Ataque mata 3 e fere 54 na véspera das eleições no Iraque

As eleições de amanhã no Iraque serão um passo-chave para a progressiva retirada militar dos Estados Unidos, cuja presença ainda gera sentimentos exacerbados e incomoda líderes políticos do país árabe. Entretanto, o clima é de incerteza às vésperas da eleição. Hoje, três peregrinos iranianos morreram e outras 54 pessoas ficaram feridas pela explosão de um […]

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As eleições de amanhã no Iraque serão um passo-chave para a progressiva retirada militar dos Estados Unidos, cuja presença ainda gera sentimentos exacerbados e incomoda líderes políticos do país árabe.

Entretanto, o clima é de incerteza às vésperas da eleição. Hoje, três peregrinos iranianos morreram e outras 54 pessoas ficaram feridas pela explosão de um carro-bomba junto a um ônibus na cidade santa xiita de Najaf, no Iraque, a cerca de 160 quilômetros de Bagdá.

Ao todo, no mínimo, 49 pessoas foram mortas nos últimos dias de campanha eleitoral, algumas delas soldados e policiais que votaram antecipadamente.

As eleições de domingo vão ser um teste para a jovem democracia do Iraque, e vão ajudar a decidir se o país pode evitar a eclosão de surtos de violência –para, a partir daí, preparar a retirada das tropas americanas, no final de 2011.

Os soldados americanos chegaram ao Iraque em 2003, liderando uma coalizão internacional que tirou Saddam Hussein do poder. Desde então, o país mergulhou em um conflito com um inimigo a cada dia mais esquivo.

Atualmente, há cerca de 96 mil soldados americanos em solo iraquiano, mas o plano dos EUA é retirar metade desses militares até 1º de setembro deste ano. A outra metade, segundo o acordo entre as duas nações, deverá voltar para casa até o fim de 2011, cronograma o governo de Barack Obama não pretende mudar.

Se há quatro ou cinco anos os soldados estrangeiros travavam uma dura batalha contra as forças rebeldes, a violência agora está associada a grupos terroristas cujos alvos são fundamentalmente a população iraquiana e as representações do Estado.

“A violência atual não está ligada aos americanos, estejam eles presentes ou não”, declarou o deputado independente Azat al-Shabandar, aliado do primeiro-ministro Nouri al-Maliki e que tentará a reeleição no domingo.

Independetemente disso, o secretário de Defesa americano, Robert Gates, anunciou há pouco tempo que os EUA mantêm seu plano de uma retirada progressiva do Iraque, o que só deverá mudar se a situação se agravar de forma “muito significativa”, a ponto de justificar um adiamento. “E certamente ainda não estamos vendo essa situação”, afirmou.

Sob tensão

A retirada americana vai ser concluída sem as tropas terem cumprido um de suas principais missões: acabar com a insegurança no país, tarefa que ficará a cargo de aproximadamente 1 milhão de soldados e policiais iraquianos.

“Todos queremos que [os americanos] vão embora, mas se querem transferir o poder ao Irã, é ruim’, declarou o político sunita mais importante do Iraque, Saleh al-Mutlaq, ferrenho crítico da suposta interferência iraniana nos assuntos iraquianos.

Os EUA, segundo Mutlaq, criaram um vazio ao desarticularem o Exército iraquiano no conflito iniciado com a invasão de 2003.

“Querer que o Irã ocupe esse vazio é ruim, mas se solucionarem os problemas antes irem embora, damos nossas boas-vindas”, acrescentou.

Os EUA querem tirar soldados do Iraque para levá-los para o Afeganistão, e, embora haja questões pendentes, dificilmente restarão militares americanos no país árabe após 2011, dizem as autoridades americanas.

“Estamos indo embora, pacífica ou dolorosamente”, disse recentemente, segundo um diplomata, um representante americano em Bagdá numa reunião privada com o corpo diplomático credenciado nesta capital.

Por enquanto, políticos do Iraque como Shabandar acham que a retirada americana “dará mais força ao governo”, seja o de Maliki ou o que surgir do pleito de domingo.

Nas ruas de Bagdá, onde não soldados americanos não são vistos desde julho do ano passado, os iraquianos têm suas dúvidas. “É uma confusão. Se forem embora, vai a haver desordem, e, se ficarem, também”, opina o vendedor Ali Nameh, 37.

“O Exército americano é mais confiável”, diz, por sua vez, o carpinteiro Ali Nasser, 30. Outros iraquianos, como o general reformado Fouad a-Nuaimi, acham ‘muito arriscada’ a saída dos militares americanos, uma vez que o Exército nacional não está bem treinado e não dispõe de equipamentos necessários para missões básicas, como cuidar as fronteiras.

Segundo Nuaimi, que esteve à frente de tropas durante o regime de Saddam Hussein, o Exército iraquiano atual “é inútil”, por isso seria conveniente que os EUA permanecerem no Iraque “por pelo menos
três anos”.

“Do contrário, a situação ficará fora de controle”, afirmou.

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