Preços da carne de frango e do ovo disparam em Campo Grande: ‘o jeito é comer menos’
Diante da disparada, campo-grandenses estão repensando o consumo de aves
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Os preços da carne de frango e do ovo iniciaram o ano de 2022 em viés de alta e sem a possibilidade de queda. Pelo menos é o que aponta o Cepea (Centro de Estudos de Economia Aplicada), da USP (Universidade de São Paulo). Em menos de dois meses, o quilo do frango subiu mais de 10% e a caixa com 30 ovos está 13,1% mais cara no tipo branco e 13,4% no tipo vermelho. A explicação é que o consumo no Brasil por carne de frango explodiu, junto com a alternativa do ovo frito ou cozido.
De acordo com pesquisadores do Cepea, o frango virou o maior competidor da carne bovina no mercado doméstico, o que tem elevado as demandas em todo o Brasil. Aliado a este fator, há a questão das exportações — que também batem recordes sequenciais. Os números liberados pelo Cepea mostram que o Brasil tem exportado 18,1 mil toneladas de frango por dia, ou seja, esse volume sequer chega ao mercado nacional, ou interno. Os produtores de carne frango estão preferindo vender em dólar ou em euros e o que fica para os 26 Estados e Distrito Federal se transforma numa disputa acirrada pelos consumidores.
Nos primeiros 40 dias de 2022, as exportações de frango têm dois números distintos: a média deste mês está 19,6% superior em relação a janeiro e 0,6% mais elevada que o mesmo período do ano passado. Por todo o país, produtores de frango têm reclamado da alta dos preços dos insumos. Soja e milho — as duas maiores commodities de grãos do Brasil — são a base da alimentação da maior parte dos rebanhos brasileiros, sejam eles bovinos ou suínos. Com a avicultura não é diferente. O resultado é o quilo do frango congelado chegando aos mercados ao preço de R$ 5,99 e o do frango resfriado a R$ 6,34. Nos mercados, esses valores são acrescidos pelo custo do frete rodoviário e as despesas de energia com o armazenamento do produto. O consumidor final dificilmente compra o quilo de frango com um valor inferior a R$ 10.
No caso dos ovos, os pesquisadores do Cepea deixaram claro que os preços subiram “com força”. E os motivos das elevações de preços são os mesmos: alta do custo de produção, encarecimento dos insumos de alimentação, disparada dos combustíveis, além dos gastos de energia com o armazenamento do produto. Entre 27 de janeiro e 3 de fevereiro, o preço da caixa com 30 dúzias de ovos brancos tipo extra registrou alta de 11%, fechando a R$ 124,43. Para o produto vermelho, as cotações subiram com ainda mais intensidade: 13,8%, ou seja, para R$ 143,44 a caixa com 30 dúzias.
Somente nos três primeiros dias de fevereiro, a média mensal parcial dos preços no País já era 13,1% maior que a de janeiro para o ovo branco e 19,4% superior para o vermelho. De acordo com colaboradores do Cepea, a expectativa é de que os preços continuem firmes nos próximos dias, devido à oferta enxuta de ovos e ao possível aumento das vendas com o retorno das aulas e o pagamento dos salários de grande parte da população. Além disso, vale lembrar que o custo de produção dos ovos segue em alta — fator que também corrobora para reajustes positivos nas cotações da proteína.
Nos mercados de Campo Grande, a população sente a alta de preços no bolso
Em Campo Grande, a comerciante Sandra Valéria de Souza, de 34 anos, sabe muito bem o que está acontecendo. Ela tem um comércio na avenida Brilhante e deixou claro que nas últimas três semanas o preço do ovo aumentou três vezes. “A caixa com 30 ovos do tipo A, o mais consumido no Brasil, vai aumentar de R$ 13, para R$ 17 ainda esta semana. Eu já estou comprando mais caro e muitas vezes seguro o preço para não perder fregueses, mas desta vez não vai dar. Os criadores de frango estão comprando as sacas de soja e milho mais caras. A galinha precisa comer para melhorar a carne e também para chocar os ovos. A saca de soja, por exemplo, já está sendo vendida a R$ 204 no mercado interno. O frango come farelo de soja e de milho”, detalhou Sandra.
A aposentada Teresa Miranda, de 74 anos, lamenta que o consumidor não tenha muito o que fazer diante desta realidade cada vez mais complicada para se alimentar. Ela confessa que a única maneira é comer menos. “Estava comprando o quilo de frango a R$ 10. Passou para R$ 11 e agora está em R$ 11,34. Está aumentando toda semana. Eu sempre comprava três quilos e agora só compro dois”, lamentou dona Teresa.
Já a camareira Laura Spíndola, de 40 anos, disse que tem “se virado” no acompanhamento das promoções nos supermercados. “Tenho que passar nos supermercados todos os dias e comprar o que está na promoção. O salário é praticamente para se alimentar. As coisas estão caras e a gente vai fazendo o que pode”, disse Laura. Paralelo a tudo isso, o Brasil bateu recorde nas exportações de frango ano passado. Em cifras, foram US$ 604,8 milhões — alta de 42,8%. O preço da carne de frango no mercado internacional se valorizou em 18,8% e o volume das exportações cresceu 20,2%.
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