões até 2014 e acelerar a exploração das gigantes reservas descobertas na bacia de Santos.

“A oferta será bem-sucedida. As pessoas sabem que é um bom ativo a um preço com desconto”, afirmou Marc Fogassa, gestor associado na Hedgefort Capital Management, em Pasadena, Califórnia, e também acionista da empresa. “Essas reservas de petróleo (da Petrobras) são consideravelmente melhores do que empresas nos Estados Unidos podem oferecer”, acrescentou.

As ações da Petrobras apanharam bastante durante todo o período de incertezas sobre a capitalizaçãoe muitos consideram que possuem potencial de valorização após a operação.

“Só o governo já garante uma adesão de 67% pelos R$ 74 bilhões que vai colocar pela cessão onerosa”, afirmou um analista de entidade que participa da oferta, e que por isso pediu anonimato. A cessão onerosa é o aporte feito pela União na forma de reservas de até 5 bilhões de barris de petróleo, pelas quais receberá novas ações.

“O preço vai sair abaixo, porém próximo do que está sendo negociado no mercado, em torno dos R$ 26… Ninguém vai querer ficar de fora”, acrescentou o analista.

Uma fonte próxima da direção da Petrobras, familiarizada com o roadshow que está sendo realizado na Europa e nos EUA, afirmou que a operação está sendo “bem aceita” entre os investidores nos mercados maduros.

Outro analista, de uma corretora de médio porte em São Paulo, no entanto, fez uma ressalva sobre a participação de investidores locais.

“De modo geral, investidor pessoa física se sentiu muito prejudicado pela demora do governo em definir os parâmetros da capitalização. Essa pessoa se sentiu um pouco receosa em colocar mais dinheiro em algo que ela já está perdendo bastante”, afirmou.

Segundo ele, investidores que compraram ações da Petrobras no passado recente a R$ 32 ou R$ 35 já estão “de saco cheio da ação”.

Mas ele indicou também o lado positivo para o papel de a capitalização estar, finalmente, perto da definição.

“A expectativa é que, bem ou mal, o fim do processo de capitalização deixe a empresa livre para andar com os fundamentos dela. Esse é o grande alívio. A gente está nos últimos capítulos de uma novela que já durou um ano.”

A operação envolve, direta e indiretamente, uma grande parte das instituições financeiras que atuam no Brasil. Participam da operação os bancos Bradesco, Bank of America, Merrill Lynch, Citigroup, Itaú Unibanco, Morgan Stanley, Santander Brasil, BTG Pactual e Banco do Brasil.

O lote inicial da oferta da Petrobras envolve 1,59 bilhão de papéis preferenciais e 2,17 bilhões de ações ordinárias. Os lotes adicional e suplementar incluem mais 940 milhões de ações.

Aliás, o aumento do limite para o lote adicional, na semana passada, foi considerado por muitos no mercado como sinal de boa demanda. Mas outros consideraram que poderia indicar que o preço médio possa ficar baixo e que, por isso, a estatal queira emitir mais papéis para levantar o dinheiro que pretende.

A Petrobras prepara um evento à altura do tamanho da emissão para marcar a capitalização. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai participar da solenidade, na Bovespa, e não deverá economizar nos adjetivos.

Na terça-feira, em Brasília, Lula voltou a falar do negócio. “Parece ironia do destino. Poderia ser a China, poderia ser os EUA, poderia ser a fusão da Microsoft com a General Motors. Poderia ser qualquer outra coisa. Mas é exatamente um país que é governado por um torneiro mecânico que vai fazer a maior capitalização que a história da humanidade já conheceu”, afirmou.

Nesta quarta-feira, perto das 16h, as ações ordinárias da Petrobras perdiam 0,84% na Bovespa, cotadas em R$ 29,55, enquanto o principal índice da bolsa subia 0,7%.