Baixa temperatura castiga moradores na Cidade de Deus
Nos bairros mais pobres, famílias enfrentam como podem sensação térmica que chegou a Zero graus Celsius durante boa parte da sexta-feira, e frio continua no final de semana.
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Nos bairros mais pobres, famílias enfrentam como podem sensação térmica que chegou a Zero graus Celsius durante boa parte da sexta-feira, e frio continua no final de semana.
Campo Grande continua enfrentando os efeitos de uma frente fria que deixou o inverno deste ano rigoroso como há anós não se via na capital. Durante a maior parte da sexta-feira (16), a temperatura ficou na faixa dos 7° C, com sensação térmica de zero grau. Um forte nevoeiro fechou o aeroporto internacional de Campo Grande e a umidade relativa do ar alcançou 93%.
Nos bairros onde a miséria persiste, como na favela da “Cidade de Deus”, no bairro Dom Antonio Barbosa a situação dos moradores é grave. Em barracos de compensado, famílias sofrem com o frio e dentro das residências improvisadas a situação fica pior durante a noite, quando a sensação térmica piora.
Na casa de Isabel da Silva (56), o frio é amenizado pelas roupas e cobertas doadas em ações sociais. “Ontem nós ganhamos duas cobertas aqui”, conta ela. Mãe de 12 filhos, apenas 9 vivos. Dona Isabel quer os filhos por perto. Todos moram na favela da CDD, como os moradores chamam o local.
“Eu ganhei as cobertas, mas dei uma pro meu filho e a outra está aqui para cobrir o Fabinho”. Esse é jeito que ela chama o filho de 24 anos. Portador de deficiência mental, ele passa do dia em um cercado, mesmo no frio.
“Eu não posso deixar ele dentro da casa, se não ele quebra tudo. Então ele tem que ficar ai. Mas não tem roupa que vence, já que ele faz as necessidades na roupa e eu não consigo comprar as fraldas para ele”, lamenta.
Há três anos morando no barraco da CDD, ela lava as roupas com água do poço e acha que a situação só vai mudar quando as casas prometidas forem entregues.
Essa é a mesma situação da catadora de recicláveis Vera Monteiro (41). Acompanhada de dois sobrinhos pequenos, ela fica em volta do fogão à lenha improvisado no quintal. “Eu não tenho fogão a gás, então faço comida aqui mesmo e quando está muito frio esquentamos a água para tomar banho”, conta.
A família aproveita o fogo para se aquecer. Ela tem três filhos e considera o barraco um lugar seguro. “Tem gente em situação pior aqui, então quando eu posso ajudo outras pessoas”, diz, enquanto exibe a coberta que ganhou de doações.
“Está cheia de pelo de gato, mas vou lavar, pois é novo. Na certa alguém usava para algum gatinho dormir e resolveu doar”, palpita.
O barraco de dona Vera é ponto de referência para algumas doações. “Ah, temos que ajudar quem tem menos do que a gente. Ganhei uma sacola de roupas aqui e juntei com outras e demos para outros catadores. Lá dentro do aterro é muito frio”, reclama.
O catador Valmir Silva (33) concorda com ela. “No frio eu nem queria catar, mas como vou fazer? Eu ganho conforme eu trabalho”. Segundo ele, no lixão o frio é mais intenso. “Lá é muito frio, é um lugar alto e mesmo bem agasalhado as mãos doem muito” lamenta.
E os trabalhadores e moradores do entorno do lixão e de todo o Estado podem se preparar, pois segundo as previsões, esse inverno será rigoroso e a próxima semana o frio promete deixar muita gente dentro de casa. Mesmo que seja um barraco de compensado, ainda é o lugar preferido para se proteger.
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