Com baixo custo, brasileiros estão ‘fabricando’ bitcoins no Paraguai
Autoridades alertam para risco de bolha
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Autoridades alertam para risco de bolha
Ciudade Del Este, no Paraguai, é um dos locais onde brasileiros estão se instalando para fabricar a moeda bitcoin, segundo informa a Agência Estado. Conforme informações do jornal, em função do valor muito baixo da energia elétrica no país, várias pessoas estão se instalando por lá para produzir a criptomoeda, que vive um momento de frenesi.
A bitcoin é uma moeda que não existe no mundo físico, como as notas que carregamos na carteira. As transações não passam por bancos centrais nem por qualquer entidade regulatória. É tudo virtual. Por isso, a emissão de bitcoins é um processo industrial, de uso intensivo de energia elétrica, ainda não regulamentado em nenhum país.
Essa “produção” é feita por supercomputadores, equivalentes a seis videogames de última geração cada um, que realizam cálculos matemáticos de alta complexidade em milésimos de segundos. Juntas, as máquinas estão ligadas a uma espécie de rede paralela na web. Tudo isso foi desenvolvido em 2009 por um programador anônimo de computação.
Brasileiros
Um dos brasileiros descritos pela Agência Estado como um produtor de bitcoins é o cearense Rocelo Lopez, de 45 anos. Dono de uma empresa de tecnologia, ele aceitou, em 2013, a oferta de um cliente que queria quitar suas dívidas de uma forma nada convencional: pagaria tudo, mas com uma moeda até então desconhecida, a bitcoin. “Era pegar ou largar. Eu decidi pegar e guardar”, conta. De lá para cá, essa moeda teve uma valorização de 21.000%. Só nos últimos 12 meses, foram 1.300%.
Nenhum outro investimento formal conseguiu essa proeza, o que provocou um frenesi em torno da novidade por parte de investidores e levantou um alerta sobre o risco de uma bolha, por parte das autoridades monetárias.
Rocelo Lopez gostou da novidade e, ao tentar entender os meandros desse instrumento financeiro, descobriu que o dinheiro pesado viria não da compra e venda das moedas virtuais, mas da “produção” delas. É o que ele faz hoje no Paraguai. Lopez cruzou a Ponte da Amizade para reduzir custos, em busca de uma conta de luz mais barata, e acabou abrindo caminho para uma nova leva de jovens empresários brasileiros que atravessaram a fronteira para fabricar bitcoins.
Ele estabeleceu em seus códigos computadorizados que, a cada dez minutos, o software da bitcoin lança uma equação matemática diferente na internet. O computador que desvendar primeiro a fórmula é recompensado com um lote de preciosos 12,5 bitcoins.
Hoje, cerca de um milhão de máquinas funcionam ininterruptamente emitindo 3,6 mil novas unidades de bitcoins todos os dias e consumindo 30 terawatts por hora (Twh) de luz elétrica, mais do que um país como a Irlanda ou a Dinamarca. Segundo dados da empresa britânica Power Compare, o volume de eletricidade que já foi utilizado para colocar no mercado o estoque atual de bitcoins equivale ao consumo de 159 países por ano.
Custo operacional
Antonio Lin, dono de uma fábrica com 350 máquinas, conta que o custo operacional pode ser quase dez vezes mais baixo no Paraguai em comparação com o Brasil. “Uma máquina custa de US$ 2 mil a US$ 5 mil e, trabalhando, consegue se pagar em quatro meses, dependendo da cotação do dólar e do bitcoin. Mas a conta de luz, se for cara, coloca tudo a perder”, diz.
Um quilowatt custa para os fabricantes de bitcoin US$ 0,04 no país vizinho. No Brasil, o preço da energia mais barata é sete vezes maior, em torno de US$ 0,28. Essa diferença se dá porque o Paraguai ainda é superavitário em eletricidade.
Primeiro a se instalar em Ciudad del Este, Rocelo Lopez produz 8,3 bitcoins por dia, o que rende, segundo ele, um faturamento bruto de R$ 14,5 milhões por mês. Hoje ele tem seis mil máquinas em um espaço de 750 metros quadrados. Elas consomem, por mês, 10 megawatts de energia, equivalente a 2 mil casas paraguaias. “Apesar de ser um negócio rentável, a bitcoin é uma moeda volátil. Temos de economizar bastante para não correr o risco de perder dinheiro”, afirma. Antes do Natal, em 24 horas, a moeda sofreu uma desvalorização de 25%, com uma onda inesperada de vendas.
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