Alunos ricos inflam nota de escolas particulares no Enem

Os colégios privados, que sempre se destacam no ranking do Enem nas primeiras colocações, perdem a liderança para escolas técnicas públicas quando se considera o nível socioeconômico de seus alunos

Ouvir Notícia Pausar Notícia
Compartilhar

Os colégios privados, que sempre se destacam no ranking do Enem nas primeiras colocações, perdem a liderança para escolas técnicas públicas quando se considera o nível socioeconômico de seus alunos

Os colégios privados, que sempre se destacam no ranking do Enem nas primeiras colocações, perdem a liderança para escolas técnicas públicas quando se considera o nível socioeconômico de seus alunos.

A conclusão é de um estudo inédito do especialista em avaliação Francisco Soares, da UFMG. Ele construiu um indicador do nível socioeconômico dos alunos de cada escola a partir de informações como escolaridade, ocupação, renda e acesso a bens de consumo por parte das famílias.

Os dados constam de um questionário respondido por alunos que fazem o Enem. A partir deste indicador, Soares calculou quantos pontos, além do que era esperado pelas características do seu alunado, cada escola teve.

O trabalho permite identificar escolas que, mesmo não tendo alunos de alto nível socioeconômico, conseguem fazer mais por seus estudantes do que se esperaria delas.

Sabe-se, a partir de evidências empíricas de inúmeros estudos, que a variável que mais influencia o desempenho do aluno é seu nível socioeconômico. Escolas particulares de elite, portanto, têm uma vantagem em relação às demais não necessariamente por suas boas práticas pedagógicas, mas por atender uma clientela rica.

Sem nenhum ajuste pelas características dos alunos, as particulares ocupam 85 das 100 primeiras posições e apenas uma das 100 últimas no ranking do Enem. Fazendo esse controle, o quadro muda radicalmente: elas passam a representar 35 das 100 melhores escolas, e 91 das 100 piores.

O bom resultado das escolas públicas no ranking, no entanto, é praticamente restrito a escolas técnicas, especialmente as estaduais de São Paulo, ou colégios de aplicação vinculados a universidades. Em todos esses casos, são instituições que realizam vestibulinhos.

“As escolas técnicas têm bom resultado pois dão oportunidades excelentes para alunos de nível socioeconômico mediano. Isto mostra um problema sério da escola pública brasileira. Só temos bom resultado onde há seleção”, afirma Soares.

Das 20 melhores escolas no ranking ajustado, 11 são técnicas estaduais paulistas vinculadas ao Centro Paula Souza- a escola Professor Armando Bayeux da Silva, de Rio Claro, é a primeira colocada da lista.

A diretora-superintendente do Paula Souza, Laura Laganá, reconhece que qualquer comparação com escolas públicas tradicionais é injusta. “Temos 80% de alunos de escolas municipais ou estaduais, e 70% deles têm renda média familiar inferior a cinco salários mínimos. Como fazemos processo seletivo com relação de seis candidatos por vaga, recebemos os melhores alunos da rede pública.”

Sobre o desempenho das particulares, José Augusto Lourenço, presidente da Federação Nacional das Escolas Particulares, diz que também há diversidade na rede privada.

Ele diz ainda não considerar adequado comparar escolas pelo Enem. Até 2008, o exame não era usado pelas principais universidades, o que diminuía sua atratividade para jovens de escolas particulares.

Conteúdos relacionados