Câncer de sangue pode ser tratado como doença crônica

Teve início hoje (5/11), o Congresso Brasileiro de Hematologia e Hemoterapia em Brasília. Entre os temas que serão abordados estão os avanços no tratamento do mieloma múltiplo (MM), segundo tumor hematológico (do sangue) mais comum no mundo, representando cerca de 1% de todos os casos de neoplasia (câncer maligno) e cujos sintomas são confundidos com […]

Ouvir Notícia Pausar Notícia
Compartilhar

Teve início hoje (5/11), o Congresso Brasileiro de Hematologia e Hemoterapia em Brasília. Entre os temas que serão abordados estão os avanços no tratamento do mieloma múltiplo (MM), segundo tumor hematológico (do sangue) mais comum no mundo, representando cerca de 1% de todos os casos de neoplasia (câncer maligno) e cujos sintomas são confundidos com osteoporose atrasando o diagnóstico.

Segundo o hematologista Angelo Maiolino, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro e membro do comitê científico da International Myeloma Foundation América Latina, as novas drogas e tecnologias estão mudando o curso da doença que anteriormente proporcionava poucos anos de sobrevida e hoje apresenta uma tendência a ser encarada e tratada como doença crônica, com taxas crescentes de sobrevida e melhora da qualidade de vida dos pacientes.

Segundo o especialista, o mieloma múltiplo é o câncer de sangue com maior progresso e maior mudança em seu tratamento nos últimos anos. Esse avanço ocorreu em função da disseminação do uso de novos medicamentos e da realização de transplantes autólogos (da própria pessoa) de medula óssea, proporcionando um aumento médio na sobrevida em mais de 30%.

Na década de 90, havia poucas opções terapêuticas e a sobrevida média era de no máximo 3 anos. Hoje, com o avanço das novas drogas, ela passou para mais de 5 anos, podendo se tornar uma doença crônica nas próximas décadas.

A aprovação do uso de novas drogas para o tratamento do mieloma múltiplo tem colaborado nesta mudança de cenário. De acordo com outra palestrante do Congresso, a hematologista Vania Hungria, professora de hematologia da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, o uso precoce de bortezomibe, aprovado pela Anvisa em Setembro de 2010 para o uso como primeira opção no tratamento da doença, beneficia os pacientes com maiores taxas de resposta, aumento na sobrevida e redução do risco de morte em até 35%.

“O uso desse medicamento desde o início do tratamento aumenta muito as taxas de sobrevida e resposta do paciente ao tratamento”, explica. O novo medicamento também controla melhor os sintomas e consegue melhorar o prognóstico de alguns pacientes. Resultados do estudo VISTA, realizado com mais de 600 pacientes em vários países do mundo, demonstraram que o bortezomide está associado a uma taxa de resposta de 80%. quando utilizado como primeira opção de tratamento em pacientes não elegíveis à transplante de medula óssea.

Maiolino explica ainda que cerca de cinco novas moléculas devem ser lançadas no Brasil até 2015 e que, apesar de todos esses avanços tecnológicos e científicos, ainda existem grandes desafios para o tratamento da doença no Brasil.

“Ainda precisamos enfrentar a barreira de acesso a essas novas drogas, pois essas tecnologias têm um custo mais alto. Também é preciso melhorar o diagnóstico já que normalmente os pacientes demoram cerca de dois anos para chegarem até o hematologista.

Ou seja, é necessário aumentar o conhecimento sobre a doença e seus sintomas para a população e também para a comunidade médica que recebe estes pacientes num primeiro momento da manifestação da doença, como geriatras e ortopedistas”, finaliza.

Sobre a doença

O mieloma múltiplo (MM) é o segundo tumor hematológico (do sangue) mais comum no mundo, representando cerca de 1% de todos os casos de neoplasia (câncer maligno). Ele ocorre devido ao crescimento descontrolado de células plasmáticas – produzidas na medula óssea – que se acumulam na medula óssea e causam problemas nos ossos e rins, anemia, fraturas e infecções. É mais predominante em pessoas com mais de 60 anos.

De acordo com estudo realizado pela Santa Casa de São Paulo sobre a doença em 10 hospitais brasileiros e com aproximadamente 1.100 pacientes, apenas 5% das pessoas diagnosticadas com mieloma múltiplo no estudo descobriram o câncer em exames de rotina, ainda no início da doença. No Brasil, a estimativa é de quatro casos de mieloma múltiplo para cada 100 mil habitantes. Nos EUA, são registrados 19 mil novos casos anualmente.

A doença pode ser controlada em mais de 80% dos casos, desde que o tratamento seja feito corretamente e principalmente desde sua fase inicial. Com a melhora do paciente, os ossos se regeneram e é possível até mesmo voltar a praticar atividade física normal.

Conteúdos relacionados