O comando do PT nacional está convencido de que o potencial de votos de Anthony Garotinho pode ser decisivo para garantir a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva, no . Mas há um problema a ser contornado: justamente nos últimos dias, a campanha de Benedita da Silva resolveu radicalizar as críticas contra o ex-governador do Estado do Rio.

Primeiro, Garotinho disse que vai apoiar Lula no segundo turno, caso não chegue lá. Na quinta-feira, a resposta do candidato petista: chamou o ex-governador de “meu amigo” e disse que fará os “acordos necessários” com ele, na hora certa. Na mira, um eleitorado apreciável, de acordo com as pesquisas, com um atrativo adicional: são votos fiéis, concentrados no Estado do Rio – o terceiro maior colégio eleitoral – e baseados muito mais no carisma do candidato do que na modesta máquina do PSB. Isso sem falar nos seguidores das duas maiores igrejas evangélicas, a Universal e a Assembléia de Deus.

Conclusão do comando petista: se Garotinho arregaçar as mangas, em vez de declarar apenas apoio formal a Lula, é capaz de transferir automaticamente pelo menos 80% dos votos detectados nas pesquisas e decidir a eleição, em favor do candidato do PT.

Por isso, a crise deflagrada no diretório estadual, com a queda de Benedita nas pesquisas, recheada com os ataques a Garotinho, se transformou no principal entrave ao acordo que começa a ser costurado. “Crise, que crise?”, desconversou Lula, sexta-feira, no Rio. Mesmo os setores do PT distanciados de Benedita, que sempre se mostraram mais críticos em relação ao governo Garotinho, já começam a acionar o que chamam de freio de arrumação.

ESTRATÉGIAS – Estrategicamente, esta não é a hora de bombardear o candidato do PSB, pondera o deputado Milton Temer, um dos primeiros a questionar o polêmico acordo PT-PL. “Tem muita gente que resolveu partir para o ataque, mas que não saiu do governo, quando Garotinho disse que o PT era o partido da boquinha”, relembra Temer: “Quem não fez isso na época própria, perde a condição de reclamar agora”. Para o deputado, a opção correta é nacionalizar a campanha, mostrando “que o inimigo a ser combatido é o modelo neoliberal imposto ao país nos últimos oito anos”.

Do outro lado, o cientista político Luiz Eduardo Soares, candidato à vice na chapa de Benedita, discorda do amigo Temer. Para ele, a questão é ética e deve preceder a engenharia política: “O compromisso de um político sério é dizer a verdade, e não submetê-la a considerações de oportunidade. O PT precisa ser transparente, para não se desmoralizar”.