Os países mais ricos do planeta enfrentaram ontem forte pressão na Cúpula da Terra para compartilhar os bilhões de dólares gastos em subsídios para a agricultura e a pecuária. Essa política de ajuda doméstica foi acusada de exacerbar a fome mundial e atrapalhar o comércio com nações em desenvolvimento. Por causa dos subsídios, o gasto dos governos de países ricos com uma vaca, por exemplo, é em média três vezes a renda de uma pessoa pobre na África, comparou um técnico do Banco Mundial.

Os países desenvolvidos destinam aos produtores rurais cerca de US$ 1 bilhão por dia em subsídios – seis vezes o que destinam à ajuda de países pobres. Problemas políticos domésticos tem impedido os países ricos de deixar de ajudar seus produtores – que sairiam empobrecidos. Por isso, representantes desses países tentaram desviar o foco do debate para esforços para aumento da produção agrícola nas regiões onde mais se sofre com a fome.

Mas com a fome ameaçando 13 milhões de pessoas no Sul da África, não deu para evitar que o dia da conferência especialmente dedicado à agricultura sustentável fosse marcado pela rejeição aos subsídios aos produtores americanos e europeus: “Estamos sentados aqui falando sobre agricultura sustentável e famílias estão morrendo”, disse Lebohang Ntsinya, ministro do Meio Ambiente de Lesoto.

A conferência de dez dias, iniciada na segunda-feira, ocorre em meio ao pior período de fome a castigar a região em dez anos. Os países em desenvolvimento argumentam que uma diminuição dos subsídios facilitaria a entrada de seus produtos nos mercados desenvolvidos: “Não pode haver desenvolvimento sustentável em nossos países enquanto essas políticas continuarem”, disse um representante do Uruguai.

Os Estados Unidos têm sido criticados pela adoção de um novo programa de aumento dos subsídios para a agropecuária. Um projeto de reformar radicalmente a política de subsídios européia dividiu o continente, com a França liderando a oposição ao plano. Considerando os subsídios como uma percentagem da renda dos produtores, a União Européia contribui com 35% e o governo dos EUA saltou de 14% em meados dos anos 90 para 21%.

Segundo o Banco Mundial, a abertura dos mercados desenvolvidos representaria um ganho de US$ 150 bilhões por ano para os países em desenvolvimento.