Preço do leite dispara nas prateleiras e muda hábitos dos campo-grandenses: ‘fora da lista de compras’
Nas prateleiras, valor do litro chega a R$ 3,99 quando está na promoção
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Produtores de leite respiram mais aliviados com a alta de 1,4% — na média nacional — do preço pago pela indústria alimentícia. O motivo: a pecuária leiteira foi um dos setores mais afetados por fatores climáticos que fizeram subir o valor dos insumos, principalmente no período entre setembro e dezembro do ano passado. O cálculo foi feito pelos técnicos do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz) da Universidade de São Paulo.
De acordo com a nota técnica do Cepea, o declínio do consumo por produtos lácteos vinha ditando os movimentos de precificação de toda a cadeia produtiva, principalmente no último trimestre de 2021. Essa desvalorização derrubou a produção que, em conjunto com fatores climáticos — que fizeram subir o preço do insumo pago pelos produtores rurais —, limitaram a produção. O resultado: produção em baixa, preço em alta. Os produtores reclamam que a elevação do preço da saca de 60 kg de milho, que compõe a alimentação do gado bovino destinado à pecuária leiteira, provocou a elevação nos custos, que, de praxe, acabam desembocando nas prateleiras dos supermercados, fazendo o consumidor pagar a conta final.
E não deu outra. Em Campo Grande, por exemplo, consumidores informaram que não apenas sentiram o encarecimento do preço do litro de leite, mas de todos os produtos lácteos, como manteiga, queijo e iogurtes. A cuidadora de idosos Eliane Gomes, 51, sentiu a alta de preços e disparou: “está tudo muito caro. Está cada vez mais difícil viver”. Para a diarista Márcia Cristine, 48, o orçamento “apertado” está obrigando o brasileiro a mudar o consumo dos alimentos. “Já me assustei com os preços e a alternativa foi a retirada do produto da minha lista de compras”, lamentou.
O produtor rural está vendendo o leite a R$ 2,13. Nos supermercados, os valores são quase 100% mais elevados, em média. De acordo com Francisco Carlos Cruz, gerente de supermercado, não só o leite, mas todos os seus derivados ficaram mais caros. “Chegou em um ponto que não conseguimos mais segurar o preço e tivemos que repassar a alta para o consumidor final”, admitiu o gerente. Em outro mercado da cidade, Wesley Bezerra foi mais enfático e disse que o preço do litro de leite em caixa, do mais barato, aumentou de R$ 3,59, para R$ 3,99 — uma alta de 11%. Ele disse, ainda, que as chances de outro reajuste nos preços não estão descartadas.
Consumidores e produtores rurais reclamando da safra e os insumos seguem em alta. De acordo com o Cepea, além dos fatores climáticos, como o fenômeno “La Niña”, que provocam chuvas intensas no sudeste e estiagem no sul, a qualidade das pastagens e silagem caiu, elevando os preços dos insumos. Pelo cálculo do Cepea, em dezembro eram necessários 41,5 litros de leite para adquirir uma saca de 60 kg de milho. Em janeiro, o pecuarista precisou de, em média, 45,5 litros para a mesma compra. Isso significou uma redução de 9,7% no poder de compra do pecuarista de um mês para o outro. Para piorar, os preços de outros insumos, como suplementos minerais, antibióticos, adubos e corretivos, continuaram subindo, corroendo a margem do produtor de leite.
Apesar da fragilidade da demanda por lácteos, a oferta limitada no campo levou os laticínios a acirrarem a disputa pela compra de matéria-prima durante janeiro e fevereiro. Pelo acompanhamento do Cepea do mercado spot (leite negociado entre indústrias) mostra que, em Minas Gerais, o preço médio do leite spot saltou de R$ 2,05/litro na primeira quinzena de janeiro para R$ 2,43/litro na segunda metade de fevereiro, resultando em uma valorização de 18% no período. Com matéria-prima mais cara, as indústrias vêm forçando o repasse da alta no campo para o preço dos derivados desde a segunda quinzena de janeiro. A diminuição das importações nos últimos meses e o aumento das exportações de leite em pó em janeiro colaboraram para o controle dos estoques, o que elevou o poder de negociação das indústrias frente aos canais de distribuição.
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