Crescem recalls de veículos de luxo em 2015
Até fevereiro deste ano, de 15 campanhas para reparo desse gênero de veículos convocadas
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Até fevereiro deste ano, de 15 campanhas para reparo desse gênero de veículos convocadas
Os dois primeiros meses de 2015 já tiveram um número maior de veículos convocados para recalls em comparação com o mesmo período de 2014 – 69.161 ante 56.870. O destaque, no entanto, é o aumento do número de campanhas de carros importados de luxo, como os das marcas Chrysler, Mercedes-Benz e BMW: já foram sete este ano, o que representa 21% do total de veículos chamados. No mesmo período de 2014, Chrysler e Jaguar haviam feito duas campanhas. Os dados são do Procon-SP.
“Em grande parte, essa febre de recalls desde o ano passado foi influenciada pelo que aconteceu nos Estados Unidos, com os mega recalls de montadoras como a GM, de problemas que causaram várias mortes. O governo americano começou a pressionar as montadoras. Houve uma ‘over reaction’ do mercado”, explica o engenheiro mecânico Francisco Satkunas, conselheiro da SAE BRASIL.
Somente a Chrysler convocou três das 15 campanhas anunciadas este ano – todas incluíam o modelo Grand Cherokee. Duas foram para o modelo 2014 do carro, pela possibilidade de a central eletrônica do veículo não acionar a função adicional de controle de estabilidade do veículo durante curvas e desvios bruscos e pela possível falha no alerta visual e sonoro que avisa o condutor sobre a inoperância das lâmpadas traseiras. A outra, do modelo 2008, que incluía os modelos 300 C 2008, Town & Counstry 2008 a 2010 e Dodge Journey 2008, pela possibilidade de alteração da posição da chave de ignição durante a condução.
No total, foram 5.363 veículos afetados. Segundo o iCarros, o modelo mais simples do Grand Cherokee 2008 custa, em média, R$ 66.385. Já o modelo 2014, custa em torno de R$ R$ 209.774.
A Mercedes-Benz também já convocou duas campanhas este ano, que afetaram 6.349 veículos. Em janeiro, proprietários dos modelos Sprinter Chassi e Furgão, Sprinter Van de Passageiros e do utilitário esportivo GLK 220 foram chamados para o reparo da vedação do tensionador hidráulico da corrente de distribuição do motor. Já em fevereiro, os donos dos modelos Classe C (versão C200) foram convocados para a substituição das fivelas dos cintos de segurança localizados nos assentos central e lateral direito traseiros dos veículos. Os valores dos veículos ultrapassam os R$ 70 mil e podem chegar a a R$ 200 mil.
A BMW também teve de convocar o recall de 3.243 motos dos modelos S 1000 e K 1300 S, pela possibilidade do pneu dianteiro apresentar falhas na banda de rodagem e cintas. Os modelos podem custar mais de R$ 50 mil.
Já a Ford e a Volkswagen, mais populares no Brasil, também convocaram recalls de veículos mais caros, como a caminhonete Ranger e os modelos Jetta, Golf e Novo Fusca.
Para Satkunas, a adaptabilidade dos veículos a diferentes países é um fator que deve ser levado em consideração na análise dos números. “Na Europa, o ar condicionado não é usado frequentemente, como é usado aqui. A suspensão do carro não é feita para os terrenos irregulares que encontramos Brasil afora. As montadoras têm de adaptar os veículos”, explica.
Segundo o engenheiro, 70% dos recalls se referem a componentes que as montadoras compram de terceiros, 20% a problemas na montagem e 10% a problemas de projeto e engenharia. “Os fabricantes fazem a carroçaria, que não costuma ter recall, e compram peças de fornecedores, como pneus, vidros e amortecedores”, diz.
Foi o que aconteceu em 2014 quando montadoras como Toyota, Nissan e Honda tiveram de convocar recalls por causa dos defeitos nor airbags fornecidos pela Takata – a bolsa dianteira do lado do passageiro poderia ser deflagrada de maneira inadequada no caso de uma colisão frontal e causar danos materiais e de lesão física ao passageiro, além de, em casos remotos, incêndio, lesões graves e até fatais.
Recall de veículo importado não difere de nacional
José Jerônimo Nogueira de Lima, advogado da área contenciosa e consultiva no escritório Innocenti Advogados Associados, avalia que a legislação do recall de carros importados segue a mesma legislação dos carros nacionais. “O Código de Defesa do Consumidor prevê uma aplicação igual para ambos. O recall é obrigatório nos casos de risco à saude e segurança do consumidor”, explica.
De acordo com o advogado, a montadora deve comunicar os sistemas de proteção ao consumidor, como Ministério da Justiça e Procon, e fazer ampla divulgação nos meios de comunicação, com informes publicitários em rádio e televisão”, diz.
Coordenadora institucional da Proteste Associação de Consumidores, Maria Inês Dolci acredita que a responsabilidade é também do importador do produto. “Só é complicado se o consumidor fez a importação direta, caso em que terá que procurar o fornecedor no exterior para o reparo”, conta.
O problema é que, segundo Satkunas, o índice de retorno das campanhas de recall é de 56%, ou seja, de cada 100 donos de veículos convocados, apenas 56 levam o carro para reparo. “A cada mil carros que precisam de conserto, 440 continuam na rua. Se você pensar no acumulado, são muitos carros que têm risco de apresentar defeitos”, afirma.
O outro lado
Em nota, a Mercedes-Benz afirmou que essas campanhas estão relacionadas ao amadurecimento da indústria e da legislação brasileira. Para a empresa, um recall não representa uma ação negativa à imagem da marca, mas sim uma preocupação ainda maior dos fabricantes e dos seus fornecedores com a segurança do consumidor final. “Além disso, leis mais rígidas também estão contribuindo para essa relação transparente entre as empresas e o público”, afirmou a montadora.
A Chrysler, em seus comunicados de recall, diz que visa a assegurar a satisfação de seus clientes, garantindo a qualidade, asegurança e a confiabilidade dos veículos da marca.
Já a BMW, procurada, não se posicionou até o fechamento desta matéria.
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