Em 21 de agosto de 1938, trabalhadores da construção civil fundavam o primeiro clube de futebol de Mato Grosso do Sul. Na época, as partidas eram direcionadas para classes populares, derrubar barreiras políticas e sociais da elite. A paixão pelo Galo mantém a tradição dos torcedores fiéis que colecionam memórias e jogos históricos.

Aguimar Macedo de Oliveira, de 53 anos, acompanhou o pai em um clássico comerário (Operário x Comercial), em 1977. Do outro lado da arquibancada, ele observava o fervor da torcida, até então rival, pois o pai é comercialino ‘roxo'. Começaram ganhando, mas no segundo tempo o Operário conseguiu virar e levar a partida.

“Meu pai incentivava bastante, gosta demais de futebol. Na torcida, eu vi que os operarianos eram e são mais apaixonados. Eu fiquei calado o jogo todo. Cheguei em casa e meu tio operariano me incentivou e acabei abandonando o time do meu pai. Era uma rivalidade bonita, na minha casa são cinco irmãos e somos divididos entre os times. Claro que meu pai queria o filho mais velho comercialino, mas meu velho é tranquilo”.

Para ter uma ideia da dedicação ao Operário, quando era criança ia assistir aos jogos escondido da família. Em um certo jogo perdeu o chinelo recém comprado pela mãe, que na época custava um valor considerável.

“Nesse jogo, não me lembro o ano, ouvimos um barulho muito forte da arquibancada do Morenão e começaram a gritar dizendo que estava desmoronando, caindo tudo. Foi uma correria, nisso pisaram no meu chinelo novinho, enquanto todo mundo corria para fora eu ia para dentro pegar o chinelo, se voltasse para casa sem eu apanhava, já estava escondido da minha mãe ali. No final nem era nada e o jogo voltou”.

Torcedor Operário
Aguimar Macedo com a camisa do time (Foto: Arquivo Pessoal)

A paixão pelo Operário não caducou e até hoje Aguimar faz a das partidas sua rotina. No último campeonato estadual de futebol, no Estácio Noroeste, em Aquidauana, os torcedores organizaram dois ônibus para ver a final. Mas sabemos que torcida sem ‘perrengue' não anima o caminho. Um dos ônibus não saiu nem da garagem por problemas mecânicos.

“Tem gente que não sabe o valor que uma torcida tem. Só nesse ônibus iam 45 pessoas. Ficamos desesperados em arranjar outro nos últimos minutos para estar na estrada. Ligava para um, ligava para outro e nada. Olha, foi realmente nos últimos minutos que um ônibus aceitou no levar e ainda por valor mais baixo que o outro. Inclusive, fomos campeões do campeonato”.

André Knöner Monteiro Cabral, de 34 anos, é Galo desde berço, pois o pai, os primos e amigos fazem parte das Torcidas Organizadas Garra Operariana e Esquadrão Operariano. Já arrumou as malas para assistir da arquibancada ao time do peito no Distrito Federal, e outros estados. Ele ressalta que em qualquer jogo encontrará um campo-grandense apaixonado pelo time regional.

“Todo jogo é marcante. Tem o jogo de acesso da do estadual lá em Rio Brilhante, gol no fim do jogo que levou a gente de volta para a elite do estadual. Jogos com vitória nos últimos segundos de jogo. As histórias inusitadas se misturam com as emoções do dia a dia, porque mesmo quando o Operário não joga, a torcida lembra do time. Cada jogo é inusitado e singular por si só”.

André pontua todas as vitórias que conseguiu presenciar e pondera a crise financeira que o clube enfrentou e a falta de valorização no esporte local. “Vi o Operário ressurgir e vencer o título Estadual 21 anos depois. Somos os atuais e maiores campeões do Estado e vamos representar na série D em 2023. Depois de tudo que o galo e sua torcida passaram nesses últimos anos, ver o time se organizando e buscando a profissionalização de novo é motivo de orgulho”.

Operário
Operário x Comercial, Comerário dos anos 80 (Foto: Arquivo Operário)

Tatuagem ao Operário

A história de amor com o Operário Futebol Clube começou antes mesmo de Wanessa Martins Perez Diogo, de 33 anos, nascer, pois, o pai, Wanderley camisa 7, e o tio, Perez, nos anos de 1976 a 1978, foram jogadores do clube. A família é torcedora ‘roxa', logo, a tradição em casa permaneceu a cada jogo nos estádios do Estado.

“Crescia ouvindo as histórias que eles contavam, ia aos jogos com meu pai. Entre altos e baixos que o time vivenciou, rebaixou e ficamos por alguns anos sem ir aos jogos. O último ano que fui junto ao meu pai, foi em 2016, em um Comerário, clássico do futebol do MS, que teve nas Moreninhas”, conta.

Nesse mesmo ano, o pai Wanderley foi diagnosticado com câncer, após meses de luta ele faleceu, deixando o legado para a filha, que pouco depois, além de demonstrar carinho ao time, tatuou o brasão na panturrilha como homenagem ao pai, torcedor e jogador de um dos principais times do Estado. “Continuei a ir aos jogos e eternizei essa história com o clube com a minha tatuagem”.

Temporada 2022

O atual presidente do time, Estevão Petrallás está no último ano de mandato. A diretoria foi pressionada, já que nos últimos três anos os resultados foram desanimadores. Neste ano, a temporada investiu em mais visibilidade, como a transmissão dos jogos pela Operário TV, o canal oficial do Galo na internet.

Os autos e baixos do time resultaram na mudança da comissão técnica para a final hexagonal do Estadual. Foi nomeado como treinador Celso Rodrigues, campeão de 2018 pelo Operário FC, que fez sua estreia na última rodada empatando com o Chapadão fora de casa.