Enquanto a primeira santa brasileira estiver sendo canonizada pelo Papa João Paulo II no , na presença do presidente Fernando Henrique Cardoso, uma pequena cidade catarinense estará acompanhando a cerimônia com atenção especial. Nova Trento, município onde Madre Paulina cresceu, a 86 quilômetros de Florianópolis, atraiu milhares de fiéis que lotam as pousadas e hotéis da cidade desde a semana passada.

Foi ali que a ítalo-brasileira Amábile Visintainer, que se tornaria a Madre Paulina do Coração Agonizante de Jesus, fundou a Congregação das Irmãzinhas da Imaculada Conceição, em 1890.

Mas há os que já estejam lucrando com a fé. Osmar Nicolodi construiu 20 lojinhas às portas do Santuário de Madre Paulina, onde os comerciantes venderão de chocolates a lembranças da madre aos milhares de romeiros que estão chegando à cidade.

O comércio não é visto com bons olhos pelas suas vizinhas. A Congregação das Irmãzinhas já tentou comprar o terreno de Nicolodi mais de uma vez. Recentemente, ofereceram a ele R$ 120 mil. Seria apenas uma briga entre vizinhos, não fosse a importância súbita que a cidade ganhou. Nova Trento tem tudo para se tornar o segundo maior pólo turístico-religioso do país, atrás apenas de Aparecida do Norte, em São Paulo. O mais triste para as irmãs é que Nicolodi é sobrinho-neto de Virgínia Nicolodi, a religiosa que fundou a congregação junto com Madre Paulina.

A canonização de Madre Paulina vai mudar a rotina de Nova Trento. A começar pelo santuário com capacidade para receber 3.500 pessoas que deverá ser construído próximo à igrejinha onde não cabem mais que 300 fiéis. Somente neste domingo, uma multidão jamais vista na pequena cidade deve circular pelas suas ruas.

Em Nova Trento, hoje, toda terra tem seu preço. A Congregação das Irmãzinhas da Imaculada Conceição cobrou R$ 80 por metro quadrado de cada camelô que pediu licença para se instalar nas proximidades do santuário. Mas irmã Lygia diz que não está feliz com a exploração econômica da canonização.

— É para ser um evento religioso. Se soubéssemos que ia ser assim, com gente vendendo brinquedos, badulaques, não teríamos permitido. Vi camelôs vendendo estátuas de Santa Rita de Cássia como se fossem de Santa Madre Paulina.

O Globo