O Brasil convive com 30 milhões de casos de doenças sexualmente transmissíveis (DSTs), segundo estimativa do Ministério da Saúde, divulgada ontem. O número não inclui a Aids e chama a atenção para uma endemia grave no país, na qual as mulheres podem responder por até 70% dos casos. “Reconhecemos ter perdido muito tempo enquanto o problema crescia”, afirmou Guida Silva, presidente da Comissão Nacional de DSTs do ministério.

A contaminação mais comum é pelo HPV. O vírus atinge mais de 7 milhões de brasileiras e está relacionado a quase todos os casos de de colo do útero. O governo estima que 15% da população sexualmente ativa tenha o HPV. No caso do herpes e da sífilis, os índices são menores: 12% e 2,1%, respectivamente. A dimensão desse contágio está provocando uma guinada no Programa Nacional de Combate a DST/Aids. Contrariando estimativas iniciais, que projetavam mais de um milhão de casos até o ano 2000, o vírus da Aids contaminou cerca de 600 mil brasileiros.

ESTRATÉGIA ERRADA: Depois de anos de ofensiva contra o HIV, o governo quer investir esforços no combate a outras enfermidades transmitidas pelo sexo. As estratégias serão discutidas a partir do próximo domingo, durante o 4º Congresso Brasileiro de Doenças Sexualmente Transmissíveis, que acontecerá em Manaus, no Amazonas.

O problema é conhecer com precisão as nuances da endemia. “Apenas este ano, serão 10 milhões de novos casos”, diz Fábio Moherdavi, chefe da unidade de epidemiologia da coordenação de DST/Aids do Ministério. Moherdavi está à frente de estudos que, até dezembro, traçarão perfil e hábitos da população atingida, para direcionar políticas preventivas.

A subnotificação no país é alarmante. Segundo Guida, no ano passado o Sistema Único de Saúde (SUS) acumulou cerca de 300 mil registros de DSTs. Ela explica que a Organização Mundial de Saúde (OMS) calcula que para cada caso atendido no sistema público, dez são tratados no setor privado – e cem em balcões de farmácia.

DESCUIDO: Ao contrário das mulheres, que procuram mais os serviços de saúde, os homens tendem a recorrer à automedicação. O resultado: doentes malcurados contaminando parceiros. Embora nenhuma dessas enfermidades se manifeste com a gravidade da Aids, várias têm implicações sérias. Em gestantes, a sífilis pode causar abortos, problemas de gestação e danos para a .

Apesar do diagnóstico e tratamento serem simples e baratos, a precariedade do atendimento pré-natal do país permite a transmissão de mães para filhos. Os portadores do vírus da herpes que manifestem as úlceras no órgão genital, típicas da enfermidade, aumentam em 18 vezes suas chances de contrair o vírus HIV.