Tudo porque exigiam dele um ingresso do setor visitante
A ideia era simples: aproveitar o passeio por Montevidéu, capital do Uruguai, para ver o decisivo jogo do São Paulo diante do Danubio, na noite desta quarta-feira, no acanhado Estádio Luiz Franzini. A experiência do aposentado José Rubens Curtt, 81 anos, no entanto, se mostrou um verdadeiro calvário para ver ao vivo a partida válida pela quinta rodada do Grupo 2 da Copa Libertadores da América.
Tudo porque o funcionário do hotel onde Curtt está hospedado comprou um ingresso de tribuna comum, ou seja, como se ele fosse um torcedor uruguaio. Sem falar espanhol, Curtt foi barrado em todos os portões que tentou ingressar para ver o jogo. Tudo porque exigiam dele um ingresso do setor visitante.
“Ele comprou para mim ingresso como se eu fosse uruguaio, e acabou me criando essa confusão toda”, explicou a reportagem do Terra , que flagrava mais uma tentativa frustrada do aposentado em ingressar no estádio. A questão é que, para os torcedores locais, o valor da entrada é de 180 pesos uruguaios (cerca de R$ 20). Só que para os brasileiros, este valor sobe para 800 pesos uruguaios – ou algo em torno de R$ 85.
“O sujeito comprou ingresso errado para mim e ainda querem que eu compre um outro caríssimo. Já estou cansado de andar e ninguém me dá uma solução”, confessou, cansado. A reportagem, então, argumentou com policiais uruguaios e funcionários do estádio pertencente ao Defensor Sporting que havia tudo sido um engano, mas que ele, por portar um ingresso, tinha direito de entrar no jogo.
Depois de muita insistência, eis que apontaram, então, um outro portão lateral onde Curtt, enfim, poderia entrar. “Só não vai gritar gol se o São Paulo marcar, por favor”, pediu um policial. “Esse cara só pode estar louco, nem tem torcida dos caras aqui direito”, disse, antes de finalmente acenar em agradecimento e entrar para ver a decisiva partida da libertadores. De fato, são pouquíssimos os torcedores do Danubio presentes – a equipe já está eliminada.
“São-paulino argentino”
Na entrada lateral reservada aos visitantes, alguns torcedores do São Paulo, vindos da capital paulista, se concentravam num bar antes da partida – a equipe tricolor briga diretamente com o San Lorenzo (ambos com seis pontos) pela segunda vaga do Grupo 2. O corinthians já está praticamente classificado.
No meio dos cerca de 30 torcedores, e do falatório em português, um torcedor com a camisa tricolor chamava a atenção com um espanhol impecável. “Estou morando em Buenos Aires há quatro anos”, explicou ao Terra Willian Teófico, funcionário de um free shop do aeroporto da capital argentina.
Há cinco anos ele se apaixonou, trabalhando num cruzeiro, por uma argentina. Mudou-se para Buenos Aires. Mas é aquela história: muda-se de país, mas não de sentimento, não de clube. “Não tenho muita oportunidade, então pedi uma folga e vim ver o jogo”, explicou Willian, que pegou um ferry boat de Buenos Aires e, cerca de duas horas depois, estava na capital uruguaia.
“Está faltando espírito de Libertadores para esse time”, confessou. “Mas apoiar o time nas horas boas, é muito fácil. Estou confiante na classificação”, disse, antes de pedir para Paulo Henrique Ganso “acordar de vez”, e para Alexandre Pato “melhorar as finalizações”. “Só não sei se vamos tão longe com esse time”.