‘O 6 a 1 é resultado dos últimos cinco anos’, diz Ceni
Mito lamenta mentalidade estagnada do São Paulo e faz comparações com o 7 a 1 da Alemanha
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Mito lamenta mentalidade estagnada do São Paulo e faz comparações com o 7 a 1 da Alemanha
Amesma lesão que frustra Rogério Ceni na reta final de sua carreira foi responsável por tirá-lo do último clássico do São Paulo contra o Corinthians . Mas enquanto tratava a ruptura do ligamento tíbio-fibular do tornozelo direito e o Tricolor sofria com os 6 a 1 em Itaquera, o goleiro diagnosticou o momento.
– O 6 a 1 não aconteceu naqueles 90 minutos. É algo que aconteceu nos últimos quatro, cinco anos, e que resultou naquele placar final da partida. Acho que o adversário vem crescendo nos últimos anos e a gente não conseguiu acompanhar esse crescimento, algo que o clube fez durante décadas – lamentou Ceni, em entrevista exclusiva ao LANCE!.
A posição do camisa 01 sobre a goleada para o Corinthians e o momento do Tricolor remete a uma declaração dada por ele em 2013. Logo após ser derrotado pelo mesmo rival na Recopa Sul-Americana, o ídolo decretou que o clube havia parado no tempo. Hoje, Ceni põe a mão na consciência e sabe que sua tese se confirmou com os recentes problemas políticos e financeiros.
– O São Paulo tem uma sala de imprensa nova, bacana, temos Cotia, o CT oferece a melhor condição para vocês (jornalistas) e para nós atletas. Quando eu falei naquela época sobre ter parado no tempo, não era no sentido físico ou de bem-feitoria, era sobre o modo de ver futebol . E acho que esse raciocínio defasado vem de um tempo atrás – diagnosticou.
Rogério disputou, em 22 temporadas como profissional, 67 clássicos contra o Corinthians. Ao tentar puxar na memória placares tão largos como o do dia 22 de novembro, recorda da vitória por 5 a 1 em 2005 e a derrota por 5 a 0, ambas no Pacaembu. E embora tenha na ponta da língua as razões para o novo revés por goleada no Majestoso, Ceni não deixa de falar em “acidente“, mesmo em comparação ao que aconteceu com a Seleção Brasileira no ano passado.
– Talvez seja o nosso 7 a 1 de Copa do Mundo. Se você colocar para jogar mais dez vezes São Paulo e Corinthians, com os dois times completos, não se repetirá esse placar. Joguei quase 70 vezes contra o Corinthians. Lembro de ter ganhado uma de cinco e perdido uma de cinco. Mas é como o Brasil. A Seleção não tinha aquela diferença toda para a Alemanha tecnicamente. Acho que foi um acidente de percurso – ponderou.
Entre infelicidades e acidentes, o Mito seguiu defendendo seu raciocínio inicial, com o São Paulo estagnado no tempo. O massacre em Itaquera, para ele, nunca terá apagados os efeitos gerados na torcida, mas pode servir para impulsionar o clube. É com o aprendizado gerado pelos erros, mesmo que em um tratamento de choque, ajudará o Tricolor a retomar seus caminhos mais vitoriosos em campo.
– O resultado foi desastroso, ruim, péssimo, humilhante, vergonhoso, ou qualquer coisa que queiram classificar. E foi pior porque não pude estar com meus companheiros, então falar qualquer coisa seria muito fácil hoje. Só sei que é um momento em que também podemos tirar lições para voltar ao caminho das vitórias. Temos tudo para começar 2016 de uma maneira voltada para levar o São Paulo, não ao topo de cara, talvez, mas aos poucos – explicou.
Confira bate-papo com Rogério Ceni sobre a fase do São Paulo:
O que pode ser feito para que o São Paulo reencontre o caminho dos títulos?
O futebol brasileiro é puramente cíclico, diferente do futebol na Espanha com Real Madrid e Barcelona, salvo um Atletico de Madrid… Na Alemanha, é Bayern de Munique, raramente vai vir um Borussia Dortmund, Hertha Berlin… E aqui, não, o futebol é cíclico: o clube vive dois, três, quatro bons anos (gesticula com as mãos fazendo um gráfico de altos e baixos), ele tem essa curva. O São Paulo do início dos anos 1990, o Palmeiras no meio dos anos 1990, que acabou tendo também o Corinthians no fim, no começo dos anos 2000… O São Paulo volta em 2005, 2006, 2007, 2008, e agora tem o Corinthians no topo mais uma vez.
Há solução para que um clube siga em alta por mais tempo?
Um clube faz muito esforço para ir ao topo, mas chega uma hora que esgota. Ainda não conseguimos montar uma receita que faça ficar um tempo maior, com trabalho a longo prazo. O máximo que você suporta é um plano de quatro anos bons, cinco no máximo, a nível nacional ou continental, aí você tem uma caída. Tem de começar do zero, revelar jogador, contratar… É cíclico e acredito que o nosso ciclo se fechou em 2009, quando tivemos a chance de ganhar o quarto Brasileiro seguido, e aí veio o ciclo de baixa, como foi depois do período entre 1991 e 1994. Já 1995, 1996, 1997 foram desastrosos e clube demorou para fazer a curva. Ela vai acontecer, está chegando o momento para isso.
Como analisa o 6 a 1 para o Corinthians tecnicamente?
Foi um jogo atípico porque terminou 11 contra 11, sem nenhuma expulsão nossa e era o São Paulo que necessitava mais do resultado, muito mais do que o Corinthians, naquele momento já campeão. Isso fugiu da linha da normalidade e, em 30 anos, vai acontecer de novo, cinco para o São Paulo, cinco para o Corinthians. Esse foi realmente atípico, por tudo, sem nenhum episódio anormal. Foi um processo natural do jogo que levou à vitória deles.
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