70% dos alimentos no país estão contaminados, diz relatório

Com alto consumo de defensivos, o Brasil é considerado uma “lixeira tóxica” na produção de alimentos, segundo especialistas. Dos 50 defensivos mais utilizados no país, 22 são proibidos na Europa. A utilização de defensivos agrícolas foi tema de palestra no auditório do MPT (Ministério Público do Trabalho), em Campo Grande na quinta-feira (3). O problema em Mato Grosso do Sul é que a fronteira seca com o Paraguai facilita o contrabando de defensivos.

Dados do ‘Dossiê Abrasco – Alerta sobre impactos dos agrotóxicos na saúde', lançado no evento, mostram que 70% dos alimentos no país estão contaminados por agrotóxicos. A data do evento não foi escolhida atoa. Ontem foi o Dia Mundial de Combate aos Agrotóxicos.

A publicação, que reúne estudos científicos sobre o uso indiscriminado de agrotóxicos no Brasil, traz dados alarmantes sobre os efeitos do uso de biocidas na saúde humana e no meio ambiente. Entre 2007 e 2014, foram mais de 34 mil notificações por intoxicação nos hospitais públicos e, de 2000 a 2012, o uso de agrotóxicos cresceu 288% no Brasil.

“Câncer, suicídio, intoxicações, são muitos os danos já identificados em pesquisas pelo consumo e contato com agrotóxicos. A grande dificuldade é provar o nexo causal, já que as consequências do uso indiscriminado de defensivos surgem 10, 20 anos após a exposição dos trabalhadores”, disse Cléber Folgado, da Universidade Estadual de Feira de Santana, na Bahia.

Segundo os palestrantes, em Mato Grosso do Sul a maior dificuldade em barrar o uso de defensivos está na fronteira seca com o Paraguai, onde ocorre o comércio ilegal. Os produtos contrabandeados, mais baratos, podem ser ainda mais prejudicais.Fronteira com Paraguai facilita contrabando de agrotóxicos em MS

A situação é agravada pelo despreparo dos profissionais de saúde em identificar a correlação entre as doenças e o uso dos agrotóxicos, o que dificulta o dimensionamento dos impactos.

Na visão do pesquisador Cléber Folgado, o produz mercadorias, enquanto a agroecologia põe comida na mesa. “Não é preciso de agrotóxicos para produzir comida. Há centenas de pessoas morrendo no campo sem saber o porquê”, disse ele.

Para o pesquisador da Embrapa Pantanal, Alberto Feiden, o quadro ainda pode ser mudado. “É uma falácia dizer que é impossível produzir alimentos sem produtos químicos. Há como substituir os agrotóxicos por sistemas de manejo, um resgaste de práticas tradicionais em prol do reequilíbrio do meio ambiente”, ressalta.

Apreensões 

No dia 11 de novembro, a PMA (Polícia Militar Ambiental) de Naviraí, cidade a 342 quilômetros de Campo Grande, apreendeu durante fiscalização nas proximidades da rodovia BR-163, uma carga de ilegal em um caminhão Mercedes Benz.Fronteira com Paraguai facilita contrabando de agrotóxicos em MS

O veículo transportava 200 litros de agrotóxico marca “Priori” (Ciproconazol + Azoxistrolbina) e mais 1.100 kg de agrotóxico da marca e de “Elatus” (Azoxitrobina + Bnzorindiflupir), além de 20 kg do agrotóxico da marca Aceheno, sem autorização ambiental.

No dia 2 de fevereiro, uma dupla foi presa transportando 22 quilos de agrotóxico de origem paraguaia. O herbicida e as munições foram encontrados em um fundo falso de uma S-10, com placa de Serranópolis (GO), e seriam levados para Jataí (GO). Pelo transporte eles receberia R$ 5 mil.

Além da apreensão por carga ilegal, sem nota, outro problema encontrado no Estado é a destinação ilegal de embalagens de agrotóxicos. Em 24 de fevereiro, um produtor foi autuado em uma penalidade administrativa de R$ 6 mil, além de responder por crime ambiental pela prática que violou o artigo 56 da Lei 9.605/1998 onde é previsto sanção a quem : produzir, processar, embalar, importar, exportar, comercializar, fornecer, transportar, armazenar, guardar, ter em depósito ou usar produto ou substância tóxica, perigosa ou nociva à saúde humana ou ao meio ambiente, em desacordo com as exigências estabelecidas em leis ou nos seus regulamentos.