Convívio com brasileiros moldou craque da Croácia até a Copa

Dono de estatísticas e atuações que o colocam entre os melhores jogadores da Copa do Mundo da Rússia, o meio-campista croata Luka Modric “joga como um brasileiro”. Esta frase não tem a ver com o fato de ele ser o 13º jogador mais driblador do torneio ou estar entre aqueles que mais dão arrancadas no […]

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Dono de estatísticas e atuações que o colocam entre os melhores jogadores da Copa do Mundo da Rússia, o meio-campista croata Luka Modric “joga como um brasileiro”.
Esta frase não tem a ver com o fato de ele ser o 13º jogador mais driblador do torneio ou estar entre aqueles que mais dão arrancadas no campo de ataque, com quase 10 km percorridos por jogo. O trecho é retirado de uma frase do próprio jogador após o título da Liga dos Campeões da Europa, em maio, em conversa de vestiário com os brasileiros Marcelo e Casemiro.
Era brincadeira, mas tem seu fundo de verdade. E uma explicação: além do estilo de jogo agressivo, de chegadas ao ataque, inteligência tática, qualidade de passe e cobertura defensiva como um motorzinho de suas equipes, Modric foi moldado pelo convívio com jogadores brasileiros desde o princípio da carreira.
Antes do Real Madrid, em que joga ao lado de Casemiro e Marcelo, ou do Tottenham, em que brilhou ao lado de Gomes, o croata atuou quatro temporadas no Dinamo Zagreb junto com um monte de brasileiros.
“Ele é diferenciado, sempre foi. Um meia extremamente técnico, do estilo brasileiro mesmo. Jogava e joga demais”, diz, à reportagem, o meia Vitor Júnior, de passagens por Santos, Corinthians, Botafogo e Internacional, hoje no Siam Navy, da Tailândia, e que atuou ao lado de Modric na Croácia em 2005/2006.
Modric já era camisa 10 do Dinamo Zagreb aos 19 anos de idade. Impressionava a todos com a bola no pé, mas era extremamente retraído no convívio com as outras pessoas. Aí é que entram os brasileiros.
“Era um cara sempre na dele, mas às vezes brincava e se soltava. Nós estimulávamos também, com base na zoação, tentando fazer ele falar português”, relembra o ex-atacante Anderson Costa, que conviveu com Modric na Croácia e deixou o futebol em 2014, no CSE-AL.
De acordo com relatos dos brasileiros que atuaram com Modric na Europa -além de Vitor e Anderson havia mais três: Carlos, zagueiro, Etto, lateral direito, e Eduardo da Silva, atacante naturalizado croata-, os termos mais comuns no vocabulário de Modric em português eram palavrões.
Ele também conversava sobre futebol, perguntando sobre times que ele conhecia no Brasil ou que lhe foram apresentados por colegas de clube, como Flamengo, Santos, São Paulo e Vasco.
“Foi bem legal porque eu sentei do lado dele durante todo esse ano. Ele jogava com a camisa 10 e eu, com a 9, então sentávamos ao lado no vestiário. É um jogador que sempre teve muita habilidade, toque refinado e muita visão de jogo. Chutava muito bem também”, relembra Anderson.
Vitor Junior compartilha outras lembranças: “Na primeira vez em que vi ele tocar na bola, o jeito que se movimentava, percebi que ele era diferente de todos os outros. Aí já fui me aproximando na roda de bobo e nos trabalhos técnicos [risos]. Ele era meia e eu jogava como atacante de beirada, mas a qualidade dele já era absurda.”
AMIZADE COM MARCELO
Jogador do Real Madrid há seis anos, Modric tem grande amizade com o lateral esquerdo brasileiro Marcelo. As famílias são próximas e o jogador da seleção criou até um apelido para o amigo croata: Lukita.
Lado a lado, sul-americano e europeu enfileiram títulos pelo clube espanhol, o que os coloca entre os melhores de suas posições no mundo. Porém, enquanto Marcelo atua em uma seleção pentacampeã e considerada favorita, Modric lidera uma equipe sem tradição internacional e com fama de enfraquecer nos momentos decisivos.
Dono de quatro títulos da Liga dos Campeões em seu clube, Modric joga na seleção croata desde a categoria infantil. Aos 32 anos, ele hoje veste a camisa 10, é capitão e principal nome de uma geração que conta com outros bons jogadores, como Rakitic (Barcelona), Lovren (Liverpool), Subasic (Monaco), Mandzukic (Juventus) e Perisic (Inter de Milão).
O camisa 10 disputou três Eurocopas e está no terceiro Mundial -as quartas de final são o mais longe que ele já chegou. Ou seja, a partida deste sábado (7), às 15h (de Brasília), contra a Rússia, pode garantir a Modric o topo da história da seleção croata, que foi semifinalista em 1998.
Mas ele quer mais, como disse em entrevista recente ao site da Fifa: “Sucesso com a seleção da Croácia é a única coisa que me falta. Seria o maior feito da minha carreira, com certeza. Espero que joguemos os três jogos até o fim e espero pelo melhor.”
Modric só poderá reencontrar Marcelo em eventual final da Copa do Mundo entre Croácia e Brasil. Para chegar lá, a inspiração na escola brasileira de futebol não é má ideia.

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