Assessores dos senadores Ney Suassuna (PMDB-PB) e Wellington Roberto (PTB-PB) foram detidos quinta-feira da semana passada em frente a um banco em Brasília, com uma mala com R$ 100 mil. A polícia suspeita que o dinheiro seja propina cobrada de empreiteiras, segundo revelou reportagem da revista “Época” desta semana. A propina serviria para conseguir obras e pareceres favoráveis em órgãos como o Ministério da Integração Nacional, do qual Suassuna foi titular, o Departamento Nacional de Estradas de Rodagem (DNER) e o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).

Ligado ao senador Ney Suassuna, o empresário José Elísio Ferreira Júnior foi detido pouco depois de receber uma mala do advogado Giovanni Riccardi, que trabalha para Wellington Roberto. José Elísio e Giovanni tiveram que dar explicações à Polícia Federal (PF), mas foram soltos em seguida.

Segundo a “Época”, a PF, que investiga o esquema a meses, encontrou indícios de que os R$ 100 mil apreendidos representariam a segunda parcela do pagamento de uma propina de R$ 400 mil cobrada das empreiteiras Sercel, de Belo Horizonte, e Fuad Rassi, de Goiânia. Para o Ministério Público, a propina serviria para que as empresas conseguissem obras do Ministério da Integração Nacional no valor de R$ 3 milhões no município de Catalão, em Goiás. A verba foi liberada por Suassuna no dia 12 de março.

A reportagem da “Época” revela que os agentes federais chegaram a José Elísio e Giovanni depois de meses de investigações iniciadas no ano passado que incluíram escutas telefônicas autorizadas pela Justiça.

As primeiras gravações, no entanto, teriam sido entregues ao Ministério Público Federal pelo empresário Rodrigo Paiva, dono da Paiva Piovesan, empresa de informática de Minas Gerais. Nelas, Giovanni teria cobrado R$ 30 mil do empresário para ajudá-lo numa disputa com a Microsoft no Cade. Há dois meses, os procuradores Guilherme Schelb e José Carlos Lopes descobriram que a multinacional teria sido vítima de extorsão e o envolvido seria José Elísio, apontado como responsável por cobrar US$ 1 milhão da empresa americana.

— Ele me disse que ligava para a Microsoft porque estava paquerando uma moça que trabalhava lá. Eu acreditei — disse Suassuna à revista.

— Mentira. Nunca paquerei ninguém na Microsoft — afirmou o assessor.

Nas 50 horas de gravações autorizadas pela Justiça, o líder do esquema foi apontado como baixinho e careca. A revista afirma que José Elísio conta em um trecho da gravação como seria utilizada a propina: “Esse dinheiro é para o Ney comprar um apartamento”.

— Não autorizei ninguém a cobrar propina e não preciso desse dinheiro para comprar apartamento — afirmou Suassuna à “Época”.

Embora não tenha vínculos formais com Suassuna, José Elísio teria relações muito estreitas com o senador. A “Época” lembra que Elísio é diretor da Associação Comercial e Industrial da Barra da Tijuca (Acibarra), entidade da qual Suassuna é presidente licenciado.

Além disso, segundo a revista, o assessor é responsável até por renovar seguros de Suassuna e buscá-lo no aeroporto.

— José Elísio não tem autorização para falar em meu nome. Se alguém fez tráfico de influência, a culpa não é minha — disse Suassuna.

Secretário parlamentar do Senado, Giovanni Riccardi tem a tarefa de acompanhar os interesses de prefeitos paraibanos em Brasília. Conforme a reportagem da “Época”, o secretário esteve no apartamento de Wellington Roberto horas antes de ser detido pela Polícia Federal.

— Ele é meu assessor há vários anos. Eu não sabia que estava com negócios escusos — afirmou o senador à revista, acrescentando:

— Ele não me falou sobre isso e estou ocupado em campanha.

Para a polícia, José Elísio e Giovanni contaram que os R$ 100 mil serviriam para a compra de um apartamento, mas que acabaram desistindo do negócio.

Há três meses, a Polícia Federal, segundo a revsita, teria descoberto R$ 139.550 na mala do empreiteiro José Guimarães Gonçalves, dono da construtora Sercel, responsável por obras em Minas Gerais, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Os agentes federais teriam chegado a ele também por meio de escutas de conversas telefônicas. A pretexto de procurar drogas, os agentes federais revistaram passageiros de um vôo que ia de Goiânia a Brasília e encontraram o dinheiro na mala de José Guimarães. A Polícia Federal suspeita que o dinheiro se referia à primeira parcela da propina da obra em Catalão.

José Guimarães disse à polícia que pegou o dinheiro com amigos de Mato Grosso do Sul e que ele seria utilizado para pagar funcionários da empreiteira.

Agência Globo