Guilherme, ex-timão, diz que baladas encurtaram sua carreira

Hoje, atacante é treinador do Linense

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Hoje, atacante é treinador do Linense

Quanto a vida noturna pode influenciar na carreira de um jogador de futebol? Para o ex-atacante Guilherme, hoje técnico contratado pelo Linense para o próximo Campeonato Paulista, bastante. Com passagens por São Paulo, Corinthians e Atlético-MG, o agora treinador coloca – em entrevista exclusiva ao UOL Esporte – as baladas como principal responsável por sua curta carreira como atleta – ele parou de jogar bola cedo, ainda aos 31 anos de idade.

Consciente dos erros que cometeu quando era mais jovem, Guilherme tenta agora passar para os seus comandados os riscos da vida noturna. Não só a curto prazo, como em um jogo específico, mas principalmente a longo prazo, com a possibilidade de ver o fim da carreira chegar antes da hora, como aconteceu com ele – pendurou as chuteiras em 2005, no Bota.

“Hoje [as baladas atrapalham] muito mais, porque exige muito mais fisicamente, se treina muito mais forte, os jogos são muito mais exigentes que no passado. Hoje o atleta tem que ser atleta profissional na concepção da palavra, não pode fugir, não tem como fugir, hoje o cara não aguenta ter duas vidas. Eu fui muito de balada para falar a verdade, só que eu guardei dinheiro, a diferença é essa. Eu fui muito de balada, resolvia os meus problemas dentro de campo também, mas guardei muito dinheiro”, recorda Guilherme.

“As minhas baladas não eram pesadas, mas ela atrapalhou porque eu tive que parar com 31 anos de idade, eu tinha muito ainda o que dar, mas eu não conseguia jogar em alto nível e eu não ia jogar tudo fora o que eu tinha conquistado. Eu tive que parar com 31 anos de idade, então atrapalhou. Eu nunca tive lesão, para falar a verdade eu tive muita sorte. Como eu não me cuidei, quando eu passei dos 30 anos eu comecei a ter lesão muscular e, ao invés de eu parar 15 dias, eu parava 30 dias. Aí eu decidi parar”, acrescenta o ex-atacante.

Para Guilherme, os jogadores, especialmente de hoje em dia, precisam deixar a noite de lado se quiserem ter sucesso na carreira, até pelo alto nível físico de exigência que existe em relação à época em que ele atuava.

“O que eu passo para eles é aproveitar o mais rápido possível a pouca idade, porque a idade vai passando e a carreira de jogador de futebol é curta. Eu parei de jogar com 31 anos de idade e tive sorte de jogar só em alto nível, três anos de Europa [Rayo Vallecano] e consegui fazer a minha vida. Eu não cheguei em alto nível ainda como treinador e trabalho com jogadores que estão com a vida não resolvida ainda, e alguns deles tomaram decisões erradas no meio do caminho que dá tempo ainda, mas que realmente precisa colocar a cabeça nas coisas boas, curtir a família, esquecer as baladas, esquecer a noite e focar no futebol porque o futebol é muito curto, e 90% dos atletas hoje, depois que param, não têm perfil pra seguir uma carreira que vai proporcionar a ele uma vida financeira”, analisa.

Carreira de técnico

Quando jogador, Guilherme já sabia que, a ideia após pendurar as chuteiras, era continuar no mundo do futebol. Mas não como técnico. O ex-atacante revela que a nova profissão não passava pela sua cabeça, muito menos pelas pessoas com quem convivia no esporte.

“Eu acho que todo mundo não imaginava, e agora que as coisas vêm acontecendo ainda bem, porque eu acho que tomei a decisão correta [risos]. Eu, na verdade, sempre pensei em continuar nas quatro linhas, essa situação de dirigente, empresário… Eu gosto muito do dia a dia, do ambiente, da adrenalina, dos jogos, então para mim não foi uma surpresa [ser treinador], foi para muitos, amigos, amigos repórteres, para o pessoal da imprensa, realmente assustou um pouco no início, mas eu tomei a decisão correta. A melhor decisão que eu tomei foi me preparar antes de iniciar a carreira, eu não tenho nada contra os atletas que param de jogar e se tornam treinador, eu acho que vão sofrer um pouco. Eu me preparei, eu procurei ficar quase cinco anos me preparando. Eu vejo hoje que eu tomei a decisão correta, eu tirei o CREF, congressos, estágios, trabalhei de auxiliar técnico, ou seja, percorri todo um caminho”.

Telê é inspiração

Com 14 anos de carreira como jogador, Guilherme foi comandado por muitos treinadores de nome, como Luxemburgo, Abel Braga, Levir Culpi e Felipão. Mas nenhum deles marcou tanto o ex-atacante como Telê Santana, com quem trabalhou na época do São Paulo, entre 1993 e 94. E, obviamente, o ex-técnico vem servindo de inspiração para Guilherme em sua nova ‘profissão’, que já conta com Ipatinga, Marília, Grêmio Novorizontino e Vila Nova no currículo.

“É difícil, sabe por quê? Eu trabalhei com muitos treinadores de nível muito bom: Telê, Luxemburgo, Abel Braga, Muricy, Levir Culpi, Felipão, fiz estágio com o Adilson Batista, Parreira foi o meu treinador, passei por quase todos na verdade, se for pegar os treinadores mais vitoriosos do Brasil… Logicamente que o Telê me marcou muito por ser o início da minha carreira, mas hoje não tem como eu visualizar muito aquilo que o Telê fazia porque o Telê era 50% parte técnica e 50% coletivo, e coletivo hoje não se faz mais, mas esta parte técnica do Telê eu ainda gosto, lembro muito e de todos os outros a gente vai tirando aquilo que você acha que é interessante para você no momento, isso que é importante, porque não adianta você ter passado por grandes treinadores há 15 anos atrás e tudo aquilo que ele pensava sobre futebol hoje já não existe mais. O futebol vem mudando muito e rapidamente você tem que estar atualizado, o futebol não é mais o mesmo, então os conceitos são outros. O que me chamava a atenção no Telê era a repetição, muita repetição de finalização, domínio, passe, ele treinava isso a exaustão, até mais que coletivo. A parte técnica era a que o Telê mais pegava com a gente, era realmente a parte técnica”.