Oficialmente, ninguém viu qualquer pesquisa ainda. Mas bastaram os rumores de mudança nos índices para que o comando de campanha de José Serra partisse para o ataque. A ordem é atacar Ciro Gomes, para aproveitar uma suposta tendência de queda do candidato da Frente trabalhista. Na ofensiva, vale tudo. De jingles provocando o adversário a ataques políticos mais duros.

A mudança começou na quarta-feira, quando os candidatos souberam da existência de uma pesquisa não registrada do Ibope. A sondagem foi feita para testar uma mudança na metodologia do instituto. Em vez de ouvir duas mil pessoas, como nas outras vezes, foram feitas três mil entrevistas. O resultado mostrou pequeno crescimento de Lula e Serra, dentro da margem de erro. Mas Ciro caiu mais que os dois pontos que formam esta margem. Mais do que isso: o Ibope apontou que Ciro teria perdido apoio nos formadores de opinião e nas capitais e agora o fenômeno estaria se repetindo no interior.

A expectativa dos tucanos é que a tendência se confirme nas pesquisas que serão divulgadas este fim de semana. O diagnóstico entre os conselheiros de Serra é simples. Ciro estaria perdendo eleitores por dois motivos. O primeiro é a perda de credibilidade, causada pelas acusações de mentiroso feitas pelos adversários. O segundo é o temperamento explosivo, que assustaria os eleitores.

Por conta de novas pesquisas qualitativas apresentadas pelo publicitário Antônio Lavareda, os tucanos acreditam que, em setembro, Serra voltará ao segundo lugar nas pesquisas.

“Ciro não soube administrar seu temperamento. Está de salto alto”, justificou o deputado federal Jutahy Magalhães, do alto comando tucano. O coordenador da campanha de Serra, Pimenta da Veiga, diz que “as pesquisas qualitativas mostram que as pequenas quedas de Ciro deverão se acentuar”.

Os tucanos querem dar um empurrão para acelerar a sonhada queda do adversário. No comício que Serra estrelou quinta-feira à noite, em Planaltina de Goiás, o governador goiano Marconi Perillo usou a maior parte do discurso para comparar Ciro Gomes ao ex-presidente Fernando Collor.

A principal provocação veio no site de Serra na internet. Quem acessou a página eletrônica até o meio da tarde de ontem foi surpreendido por uma janela que se abria na tela anunciando “o novo hit da campanha”, a Ciranda do Mentiroso. Um coral de vozes masculinas, em tom irritado cantava uma mistura de cantiga de roda e marcha militar. “Como fica nervosinho facilmente esse rapaz / Quando dizem que ele mente,/ se irrita muito mais”, dizia o refrão. A música não diz o nome do adversário, mas a referência é clara.

Foram mais de 100 mil acessos ao site contabilizados pela campanha, mas à tarde Serra mandou retirar a canção. Ele participava de um debate no jornal Folha de S. Paulo e jurava que não pretendia atacar ninguém. O jingle foi lembrado como uma contradição. Desapareceu da página da internet, mas continuou a ser espalhado por e-mails tucanos.

A estratégia de confronto é uma vitória do marqueteiro Nizan Guanaes e da ala mais dura da campanha de Serra. Além de Jutahy, esse grupo é liderado pelo deputado Geddel Vieira Lima, do PMDB baiano. “Tem que bater”, diz Geddel. “Mostrar à população quem é Ciro Gomes”.