Al Gore, ex-vice-presidente dos Estados Unidos e ganhador do Prêmio Nobel da Paz em 2007, disse nesta sexta-feira (26) que o Brasil tem uma “voz importante” nas negociações para um acordo que ajude o mundo a conter o aquecimento global, em razão de o país apresentar cartas como a preservação da Amazônia e o uso de biocombustíveis, que agridem menos o ambiente.

Gore fez, nesta sexta-feira, uma palestra no Fórum Internacional de Sustentabilidade, que acontece em Manaus.

O ambientalista elogiou a atuação do Brasil durante a fracassada Cúpula das Nações Unidas sobre Mudança Climática, realizada em Copenhague no ano passado.

Na ocasião, as nações tentaram chegar a um acordo sobre a redução de CO2 (gás carbônico), considerado o grande “vilão” da mudança climática, mas chegaram a uma mínima declaração de intenções.

No último dia da reunião, quando o fracasso já era evidente, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez um elogiado discurso em que pediu que as nações fizessem concessões e negociassem.

Apesar disso, o político disse que o país ainda precisa entender melhor os benefícios e as vantagens, inclusive econômicas, de preservar a Amazônia e manter a floresta em pé.

– A Amazônia é um tesouro que pertence ao Brasil e pode garantir o futuro do país. Companhias de biotecnologia e cientistas estão começando a reconhecer o valor da floresta como arquivo de informações genéticas, de conhecimento. É algo construído em milhares de anos e que não pode ser feito pelo homem. Isso pode dar lucro e ser sustentável no longo prazo. Ao mesmo tempo, tem muito fazendeiro que mudou para a área e viu que a terra não é tão boa assim para a agricultura. É algo limitado.

O valor da biodiversidade

O ambientalista disse que o valor de uma floresta não pode ser calculado apenas pela soma dos custos das árvores.

– Fazer isso é como avaliar o preço do computador com base só no silício [material muito usado nos PCs], e não em sua capacidade ou em todo o conhecimento que ele pode gerar.

Ao mesmo tempo, se nada for feito para conter o processo, a região pode sofrer economicamente com isso, já que a mudança climática na Terra deve afetar diversas espécies de plantas e animais – a temperatura é um aspecto importante para os processos biológicos delas. Com isso, a Amazônia perderia biodiversidade, o que afeta diretamente o ecoturismo, por exemplo.

Apesar de dizer que a questão climática faz com que, “pela primeira vez”, países pobres e ricos tentem trabalhar juntos para resolver o problema, Gore reconheceu que é difícil chegar a um acordo que atenda aos interesses de todos.

Longe e rápido

O próximo capítulo dessa batalha está marcado para o fim do ano, no México, quando os países vão sentar de novo à mesa para discutir medidas comuns para conter a mudança climática.

– Existe um ditado que diz que se você precisa ir rápido, precisa ir sozinho. E que se quer ir longe, melhor ir em grupo. O problema aqui é que nós precisamos ir longe e rápido.

O político, cuja atuação ambiental ganhou força com o filme Uma Verdade Inconveniente – criado por ele e vencedor do Oscar de melhor documentário de 2007 – disse apoiar mecanismos que façam com que os países pobres sejam recompensados financeiramente por combater o aquecimento global ou preservar as florestas. Essa é uma das grandes polêmicas entre países ricos e pobres.