Após rebelião e fuga de adolescentes, visitas são suspensas na Unei Dom Bosco, na Capital

No sábado, 14 internos fugiram da unidade e deixaram três agentes educacionais feridos. Profissionais reclamam de falta de segurança para trabalhar.

As visitas de familiares aos adolescentes na Unei Dom Bosco, órgão que cuida de menores infratores, em Campo Grande, foram suspensas por ordem judicial neste domingo (14), depois que 14 internos fugiram da unidade e deixaram três agentes educacionais feridos ontem (13).

Até agora, três internos foram recapturados, e a Polícia Militar segue as buscas pelos demais evadidos.

A ação ocorreu logo após o horário de visitas, por volta das 17 horas. Munidos com armas artesanais, os jovens arrombaram a porta de um alojamento e renderam os agentes. Depois disso, os adolescentes liberaram os demais cadeados e escaparam da unidade pulando a cerca protegida por consertinas. No momento da fuga havia 67 internos e nove agentes.

Os agentes tiveram ferimentos nas costas, no rosto, no abdômen e no peito. Todos foram socorridos e medicados, e passam bem. Já os instrumentos usados na agressão foram recolhidos pela Polícia Militar.

Na manhã deste domingo (14), o clima era de aparente tranquilidade na Unei Dom Bosco. Os agentes que assumiram o plantão estavam tensos com a situação e reclamaram da falta de segurança para trabalhar. “Ontem mais de 30 guris vieram para cima dos colegas, aí eles tiveram que deixar embora”, relatou um agente que não quis ser identificado. Outro profissional contou que o uso das tonfas (bastões de borrachas) será retomado apesar da suspensão imposta pela Promotoria da Infância e da Juventude. “Ninguém vai morrer aqui à toa”, desabafou o agente.

O diretor Guilhermo Aguiar chegou à Unei por volta das 8h30 para dialogar com os agentes e os internos. Sobre a questão da segurança, ele disse que esta é uma situação-limite e que deve ser rediscutida na terça-feira (16) com as autoridades judiciais e a Superintendência de Assistência Sócio-Educativa (SAS), órgão responsável por administrar as Uneis. Mesmo após a fuga, não haveria necessidade de reforço policial na Unei Dom Bosco, segundo o diretor.

Ele acredita que a ação tenha sido premeditada e explicou que o período de fim de ano e festas são um período crítico. “Os adolescentes segregados ficam mais ativos e querem fugir nessas épocas”. Aguiar relatou que jovens de três dos oito alojamentos não quiseram participar da ação.

Os motins e rebeliões são mais frequentes na Unei Dom Bosco porque a unidade recebe apenas jovens que cometeram crimes e já foram sentenciados pela justiça – inclusive adolescentes vindos do interior do Estado. As demais Uneis recebem internos provisoriamente. A média de internação na Unei Dom Bosco é de sete meses, e a reincidência atinge 90% dos casos.

Como a Unei Dom Bosco está instalada provisoriamente na Colônia Penal Agrícola de Campo Grande, a expectativa é de que as reformas na sede permanente sejam concluídas até o fim deste ano.