Há 52 anos, Inglaterra vive de sonhos improváveis e decepções
Desde que Bobby Moore levantou a Jules Rimet em 1966, a Inglaterra nunca mais viveu momentos de glória com a sua seleção. Em 52 anos sem título, o país que inventou o futebol acostumou-se a ser coadjuvante, viveu à sombra de times melhores e por isso esteve sempre com um pé no ceticismo. Nas vezes […]
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Desde que Bobby Moore levantou a Jules Rimet em 1966, a Inglaterra nunca mais viveu momentos de glória com a sua seleção. Em 52 anos sem título, o país que inventou o futebol acostumou-se a ser coadjuvante, viveu à sombra de times melhores e por isso esteve sempre com um pé no ceticismo. Nas vezes em que o torcedor se empolgou, como nesta Copa do Mundo, a queda sempre foi muito dolorosa.
O calvário inglês começou logo depois do título mundial. A Euro-1968 foi marcada por um ato de Alan Mullery, um dos melhores do time, que deu um chute no meio das pernas de um iugoslavo. Em 1970, um time envelhecido caiu para os alemães, dando início a uma busca pelo bicampeonato que dura até hoje. De lá para cá, só decepção.
Após uma década longe dos grandes torneios, a Inglaterra teve resultados discretíssimos nos anos 1980, até que Paul Gascoigne apareceu. O ousado meia era a cara do futebol inglês à época, e na Copa de 1990 mostrou o porquê.
Após jogos sofríveis na primeira fase, a Inglaterra eliminou a Bélgica com um golzinho no último minuto da prorrogação -cortesia de Gascoigne, que deu assistência belíssima. Nova classificação suada contra Camarões, com dois pênaltis convertidos por Gary Lineker, foi motivo suficiente para o torcedor se animar. Apesar de todo o sofrimento, havia esperança porque a Copa era muito mais física do que técnica.
Mas o sonho desmoronou frente à Alemanha. Gascoigne teve uma das maiores atuações de um meio-campista pela seleção inglesa, mas não foi suficiente. Recebeu um cartão amarelo e caiu no choro por perder a grande final -uma final que nunca veio para a Inglaterra, que perdeu a semifinal nos pênaltis. Futebol, “um jogo simples”, como disse Lineker na ocasião, em que “no final, os alemães sempre vencem”
A Inglaterra sucumbiu na Euro-92 e nem foi à Copa de 94, mas em 1996 viveu um sopro de esperanças ao ser a sede da Eurocopa. Torneio em seus domínios e empolgação em alta: trinta anos antes tinha funcionado, e o futebol estava “voltando para casa”, como a música oficial do torneio martelava. A safra também era boa, e Gascoigne ganhou a companhia dos ótimos Teddy Sheringham, Paul Ince e Alan Shearer. Tudo começou a conspirar a favor, mas faltou combinar com os alemães: queda na semifinal nos pênaltis, de novo. Mais um balde de água fria.
A partir daí a desconfiança se instaurou de vez em torno da seleção inglesa, e as eliminações precoces dos timaços das Copas seguintes não ajudaram a mudar esta imagem. Beckham, Gerrard, Lampard, Scholes, Owen, Rooney Todos viveram vexames em Mundiais, até que a má fase bateu no fundo do poço na eliminação na primeira fase em 2014.
De uma forma ou de outra, a campanha inglesa nesta Copa do Mundo é um sopro de esperança para o futuro. Mas a juventude da equipe não diminui a dor pela eliminação na semifinal nesta quarta-feira (11). Mais uma vez, o bicampeonato escapa pelos dedos. “Emocionalmente, é devastador chegar tão longe e não estar na final. É duro”, lamentou o meia Henderson, resumindo em poucas palavras um sentimento que tem sido tão comum na Inglaterra.
Desde o título mundial os ingleses mantém um pé atrás com sua seleção, e assim foi mais uma vez em 2018. A exemplo das ocasiões dos anos 1990, a equipe foi aos poucos conquistando a confiança da torcida. O futebol estava “voltando para casa”, a música avisou. Mas quem voltará -sem o título- é a Inglaterra, com mais um sonho partido ao meio e mais uma história para guardar no baú de desilusões.
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