Artuzi solta frase preconceituosa em entrevista a rádio de Dourados

Ao falar do recapeamento, prefeito escorregou para dizer que faz serviço de branco

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Ao falar do recapeamento, prefeito escorregou para dizer que faz serviço de branco

Depois da Operação Owari, da CPI da Saúde e de ação por improbidade administrativa o prefeito Ari Artuzi, de Dourados, afronta a Lei Afonso Arinos, que proíbe a discriminação racial no Brasil.

“Nóis temu fazenu serviço de genti branca. Serviço de genti.” Assim foi a frase pronunciada por Artuzi para falar da qualidade do recapeamento asfáltico que a Prefeitura está fazendo nas ruas da cidade. Esta foi a forma usada por Artuzi para contrapor seus antecessores que, segundo ele, “jogavam massa fria de cima do caminhão e socavam com o pneu”.

Na manhã deste sábado, durante entrevista ao programa “A Hora da Verdade”, da Grande FM, o prefeito “mordeu” a língua e soltou esta frase carregada de preconceito racial. A reação dos ouvintes foi imediata e a emissora recebeu mais de vinte telefonemas condenando a atitude de Artuzi.

A entrevista com Artuzi ia muito bem até que no terceiro bloco o prefeito passou a responder as perguntas dos radialistas Eduardo Palomita e Osvaldinho Duarte sobre as obras de recapeamento asfáltico que a Prefeitura está fazendo em várias ruas e avenidas de Dourados.

Artuzi disse que nunca nenhum prefeito recapeou as ruas de Dourados. “Fiz mais que os últimos vinte prefeitos”, disse ele ao reclamar que antes “jogavam massa fria de cima do caminhão e socavam com o pneu e ninguém reclamava”.

“Nóis temu fazenu serviço de genti branca. Serviço de genti.” Esta foi a frase preconceituosa dita pelo prefeito e que irritou os ouvintes da Grande FM. Todo lado de fora da emissora estavam ouvindo a entrevista, diversos assessores de Artuzi, um grupo de jornalistas e também o deputado estadual Ary Rigo (PSDB). O impacto negativo da frase de Artuzi foi imediato.

Como faz todos os sábados, assim que termina o programa A Hora da Verdade a Grande FM disponibilizou aos ouvintes um link em seu site na internet onde a entrevista de Artuzi pode ser ouvida na íntegra no endereço: http://www.grandefm.com.br/politica/hora-da-verdade-prefeito-ari-artuzi-e-entrevistado-no-programa.      

AFONSO ARINOS

A partir de 1988, quando foi promulgada a chamada “Constituição Cidadã”, a prática do racismo tornou-se crime sujeito a pena de prisão inafiançável e imprescritível.

Em 1951, o Congresso Nacional aprovou a lei 1390, de autoria do senador Afonso Arinos, que definia os primeiros conceitos de racismo apesar de não classificar como crime e sim como contravenção penal.

Afonso Arinos de Melo Franco nasceu em Belo Horizonte em 1905 e morreu no Rio de Janeiro em 1990. Ele foi jurista, político, historiador e professor além de ter ocupado uma cadeira na ABL (Academia Brasileira de Letras) a partir de 1958.

SERVIÇO DE BRANCO

A professora Andréa Alcione de Souza publicou, em 2004, no jornal da PUC-Minas (Pontifícia Universidade Católica), o artigo intitulado “Afrodescendentes: desafios no mercado de trabalho”, onde diz que “a prática cotidiana do preconceito racial está presente no mundo do trabalho desde a contratação até a ocupação de cargos por negros e não negros nas organizações”.

Alcione afirma que “nos processos de seleção de pessoal, por exemplo, um requisito mais comum em anúncios de emprego excluem candidatos que não possuem  boa aparência. Em algumas organizações, essa prática significa a exclusão de afrodescendentes de cargos que exigem contato direto com os clientes. Esse dado foi comprovado por pesquisas oficiais recentes, que apontam a sub-representação deste grupo em ocupações como vendedores, comissários de bordo, secretárias, entre outros”.

Para a professora da PUC é comum, em algumas empresas brasileiras, o tratamento da diversidade racial através da prática do “racismo cordial”, que, ao ser incorporado à  cultura organizacional se revela por meio de piadas, ofensas indiretas e apelidos pejorativos que, dirigidos aos afrodescendentes, procuram  afirmar a existência de uma “democracia racial”, mas acabam reproduzindo estereótipos e reforçando o preconceito e a discriminação”.

Ela prossegue o artigo afirmando que em “algumas expressões populares, utilizadas de forma preconceituosa também procuram diferenciar o trabalho de negros e não negros. Desta forma, a expressão “serviço de branco, serviço de preto” demonstra que, no imaginário da população, o trabalho de um branco é qualificado, limpo e bem feito. O trabalho do negro é desqualificado, sujo e malfeito”.

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